Questão de revisão
Nós revisamos a evidência sobre os efeitos dos corticoesteróides sobre a recuperação visual das pessoas com neurite óptica aguda.
Introdução
Neurite óptica é uma inflamação do nervo óptico que leva a perda súbita de visão que ocorre ao longo de várias horas ou dias. O nervo óptico, que entra na parte posterior do olho, transposta informações visuais do olho para o cérebro. Quando o nervo óptico torna-se inflamado, danos podem ocorrer. Esta informação do olho para o cérebro é interrompida, resultando em perda visual temporária ou permanente. Neurite óptica está intimamente ligada å esclerose múltipla (EM), uma doença inflamatória que afeta células nervosas em geral. Corticoesteróides têm sido amplamente utilizados no tratamento da neurite óptica devido aos seus efeitos anti-inflamatórios.
Características do estudo
Para esta revisão sistemática, foram identificados seis ensaios clínicos realizados na Dinamarca, Alemanha, Índia, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, os quais incluíram 750 participantes. Estes ensaios clínicos compararam o tratamento com corticoesteróides com placebo ou outro tratamento; eles variaram da maneira de como os corticoesteróides foram dados e a dose. Dois ensaios clínicos compararam corticoesteróides orais versus placebo; três ensaios clínicos compararam corticoesteróides intravenosos versus placebo; um ensaio clínico comparou dois tipos de corticoesteróides intravenosos; e um ensaio clínico com três grupos compararam corticoesteróides orais versus corticoesteróides intravenosos versus placebo. Participantes de todos os seis ensaios clínicos foram seguidos por pelo menos três meses. Os desfechos de acuidade visual, sensibilidade ao contraste dentro dos limites normais e campo visual foram avaliadas em 1, 6 e 12 meses. Qualidade de vida também foi avaliado e relatado em um ensaio. A informação é atualizada até 07 de Abril de 2015.
Resultados principais
Não houve nenhuma evidência disponível do efeito benéfico de corticoesteróides orais ou intravenosos comparado com placebo para a acuidade visual, campo visual e resultados de sensibilidade ao contraste. Efeitos adversos, embora não consistentemente relatados, incluíram sintomas dermatológicos, distúrbios endócrinos, problemas gastrointestinais, dor de cabeça, febre, perturbações do sono e problemas psiquiátricos. Eventos adversos graves foram relatados no grupo de tratamento com esteróides intravenoso de um ensaio clínico. Os investigadores de três ensaios clínicos concluíram que os efeitos adversos menores foram mais comuns em grupos de esteróides do que no grupo placebo.
Qualidade de evidência
Dos seis estudos incluídos nesta revisão, avaliamos um ensaio clínico tendo alto risco de viés devido à inclusão de um subconjunto de participantes que foram autorizados a escolher a sua intervenção. Os restantes cinco ensaios foram de risco baixo ou incerto de viés.
Não há evidências conclusivas de benefício em termos de recuperação para a acuidade visual normal, campo visual ou sensibilidade ao contraste de seis meses após o início com corticosteróides, quer intravenosa ou oral, nas doses avaliadas em ensaios incluídos nesta revisão.
Neurite óptica é uma doença inflamatória do nervo óptico. Geralmente se apresenta com uma perda abrupta de visão e a recuperação da visão quase nunca é completa. Ocorre mais comumente em mulheres do que em homens Intimamente ligada a sua patogênese, neurite óptica pode ser a manifestação inicial de esclerose múltipla. Em algumas pessoas, nenhuma causa subjacente pode ser encontrada.
O objetivo dessa revisão foi avaliar os efeitos dos corticosteroides na recuperação visual em olhos com neurite óptica aguda.
Buscamos no CENTRAL (o qual contém o Cochrane Eyes and Vision Group Trials Register) (The Cochrane Library 2015, Edição 4), MEDLINE (Janeiro 1950 a Abril de 2015), EMBASE (Janeiro de 1980 a Abril de 2015), Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS) (Janeiro de 1982 a Abril 2015), PubMed (Janeiro 1946 a Abril de 2015), o metaRegister of Controlled Trials (mRCT) (www.controlled-trials.com), ClinicalTrials.gov (www.clinicaltrials.gov), e a World Health Organization (WHO) International Clinical Trials Registry Platform (ICTRP) (www.who.int/ictrp/search/en). Não houve restrições de data ou idioma nas buscas eletrônicas para os ensaios clínicos. A metaRegister of Controlled Trials (mRCT) foi buscada por último em 6 de Março de 2014. A base de dados eletrônica foi buscada por último em 7 de Abril de 2015. Nós também buscamos em listas de referências dos relatórios de ensaios clínicos identificados para ensaios clínicos adicionais.
Foram incluídos ensaios clínicos controlados randomizados (ECCRs) que avaliaram corticosteróides sistémicos, sob qualquer forma, dose ou via de administração, em pessoas com neurite óptica aguda.
Nós usamos procedimentos metodológicos padrões esperados pela Cochrane.
Foram incluídos seis ECCRs em um total de 750 participantes. Cada ensaio clínico foi conduzido em um país diferente: Dinamarca, Alemanha, Índia, Japão, Reino Unido, e Estados Unidos. Adicionalmente, nós identificamos dois ensaios clínicos em andamento que não devem ser concluídos até 2016. Entre os seis ensaios clínicos incluídos nesta revisão, julgamos um para ser de alto risco de viés. Os restantes cinco ensaios clínicos foram julgados de risco baixo ou incerto de viés.
Cinco ensaios clínicos compararam apenas dois grupos de intervenção e um ensaio clínico teve uma comparação tripla de corticosteróides orais ou corticosteróides intravenosos com placebo. Dos cinco ensaios clínicos com apenas dois grupos de intervenção, dois ensaios clínicos compararam corticosteróides orais versus placebo, dois ensaios clínicos compararam corticosteróides intravenosos com placebo, e um ensaio clínico comparou dexametasona intravenosa com metilprednisolona intravenosa mais de prednisolona oral.
Três ensaios clínicos avaliaram os corticosteróides orais utilizados em diferentes doses versus placebo. Na meta-análise para avaliar a acuidade visual, a relação de risco (RR) foi de 1,00 (intervalo de confiança de 95% (IC) 0,82 a 1,23; participantes = 398) de um mês; 0,92 (IC 95% 0,77 a 1,11; participantes = 355) em seis meses; e 0,93 (IC 95% 0,70 a 1,24; participantes = 368) em um ano. Na meta-análise de dois ensaios clínicos que avaliaram os corticosteróides com dose total maior que 3000 mg administrados por via intravenosa, o RR da acuidade visual normal (definida como 20/20 Snellen fração ou equivalente) no grupo de corticosteróides intravenosos em comparação com o grupo placebo foi de 1,05 (IC 95% 0,88-1,26; participantes = 346) em seis meses. O RR de sensibilidade ao contraste na faixa normal para a mesma comparação foi 1,11 (IC 95% 0,92 a 1,33; participantes = 346) em seis meses de seguimento. O RR de campo visual normal para esta comparação foi 1,08 (IC 95% 0,96 a 1,21; 346 participantes) em seis meses; e 1,01 (IC 95% 0,86 a 1,19; participantes = 316) em um ano. Quatro ensaios clínicos relataram eventos adversos relacionados principalmente a sintomas gastrointestinais e distúrbios do sono; um estudo relatou efeitos adversos menores de acne.
Tradução da Unidade de Medicina Baseada em Evidências da Unesp, Brazil (Laryssa Kataki de Oliveira Veloso) Contato: portuguese.ebm.unit@gmail.com Translation notes: CD000000