Pergunta da revisão: O método canguru reduz a mortalidade e a morbidade dos bebês de baixo peso?
Introdução: O cuidado neonatal habitual para os recém- nascidos (RN) de baixo peso (aqueles que nascem com menos de 2.500 gramas) é caro e exige uma equipe de profissionais altamente capacitados e um suporte logístico permanente. O método canguru foi proposto como uma alternativa ao cuidado neonatal convencional para os RNs de baixo peso. O principal componente do método canguru é o contato pele a pele entre o bebê e a mãe. Os outros dois componentes são a amamentação materna exclusiva ou predominante e a alta hospitalar precoce.
Características do estudo: Fizemos buscas nas bases de dados em junho de 2016 e encontramos 21 estudos clínicos randomizados (com 3.042 recém-nascidos) que puderam ser incluídos nesta revisão.
Principais resultados: Quando comparado com o cuidado neonatal convencional, o método canguru diminuiu o risco de mortalidade na alta do bebê ou quando o bebê estava com 40-41 semanas de idade (contada a partir da última menstruação antes do nascimento) ou na última avaliação feita. Além disso, o método canguru também diminui o risco de o bebê ter infecção grave/sepse, infecção nosocomial/sepse, hipotermia, doença grave ameaçadora à vida e doenças do trato respiratório inferior. O método canguru também aumentou a taxa de aleitamento materno e o ganho de peso, de altura e do tamanho da cabeça (perímetro cefálico) do RN na alta ou quando ele estava com 40 a 41 semanas de idade a partir da última menstruação ou com um a três meses de vida. O método também aumentou a satisfação materna com o cuidado do recém-nascido e melhorou algumas medidas do vínculo mãe-bebê e do ambiente familiar. Não houve diferenças no desenvolvimento neurológico e neuro-sensorial dos bebês aos 12 meses de vida (idade corrigida para os bebês prematuros).
Qualidade da evidência: A qualidade das evidências para os desfechos mais importantes foi moderada.
Conclusões: O método canguru é uma alternativa efetiva e segura ao cuidado neonatal convencional para os RNs de baixo peso, especialmente nos países com poucos recursos.
As evidências desta revisão atualizada apoiam o uso do método canguru para os RNs de baixo peso como uma alternativa ao cuidado neonatal convencional, especialmente nos locais com recursos limitados. São necessários mais estudos sobre a efetividade e segurança do método canguru contínuo de início precoce em RNs instáveis ou relativamente estáveis. Também são necessários mais estudos quanto aos efeitos do método sobre o desenvolvimento neurológico dos RNs no longo prazo e os custos para o sistema de saúde.
O método canguru consiste no contato pele a pele entre a mãe e o recém-nascido (RN), amamentação frequente e exclusiva (ou quase exclusiva) e alta hospitalar precoce. Esse método tem sido proposto como uma alternativa ao cuidado neonatal convencional para os RNs de baixo peso.
Avaliar se as evidências apoiam o uso do método canguru em RNs de baixo peso como alternativa ao cuidado neonatal convencional, antes ou após um período inicial de estabilização clínica com cuidado neonatal convencional. Avaliar a efetividade e os eventos adversos desse método.
Usamos a estratégia de busca padronizada do grupo Cochrane Neonatal Review Group. Fizemos buscas nas seguintes bases de dados, desde seu início até 30 de junho 2016: CENTRAL (Cochrane Central Register of Controlled Trials; 2016, Issue 6), MEDLINE, Embase, CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature), LILACS (Latin American and Caribbean Health Science Information database) e POPLINE (Population Information Online). Também fizemos buscas na plataforma de registro de ensaios clínicos da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization Trial Registration Data Set) em 30 de junho de 2016. Além disso, fizemos buscas na página da internet da Kangaroo Foundation, em anais de conferências e simpósios sobre o método canguru, e no Google Acadêmico.
Selecionamos ensaios clínicos randomizados (ECR) que comparam o método canguru versus o cuidado neonatal convencional ou com o método canguru de início precoce versus tardio, em RNs de baixo peso.
Fizemos a coleta e análise dos dados seguindo os métodos do Cochrane Neonatal Review Group.
Um total de 21 estudos envolvendo 3.042 RNs preencheu os critérios de inclusão; 19 estudos avaliaram o método canguru em RNs de baixo peso após sua estabilização, 1 avaliou o método antes da estabilização e 1 estudo comparou o início precoce versus tardio do método em RNs de baixo peso relativamente estáveis. Dezesseis estudos avaliaram o método canguru usado de forma intermitente e cinco avaliaram a intervenção usada de forma contínua.
Método canguru versus cuidado neonatal convencional: nas avaliações feitas no momento da alta hospitalar ou quando o RN estava com 40 ou 41 semanas de idade pós-menstrual, o método canguru reduziu de forma significativa o risco de mortalidade (risco relativo [RR] 0,60, intervalo de confiança [IC] de 95%: 0,39 a 0,92; 8 ECRs, 1736 RNs), o risco de infecção nosocomial/sepse (RR 0.35, IC 95%: 0,22 a 0,54; 5 ECRs, 1239 RNs), e o risco de hipotermia (RR 0,28, IC 95% 0,16 a 0,49; 9 ECRs, 989 RNs; evidência de qualidade moderada). No último seguimento, o método canguru reduziu de forma significativa o risco de mortalidade (RR 0,67, IC 95% 0,48 a 0,95; 12 ECRs, 2293 RNs; evidência de qualidade moderada) e de infecção grave/sepse (RR 0,50, IC 95% 0,36 a 0,69; 8 ECRs, 1.463 RNs; evidência de qualidade moderada). Além disso, na última avaliação feita nos RNs, o método canguru aumentou o ganho de peso (diferença média [MD] 4,1 g/dia, IC 95% 2,3 a 5,9 g; 11 ECRs, 1.198 RNs; evidência de qualidade moderada), o ganho de altura (MD 0,21 cm/semana, IC 95% 0,03 a 0,38; 3 ECRs, 377 RNs) e da circunferência cefálica (MD 0,14 cm/semana, IC 95% 0,06 a 0,22; 4 ECRs, 495 RNs). O método canguru também aumentou a probabilidade de o RN estar em amamentação exclusiva na alta ou com 40-41 semanas de idade pós-menstrual (RR 1,16, IC 95% 1,07 a 1,25; 6 ECRs, 1453 mães) e no seguimento feito com 1 a 3 meses de vida (RR 1,20, IC 95% 1,01 a 1,43; 5 ECRs, 600 mães). O método canguru também aumentou a probabilidade de o RN estar sendo amamentado (de forma exclusiva ou parcial) na alta ou com 40 a 41 semanas de idade pós-menstrual (RR 1,20, IC 95% 1,07 a 1,34; 10 ECRs, 1.696 mães; evidência de qualidade moderada) e no seguimento feito com 1 a 3 meses de vida (RR 1,17, IC 95% 1,05 a 1,31; 9 ECRs, 1.394 mães; evidência de baixa qualidade), e ainda de aumentar os escores de algumas medidas de proximidade mãe-bebê e ambientais. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos (canguru e controle) quanto ao desenvolvimento psicomotor (avaliada pelo quociente Griffith) aos 12 meses de idade corrigida (evidência de baixa qualidade). As análises de sensibilidade sugerem que a inclusão dos estudos com alto risco de viés não afeta a direção geral dos resultados nem a estimativa do tamanho do efeito para os principais desfechos.
Método canguru de início precoce versus tardio em RNs relativamente estáveis: um ECR comparou o método canguru contínuo de início precoce (nas primeiras 24 horas após o nascimento) versus o método canguru contínuo de início tardio (depois de 24 horas do nascimento) em 73 RNs de baixo peso cujo estado clínico era relativamente estável. Os investigadores relataram que não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos quanto à mortalidade, morbidade, infecção grave, hipotermia, amamentação e outros indicadores. O método canguru de início precoce reduziu de forma significativa a duração da internação hospitalar (MD 0,9 dias, IC 95% 0,6 a 1,2).
Traduzido pelo Cochrane Brazil (Vinícius Lopes Braga). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br