Qual é o objetivo desta revisão?
Descobrir se a disponibilização da alta precoce para hospitalização domiciliária melhora os resultados de saúde do doente e reduz os custos para o serviço de saúde, em comparação com os cuidados intra-hospitalares.
Mensagens-chave
Em comparação com os cuidados intra-hospitalares, a alta precoce para hospitalização domiciliária provavelmente faz pouca ou nenhuma diferença nos resultados de saúde do doente ou ser readmitido no hospital, e provavelmente reduz a duração do internamento e a possibilidade de ser admitido numa instituição como um lar para idosos. Os doentes que recebem cuidados em casa podem ficar mais satisfeitos com os cuidados recebidos. O efeito nos custos dos serviços de saúde é incerto.
O que foi estudado nesta revisão?
Uma forma de lidar com a procura de camas hospitalares é reduzir a duração do internamento hospitalar, dando alta às pessoas mais cedo para receberem cuidados de saúde em casa. Revimos sistematicamente a literatura sobre o efeito da prestação de serviços a alta precoce para hospitalização domiciliária. Estes serviços são geralmente prestados por uma equipa de profissionais de saúde, tais como médicos, enfermeiros e fisioterapeutas. A equipa visita as pessoas que tiveram alta precoce, em casa, para lhes prestar cuidados hospitalares agudos nas suas casas. Estávamos interessados em avaliar o impacto que a alta precoce para hospitalização domiciliária teve nos resultados de saúde dos doentes e nos custos dos serviços de saúde. Esta é uma atualização de uma revisão Cochrane
Quais são os principais resultados desta revisão?
Os autores da revisão encontraram 32 estudos, seis dos quais são novos para esta atualização. No total, 4746 pessoas de doze países participaram nesses estudos. A intervenção foi principalmente realizada por serviços hospitalares e serviços de base comunitária. A maioria dos estudos foi bem desenhada e realizada. Os estudos analisaram o efeito destes serviços em doentes com diferentes tipos de condições: doentes que tiveram um AVC, doentes idosos com diferentes tipos de condições médicas e doentes que foram operados. Em comparação com os cuidados intra-hospitalares, a alta precoce para hospitalização domiciliária provavelmente faz pouca ou nenhuma diferença nos resultados de saúde do doente ou ser readmitido no hospital, e provavelmente reduz a duração do internamento e a possibilidade de ser admitido numa instituição como um lar para idosos. Os doentes que recebem cuidados em casa podem ficar mais satisfeitos e ter menos probabilidades de serem admitidos em cuidados institucionais. Há pouca evidência da poupança de custos para o sistema de saúde ao dar alta precoce aos doentes para cuidados domiciliários.
Quão atualizada é esta revisão?
Os autores da revisão pesquisaram estudos que foram publicados até 9 de janeiro de 2017
Apesar do interesse crescente no potencial dos serviços de alta precoce para hospitalização domiciliária como alternativa menos dispendiosa aos cuidados hospitalares, esta revisão não disponibiliza evidência suficiente de benefícios económicos (através de uma redução da duração da hospitalização) ou de melhores resultados de saúde.
A hospitalização domiciliária é um serviço que disponibiliza tratamento ativo por profissionais de saúde em doentes em casa que apresentam uma condição que, de outro modo, exigiria tratamento agudo intra-hospitalar e sempre por um período de tempo limitado. Esta é uma atualização de uma revisão Cochrane
Determinar a efetividade e o custo da gestão de doentes com alta precoce em hospitalização domiciliaria, em comparação com os cuidados em internamento hospitalar.
Fizemos pesquisa nas seguintes bases de dados até 9 de janeiro 2017: The Cochrane Effective Practice and Organisation of Care (EPOC) Group Specialised Register, the Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), MEDLINE, EMBASE, CINAHL and EconLit Foi realizada pesquisa nos registos de ensaios clínicos.
Ensaios aleatorizados compararam a alta precoce para hospitalização domiciliária com os cuidados agudos hospitalares para adultos. Excluímos esquemas de cuidados hospitalares obstétricos, pediátricos e de saúde mental.
Seguimos os procedimentos metodológicos padrão da Cochrane e EPOC. Utilizámos o sistema GRADE para avaliar a certeza do conjunto de evidência para os resultados mais importantes.
Incluímos 32 ensaios (N = 4746), seis dos quais novos para esta atualização, realizados principalmente nos países mais desenvolvidos. Considerámos que a maioria dos estudos apresentava um risco baixo ou incerto de viés. A intervenção foi realizada por serviços hospitalares (17 ensaios), serviços comunitários (11 ensaios), e foi coordenada por uma equipa hospitalar de apoio a doentes com AVC ou médico em conjunto com serviços comunitários em quatro ensaios.
Estudos que recrutam pessoas em recuperação de AVC
A alta precoce para hospitalização domiciliária provavelmente faz pouca ou nenhuma diferença para a mortalidade aos três a seis meses (risco relativo (RR) 0.92, intervalo de confiança 95% (IC) 0.57 a 1.48, N = 1114, 11 ensaios, evidência moderada) e pode fazer pouca ou nenhuma diferença para o risco de readmissão hospitalar (RR 1.09, IC 95% 0.71 a 1.66, N = 345, 5 ensaios, evidência baixa). A hospitalização domiciliária pode reduzir o risco de estar em ambiente institucional aos seis meses (RR 0.63, 96% IC 0.40 a 0.98; N = 574, 4 ensaios, evidência baixa) e pode melhorar ligeiramente a satisfação do doente (N = 795,evidência baixa). A hospitalização domiciliária provavelmente reduz a duração da hospitalização, uma vez que com evidência moderada as pessoas em hospitalização domiciliária têm alta da intervenção cerca de sete dias mais cedo do que as pessoas que recebem cuidados hospitalares (95% IC 10.19 a 3.17 dias mais cedo, N = 528, 4 ensaios). É incerto que a hospitalização domiciliária tem efeito nos custos (evidência muito baixa).
Estudos recrutam pessoas com diversas de condições médicas
A alta hospitalar precoce em casa provavelmente faz pouca ou nenhuma diferença para a mortalidade (RR 1.07, 95% IC 0.76 a 1.49; N = 1247, 8 ensaios, evidência moderada). Em pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) não havia informação suficiente para determinar o efeito destas duas abordagens na mortalidade (RR 0.53, 95% IC 0.25 a 1.12, N = 496, 5 ensaios, evidência baixa). A intervenção provavelmente aumenta o risco de readmissão hospitalar em doentes com diversas condições médicas, embora os resultados também sejam compatíveis com nenhuma diferença e com um aumento relativamente grande do risco de readmissão (RR 1.25, 95% IC 0.98 a 1.58, N = 1276, 9 ensaios, evidência moderada). A alta precoce para hospitalização domiciliária pode diminuir o risco de readmissão de pessoas com DPOC (RR 0.86, 95% IC 0.66 a 1.13, N = 496, 5 ensaios com evidência baixa). A alta precoce para hospitalização domiciliária pode reduzir o risco de estar em ambiente institucional (RR 0.69, 0.48 a 0.99; N = 484, 3 ensaios, evidência baixa). A intervenção pode melhorar ligeiramente a satisfação do doente (N = 900, evidência baixa). O efeito da alta precoce para hospitalização domiciliária sobre o tempo de internamento dos doentes idosos mais velhos com diversas condições variou de uma redução de 20 dias a uma redução de menos de meio dia (evidência moderada, N = 767). É incerto que a hospitalização domiciliária tem efeito nos custos (evidência muito baixa).
Estudos recrutam pessoas em cirurgia eletiva
Três estudos não relataram taxas de mortalidade mais elevadas com hospitalização domiciliária em comparação com os cuidados hospitalares (dados não agrupados, N = 856, evidência muito baixa; principalmente cirurgia ortopédica). A hospitalização domiciliária pode levar a pouca ou nenhuma diferença na readmissão hospitalar de pessoas que estavam principalmente a recuperar de uma cirurgia ortopédica (N = 1229, evidência baixa). Não foi possível estabelecer os efeitos da hospitalização domiciliária sobre o risco de estar em cuidados institucionais, devido à falta de dados. A intervenção pode melhorar ligeiramente a satisfação do doente (N = 1229, evidência baixa). As pessoas que recuperavam de uma cirurgia ortopédica atribuída a alta precoce para hospitalização domiciliária tiveram alta da intervenção em média quatro dias antes do que as pessoas atribuídas aos cuidados habituais de internamento (4.44 dias antes, 95% IC 6.37 a 2.51 dias antes, N = 411, 4 ensaios,evidência moderada). É incerto que a hospitalização domiciliária tem efeito nos custos (evidência muito baixa).
Traduzido por: Adriana Henriques, Cristina Baixinho, Andreia Costa,Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), com o apoio da Cochrane Portugal.