Contexto
Os corticóides (glucocorticosteróides) são amplamente utilizados para tratar inflamação. A perda óssea (osteoporose) e as fraturas da coluna vertebral são efeitos colaterais graves desta terapia. Os bisfosfonatos são considerados um tratamento de primeira linha para a osteoporose e têm sido usados desde a década de 1990.
Métodos
Examinámos os estudos publicadas até abril de 2016 e encontrámos um total de 27 ensaios elegíveis, que incluíram 3075 adultos com doenças inflamatórias com necessidade de tratamento com corticoesteróides por, pelo menos, um ano. Os participantes foram aleatoriamente designados para receber qualquer tratamento com bifosfonatos (isoladamente, associado a cálcio ou vitamina D ou ambos) ou 'nenhum tratamento' ( cálcio, vitamina D ou um placebo). Os nossos objetivos foram determinar os benefícios e malefícios do tratamento com bisfosfonatos em adultos submetidos a terapêutica com corticoesteróides a longo prazo.
Resultados principais
Fraturas da coluna vertebral de novo (12 a 24 meses)
Encontraram-se 12 ensaios que incluíam um total de 1343 pessoas para esta análise. Observou-se que 77 em cada 1000 pessoas sem tratamento sofreram uma nova fratura vertebral em comparação com 44 em cada 1000 (intervalo 27-70) pessoas sob tratamento com bifosfonatos. Trata-se de um benefício absoluto de 2% menos participantes (5% a menos para 1% mais) a sofrer uma nova fratura da coluna vertebral quando sob tratamento com bifosfonatos.
Cerca de 31 pessoas (intervalo 20-145) precisam de ser tratadas com bisfosfonatos para evitar fraturas da coluna vertebral em uma pessoa.
Fraturas não-vertebrais de novo (12 a 24 meses)
Encontraram-se nove ensaios com 1245 pessoas para esta análise. Observou-se que 55 em 1000 pessoas sem tratamento sofreram novas fraturas não-vertebrais, em comparação com 42 por 1000 (intervalo 25-69) pessoas a tomar bifosfonatos. Trata-se de um benefício absoluto de 1% menos pessoas (4% a menos para 1% mais) a sofrer fraturas não-vertebrais quando se encontram a tomar bifosfonatos.
Densidade mineral óssea (DMO) da coluna lombar aos 12 meses
Encontraram-se 23 ensaios que incluíam um total de 2042 pessoas para estudar este desfecho. Observou-se que a DMO da coluna lombar de pessoas sob tratamento com bifosfonatos era 3,5 % mais elevada (2,90% a 4,10%) do que em pessoas que não foram submetidas a nenhum tratamento
Aproximadamente três pessoas (intervalo 2-3) precisam de ser tratadas com bifosfonatos durante 12 meses para uma pessoa ver uma diferença minimamente significativa na DMO na coluna lombar.
DMO do colo do fêmur (parte superior do osso da coxa) em 12 meses
Encontraram-se 18 ensaios com um total de 1665 pessoas para estudar este desfecho. Identificou-se que a DMO do colo do fêmur foi 2,06% mais elevada no grupo a fazer tratamento com bifosfonatos (1.45 a 2.68% mais) do que no grupo sem tratamento.
Aproximadamente cinco pessoas (intervalo 4-7) precisam de ser tratadas com bifosfonatos durante 12 meses para uma pessoa ver uma diferença minimamente significativa da DMO no colo do fêmur.
Eventos adversos graves (exigindo hospitalizações ou situações ameaçadoras de vida ou fatais)
Encontraram-se 15 ensaios com um total de 1703 pessoas para estudar este desfecho. Identificámos que 162 em cada 1000 pessoas sem tratamento experimentaram efeitos adversos graves em comparação com 147 em cada 1000 (intervalo 120-181) pessoas que estavam a tomar bifosfonatos. Trata-se de um aumento absoluto do risco de efeitos adversos de 0% (2% a menos para mais 2%) no tratamento com bifosfonatos.
Exclusão do estudo devido a eventos adversos
Encontraram-se 15 ensaios com um total de 1790 pessoas para estudar este desfecho. . Identificámos que 73 em cada 1000 participantes do grupo 'sem tratamento' foram retirados do estudo em comparação com 77 em cada 1000 (intervalo 56-107) participantes no grupo dos bifosfonatos. Trata-se de um aumento absoluto de 1% do risco de ser retirado de um estudo devido aos efeitos adversos (1% a menos para 3% mais) no grupo dos bifosfonatos.
Conclusões dos autores
Baseados em evidências de moderada a alta qualidade, concluímos que os bifosfonatos são benéficos na prevenção de novas fraturas da coluna vertebral e a prevenir e tratar a perda óssea induzida por corticoesteróides na coluna lombar e colo do fêmur. Para a prevenção de fraturas não-vertebrais, considerámos que se encontrou pouca ou nenhuma diferença entre os participantes que utilizaram os bifosfonatos ou não, embora esta evidência seja de baixa qualidade porque os métodos usados para avaliar fraturas não-vertebrais foram enviesados.
Concluímos que havia pouca ou nenhuma diferença no número de eventos adversos graves ou exclusão do estudo devido a eventos adversos quando comparando os bifosfonatos com nenhum tratamento. As evidências para estes desfechos foram de baixa qualidade e somos cuidadosos nas conclusões sobre os malefícios dos bifosfonatos, baseadas apenas nestes indicadores.
Em geral, a nossa revisão suporta o uso de bifosfonatos para reduzir o risco de fraturas da coluna vertebral e na prevenção e tratamento da perda óssea induzida por corticoesteróides.
Tradução por: Catarina Reis de Carvalho, Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal