Vitamina C para a prevenção e tratamento do resfriado comum

O resfriado comum é uma das principais causas de consultas médicas em países de alta renda e de absenteísmo no trabalho e na escola. Existem mais de 200 vírus que podem causar os sintomas comuns do resfriado, como coriza, congestão, espirros, dor de garganta, tosse e, às vezes, dor de cabeça, febre e olhos vermelhos. Os sintomas variam de pessoa para pessoa e de resfriado para resfriado. Como o resfriado comum geralmente é causado por um dos vírus respiratórios, os antibióticos são inúteis. Portanto, outras opções de tratamento em potencial são de grande interesse para a saúde pública.

A vitamina C tem sido proposta para o tratamento de infecções respiratórias desde que foi isolada na década de 1930. Ela tornou-se particularmente popular na década de 1970, quando o ganhador do Prêmio Nobel Linus Pauling concluiu a partir de ensaios clínicos controlados por placebo que a vitamina C preveniria e aliviaria o resfriado comum. Mais de duas dúzias de novos estudos foram realizados posteriormente. A vitamina C tem sido amplamente vendida e utilizada como agente preventivo e terapêutico.

Esta revisão é restrita a ensaios clínicos controlados por placebo que testaram 0,2 g/dia ou mais de vitamina C. Com base em 29 comparações de estudos envolvendo 11.306 participantes, a ingestão regular de vitamina C não teve efeito na incidência de resfriado comum na população comum. No entanto, baseado em 31 comparações de estudos com 9.745 episódios de resfriado comum, a suplementação regular teve um efeito modesto, mas consistente, na redução da duração dos sintomas de resfriado comum. Em cinco estudos, com 598 participantes expostos a curtos períodos de estresse físico extremo (incluindo maratonistas e esquiadores), a vitamina C reduziu pela metade o risco de resfriado comum. Os estudos publicados não relataram efeitos adversos da vitamina C.

Estudos de altas doses de vitamina C administradas terapeuticamente, começando após o início dos sintomas, não mostraram efeito consistente na duração ou gravidade dos sintomas do resfriado comum. No entanto, apenas alguns ensaios clínicos terapêuticos foram realizados e nenhum examinou crianças, embora o efeito da vitamina C profilática tenha sido maior em crianças. Um grande estudo com adultos relatou benefício de uma dose terapêutica de 8 g no início dos sintomas, e dois estudos terapêuticos usando suplementação de cinco dias relataram benefício. Mais ensaios clínicos são necessários para estabelecer o possível papel terapêutico da vitamina C, ou seja, a administração imediatamente após o início dos sintomas.

Conclusão dos autores: 

O fracasso da suplementação de vitamina C em reduzir a incidência de resfriados na população em geral indica que a suplementação rotineira de vitamina C não se justifica. Entretanto, a vitamina C pode ser útil para pessoas expostas a breves períodos de exercício físico intenso. Estudos mostraram que a suplementação regular de vitamina C reduz a duração dos resfriados. No entanto, isso não foi replicado nos poucos estudos terapêuticos realizados. No entanto, o efeito da vitamina C na duração e gravidade dos resfriados nos estudos de suplementação regular é consistente, o custo é baixo e a intervenção segura. Portanto, pode valer a pena que os pacientes com resfriado comum testem individualmente se a vitamina C terapêutica é benéfica para eles. Outros ECRs terapêuticos são justificados.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

O uso da vitamina C (ácido ascórbico) para a prevenção e tratamento do resfriado comum tem sido um assunto de controvérsia por 70 anos.

Objetivos: 

Avaliar se a vitamina C reduz a incidência, a duração ou a gravidade do resfriado comum, quando utilizada como suplementação diária e contínua (prevenção) ou como terapia após o início dos sintomas do resfriado (tratamento).

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: CENTRAL 2012, Issue 11, MEDLINE (1966 a 3 de novembro de 2012), EMBASE (1990 a novembro de 2012), CINAHL (janeiro de 2010 a novembro de 2012), LILACS (janeiro de 2010 a novembro de 2012) e Web of Science (janeiro de 2010 a novembro de 2012). Também fizemos buscas no U.S. National Institutes of Health trials register e WHO ICTRP em 29 de novembro de 2012.

Critério de seleção: 

Excluímos estudos que usaram menos de 0,2 g por dia de vitamina C e estudos sem comparação com placebo. Restringimos nossa revisão a ensaios clínicos controlados por placebo.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores, trabalhando de forma independente, extraíram os dados dos estudos incluídos. Avaliamos a 'incidência' de resfriados durante a suplementação regular como a proporção de participantes com um ou mais resfriados durante o período do estudo. 'Duração' foi o número médio de dias de doença dos episódios de resfriado.

Principais resultados: 

Vinte e nove comparações de estudos envolvendo 11.306 participantes contribuíram para a metanálise sobre o risco relativo (RR) de desenvolver um resfriado tomando vitamina C regularmente durante o período do estudo. Nos estudos gerais da comunidade envolvendo 10.708 participantes, o RR combinado foi de 0,97 (intervalo de confiança de 95% (IC) 0,94 a 1,00). Cinco estudos envolvendo um total de 598 maratonistas, esquiadores e soldados em exercícios subárticos produziram um RR combinado de 0,48 (IC 95% 0,35 a 0,64).

Trinta e uma comparações avaliaram o efeito da vitamina C regular na duração do resfriado comum (9.745 episódios). Em adultos, a duração dos resfriados foi reduzida em 8% (3% a 12%) e em crianças em 14% (7% a 21%). Em crianças, 1 a 2 g/dia de vitamina C reduziu os resfriados em 18%. A gravidade dos resfriados também foi reduzida pela administração regular de vitamina C.

Sete comparações avaliaram o efeito da vitamina C terapêutica (3.249 episódios). Nenhum efeito consistente da vitamina C foi observado na duração ou gravidade dos resfriados nos estudos terapêuticos.

A maioria dos estudos incluídos foram randomizados e duplo-cegos. A exclusão de estudos que não foram randomizados ou não duplo-cegos não teve efeito nas conclusões.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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