Este resumo de uma revisão sistemática Cochrane apresenta o que se conhece sobre os efeitos de remédios fitoterápicos (à base de ervas) para a artrite reumatoide.
A revisão mostra que, nas pessoas com artrite reumatoide:
- O uso de óleo de prímula, de semente de borragem ou de semente de amora preta (contendo ácido gamalinoléico, GLA) provavelmente melhora a dor e a função e provavelmente não aumenta eventos adversos (efeitos indesejáveis).
- O uso do Tripeterygim wilfordii Hook F pode melhorar alguns sintomas da artrite reumatoide, e doses mais altas (180 mg a 350 mg por dia) podem ser mais efetivas do que doses mais baixas (60 mg por dia). Existem alguns efeitos adversos associados ao uso do Tripeterygim wilfordii Hook.
- Como existem apenas estudos isolados (apenas um único estudo) que testaram os outros remédios fitoterápicos, ou estudos que não avaliaram aspectos importantes da artrite (como mudanças no número de juntas inchadas ou dolorosas), nós não podemos ter certeza sobre os efeitos desses outros fitoterápicos.
Frequentemente não conseguimos obter informações precisas sobre outros efeitos colaterais e complicações, particularmente em relação aos eventos mais graves e raros.Outros efeitos colaterais possivelmente associados ao Triperyrium wilfordii Hook F incluem cólicas menstruais, diminuição da fertilidade nos homens, diminuição na produção de urina e maior risco de infecções. Possíveis efeitos colaterais associados ao ácido gamalinoleico derivado do óleo de prímula incluem dor de cabeça, naúsea e diarreia. Complicações mais raras incluem alergia e convulsão.
O que é a artrite reumatoide e o que são remédios fitoterápicos?
Quando você tem artrite reumatoide, seu sistema imunológico, que normalmente combate infecções, ataca as membranas que recobrem suas articulações. Isso leva suas articulações a ficarem inchadas, rígidas e doloridas. A artrite reumatoide afeta primeiro as articulações pequenas das mãos e dos pés. Atualmente não existe cura para a artrite reumatoide. Por isso, as pessoas que sofrem de artrite reumatoide recebem tratamentos para aliviar a dor e o enrijecimento das juntas e para melhorar sua capacidade de se movimentar.
Os fitoterápicos são definidos como qualquer preparação derivada de uma planta (inteira, em pó, na forma de extrato ou alguma mistura padronizada) usada para fins medicinais. Ao longo dos anos, diversos fitoterápicos foram usados para tratar a artrite reumatoide. Assim como outros remédios convencionais que não são à base de plantas, acredita-se que muitos fitoterápicos agem bloqueando a atividade das células e substâncias imunológicas e reduzindo a inflamação das articulações. Algumas pessoas acreditam que os fitoterápicos teriam menos efeitos colaterais.
Melhor estimativa sobre o que acontece com as pessoas com artrite reumatoide:
Dor (escores mais altos significam dor mais forte ou pior):
- As pessoas que tomaram óleo de prímula, óleo de semente de borragem ou óleo de semente de amora preta (contendo ácido gamalinoleico) relataram que sua dor diminui em média 33 pontos (variando entre 9 a 56 menos pontos) em uma escala de 0 a 100, depois de 6 meses de tratamento (33% de melhora absoluta).
- As pessoas que tomaram placebo (um remédio sem nenhum princípio ativo) relataram que sua dor diminuiu em média 19 pontos após o tratamento.
Função física (escores mais altos indicam maior incapacidade):
- As pessoas que tomaram ácido gamalinoleico relataram melhora de 16% na sua incapacidade.
- As pessoas que tomaram placebo relataram melhora de 5% na sua incapacidade.
Diversas intervenções fitoterápicas usadas para a artrite reumatoide se apoiam, de forma inadequada, em estudos isolados ou que não podem ser comparados. Existe evidência de moderada qualidade de que o uso de óleos contendo ácido gamalinoleico (extraídos de sementes de prímula, borragem ou amora preta) traz algum benefício no alívio dos sintomas da artrite reumatoide. As evidências quanto ao uso do Phytodolor N são menos convincentes. Produtos derivados do Tripterygium wilfordii podem reduzir alguns dos sintomas da artrite reumatoide, porém o uso oral dessa substância pode estar associado com vários eventos adversos. Muitos estudos sobre fitoterápicos são prejudicados devido a falhas no seu desenho e sua descrição inadequada nas publicações. É necessário realizar mais estudos sobre cada fitoterápico. Esses estudos comprobatórios devem ser ensaios clínicos bem desenhados e com poder (tamanho amostral) adequado. Eles devem também medir desfechos usando os critérios de melhora recomendados pelo American College of Rheumatology e seguir as diretrizes de publicação normatizadas pelo CONSORT.
Os fitoterápicos foram identificados como sendo potencialmente benéficos no tratamento da artrite reumatoide (AR).
Atualizar uma revisão sistemática (Cochrane) já existente sobre fitoterápicos no tratamento da artrite reumatoide.
Fizemos buscas nas seguintes bases de dados eletrônicas, por estudos publicados entre 1996 até 2009: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library), MEDLINE, EMBASE, AMED, CINAHL, Web of Science, Dissertation Abstracts. Também fizemos buscas, em outubro de 2010, na plataforma de registros de ensaios clínicos WHO International Clinical Trials Registry Platform. Não houve restrições de idiomas.
Incluímos ensaio clínicos randomizados controlados que avaliaram intervenções fitoterápicas versus placebo ou controles ativos em pessoas com artrite reumatoide.
Dois autores selecionaram os estudos para inclusão, avaliaram o risco de viés e extraíram os dados.
Doze novos estudos foram adicionados nesta atualização da revisão, que agora inclui um total de 22 estudos.
A evidência proveniente de sete estudos aponta um benefício potencial do ácido gamalinoleico extraído do óleo de prímula, óleo de borragem (derivado das sementes da planta Borago officinalis), ou óleo da semente de groselha negra (Ribes Nigrum) para redução da intensidade da dor (diferença média, DM, -32,83 pontos, intervalo de confiança, IC, de 95% de -56,25 a -9,42 pontos, numa escala de dor de 100 pontos) e para melhora da incapacidade (DM -15,75%, IC 95% -27,06 a -4,44%). Porém, houve aumento na taxa de eventos adversos (ácido gamalinoleico 20% versus placebo 3%), que não foi estatisticamente diferente (risco relativo 4,24, IC 95% 0,78 a 22,99).
Três estudos compararamTripterygium wilfordii (videira trovão de Deus) versus placebo e um estudo comparou o fitoterápico versus a sulfasalazina e apontaram melhoras em alguns desfechos. Porém, não foi possível combinar os dados devido a diferenças nas intervenções, comparações e desfechos. Um estudo relatou eventos adversos graves relacionados ao uso por via oral do Tripterygium wilfordii Hook F. Nos estudos de seguimento, todos os eventos adversos foram leves a moderados e desaparecerem após a suspensão da intervenção. Dois estudos compararam Phytodolos N versus placebo, mas a extração dos dados foi limitada devido à baixa qualidade da publicação. Cada um dos outros estudos incluídos na revisão avaliaram diferentes intervenções fitoterápicas.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Mariana Vendramin Mateussi). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br