Pergunta: Nós queríamos avaliar se o treinamento com esteira e o suporte do peso do corpo, individualmente ou em combinação, poderiam melhorar a caminhada quando comparados com outros treinamentos de marcha, placebo ou nenhum tratamento.
Introdução: Cerca de 60% das pessoas que tiveram derrame têm dificuldades para caminhar, e melhorar a capacidade de caminhar é um dos maiores objetivos da reabilitação. O treinamento em esteira, com ou sem o suporte do peso do corpo, utiliza equipamentos para auxiliar na caminhada.
Características do estudo: Nós identificamos 44 estudos relevantes, envolvendo 2.658 participantes, até junho de 2013. Vinte e dois estudos (1.588 participantes) compararam o treinamento com esteira com suporte do peso do corpo com outra intervenção de fisioterapia; 16 estudos (823 participantes) compararam o treinamento com esteira sem o suporte do peso do corpo com outra intervenção de fisioterapia, com nenhuma intervenção ou tratamento tipo sham (ou seja, um tratamento inativo usado como placebo); dois estudos (100 participantes) compararam o treinamento com esteira com suporte do peso do corpo com o treinamento com esteira sem o suporte; e quatro estudos (147 participantes) não relataram se utilizaram o suporte do peso do corpo ou não. A idade média dos participantes variou entre 50 e 75 anos, e os estudos foram realizados tanto em ambientes hospitalares ou ambulatoriais.
Resultados principais e qualidade da evidência: Os resultados desta revisão foram parcialmente conclusivos. O treinamento em esteira com ou sem suporte de peso corporal não melhorou de forma significativa a capacidade de deambulação independente de pessoas que tiveram um AVE. A qualidade desta evidência foi baixa. Entretanto, a velocidade da caminhada e a capacidade de caminhar podem melhorar em pessoas que fizeram o treinamento em esteira com ou sem suporte em comparação com as pessoas que não fizeram esse treinamento. A qualidade desta evidência foi moderada. As pessoas que tiveram um derrame e que ainda são capazes de andar parecem se beneficiar mais deste tipo de intervenção do que aquelas que não conseguiam caminhar sozinhas no início do tratamento. A revisão também concluiu que a melhora na resistência e na velocidade ao caminhar pode perdurar nas pessoas que já são capazes de andar sozinhas no início do tratamento. Entretanto, nossa revisão sugere que os pacientes após o derrame que não conseguem andar sem ajuda não se beneficiam do treinamento em esteira, com ou sem suporte. A taxa de eventos adversos ou de desistência dos participantes não foi diferente no grupo que fez o treinamento na esteira. A análise de subgrupo mostrou que o treinamento em esteira nos primeiros três meses após o derrame produz melhoras clínicas e estatísticas relevantes na velocidade e resistência do caminhar. Para as pessoas tratadas na fase crônica (mais de seis meses após o derrame), o efeito foi menor. O treinamento em esteira em maior frequência pode produzir maiores efeitos na velocidade e resistência da caminhada, mas isso não foi significante.
Na prática, o treinamento com esteira deve ser utilizado quando os pacientes de derrame são capazes de andar sem ajuda. Os terapeutas devem estar cientes de que o treinamento com esteira pode ser usado como uma opção, mas não como tratamento único para melhorar a velocidade e resistência da caminhada em pessoas que caminham sem ajuda. Parece que as pessoas que conseguem andar após o derrame, mas não aquelas que não conseguem, se beneficiam do treinamento com esteira (com ou sem suporte do corpo) para melhorar sua capacidade de caminhar. Pesquisas futuras devem investigar especificamente os efeitos das diferentes frequências, durações ou intensidades (aumento de velocidade e inclinação) do treinamento de esteira, assim como o uso de corrimãos. Estudos futuros devem incluir pessoas que já conseguem caminhar, mas não incluir as pessoas dependentes, que não conseguem caminhar sem auxílio.
Em geral, o treinamento em esteira com ou sem suporte de peso corporal não melhorou de forma significativa a capacidade de deambulação independente de pessoas que tiveram um AVE em comparação com pessoas pós AVE que não fizeram esse treinamento. Porém, o treinamento com esteira pode aumentar a velocidade da caminhada e a resistência. Os pacientes após AVE que são capazes de deambular (mas não os outros tipos de pacientes) parecem ser aqueles que mais se beneficiam com este tipo de intervenção. A revisão também concluiu que a melhora na resistência entre aqueles capazes de andar pode perdurar. Futuros estudos devem investigar especificamente os efeitos de diferentes frequências, duração e intensidade do treinamento na esteira (aumento de velocidade e inclinação) , assim como o uso de corrimãos, em pacientes capazes de deambular, mas não em pessoas dependentes para caminhar.
O treinamento em esteira, com ou sem suporte de peso corporal com amarras, é utilizado na reabilitação e pode ajudar o caminhar após um acidente vascular encefálico (AVE). Esta é uma atualização de uma revisão Cochrane publicada em 2005.
Avaliar se o treinamento em esteira e o suporte de peso corporal, usados de forma individual ou em conjunto, melhoram a habilidade de caminhar, a qualidade de vida, as atividades de vida diária, a dependência ou morte, a institucionalização ou morte, quando comparado com outras intervenções fisioterápicas de marcha após o AVE. O objetivo secundário foi avaliar a segurança e aceitabilidade desse método de treinamento de marcha.
Pesquisamos as seguintes bases de dados: Cochrane Stroke Group Trials Register (última busca em junho de 2013), a Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) e a base de dados ReviewsofEffects (DARE) (The Cochrane Library 2013 , Issue7), MEDLINE (desde 1966 até julho de 2013), EMBASE (desde 1980 até julho de 2013), CINAHL (desde 1982 até junho de 2013), AMED (desde 1985 até julho de 2013) e SPORTDiscus (desde 1949 até junho de 2013). Nós também fizemos buscas manuais nos anais de congresso, pesquisamos plataformas de registros de ensaios clínicos e de protocolos de pesquisas. Verificamos as listas de referências dos estudos selecionados e entramos em contato com pesquisadores para identificar novos estudos.
Selecionamos ensaios clínicos randomizados, ou quasi-randomizados e estudos tipo cross-over sobre treinamento em esteira e suporte de peso corporal, individualmente ou em combinação, para o tratamento da caminhada após o AVE.
Dois autores selecionaram de maneira independente os estudos, extraíram os dados e verificaram a qualidade metodológica. Os desfechos primários investigados eram a velocidade da caminhada, a resistência e a dependência.
Nós incluímos 44 estudos com 2.658 participantes nesta atualização. Em geral, o treinamento com esteira com suporte do peso corporal não aumentou as chances de caminhar com independência comparado com as outras intervenções de fisioterapia (diferença de risco, DR, -0,00, intervalo de confiança de 95%, 95% CI, -0,02 – 0,02; P = 0,94; I² = 0%). Em geral, o treinamento com esteira com suporte de peso corporal na reabilitação da caminhada para pacientes após AVE aumentou significativamente a velocidade e a resistência da caminhada. A diferença média combinada (DM; modelo de efeito randômico) para a velocidade da caminhada foi de 0.07 m/s (95% CI 0,01 – 0,12; P = 0,02; I² = 57%) e a DM combinada para a resistência foi 26.35 metros (95% CI 2,51 – 50,19; P = 0,03; I² = 60%). Porém, em geral, o treinamento com esteira e suporte de peso corporal na reabilitação após AVE não aumentou significativamente a velocidade e a resistência da caminhada ao final do período de seguimento preestabelecido. A DM combinada para velocidade de caminhada foi 0,04 m/s (95% CI -0,06 – 0,14; P = 0,40; I² = 40%) e a DM combinadapara a resistência foi de 32.36 metros (95% CI -3,10 – 67,81; P = 0,07; I² = 63%). Entretanto, para os pacientes capazes de deambular , a melhora da resistência durou até o fim do período de seguimento preestabelecido (DM 58,88 metros, 95% CI 29,10 a 88,6; P = 0,0001; I² = 0%). A taxa de eventos adversos ou de desistência dos participantes não foi diferente no grupo que fez o treinamento de esteira, e os eventos adversos não foram considerados clinicamente relevantes.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Maíra T. Parra).