Acupuntura no punho para prevenir náusea e vômitos após uma operação

Pergunta da revisão

As evidências apóiam o uso da acupuntura no ponto PC6 para reduzir as náuseas e vômitos em pessoas que acabaram de ser operadas, em comparação com uma acupuntura "sham" (em um ponto falso) ou em comparação com o uso de remédios antieméticos (drogas que aliviam os enjoos)? Esta revisão traz os resultados de novos estudos publicados entre 2009 até dezembro de 2014.

Introdução

A náusea e o vômito são muito comuns logo após uma anestesia e cirurgia; isso ocorre em até 80% das pessoas. Os medicamentos antieméticos não são totalmente efetivos e podem causar efeitos adversos, como sedação e dores de cabeça. Um método alternativo seria a estimulação do ponto de acupuntura PC6, localizado no punho. Há relatos de que a estimulação desse "acuponto" reduz a náusea e vômito pós-operatórios, com poucos efeitos colaterais graves.

Características dos estudos

Encontramos 59 estudos relevantes, conduzidos entre 1986 e 2015, envolvendo 7.667 pessoas que passaram por cirurgias. Sete desses estudos incluíram 727 crianças. A estimulação do "acuponto" PC6 foi feita usando técnicas invasivas (por exemplo com agulhas tradicionais chinesas), e técnicas não invasivas (por exemplo usando pulseiras de "acupressão"). A estimulação do acuponto PC6 foi comparada a seis tipos diferentes de remédios contra vômitos (metoclopramida, ciclizina, proclorperazina, droperidol, ondansetrona e dexametasona).

Resultados principais e qualidade das evidências

Estimulação do acuponto PC6 comparada com acupuntura falsa no tratamento de náuseas e vômitos pós-operatórios

Encontramos efeito moderado em crianças e adultos. Porém, existem algumas preocupações em relação a essa conclusão porque os estudos tinham limitações e havia variações dos efeitos não explicadas. Não são necessários mais estudos para confirmar o efeito benéfico da estimulação do acuponto PC6 em comparação à acupuntura falsa.

Estimulação do acuponto PC6 comparada com medicamentos antieméticos no tratamento de náuseas e vômitos pós-operatórios

Não encontramos diferença entre os dois métodos na prevenção da náuseas e vômitos pós-operatórios. A qualidade dessa evidência foi considerada moderada devido às limitações dos estudos. É improvável que mais estudos demonstrem alguma diferença.

Estimulação do acuponto PC6 mais antieméticos comparada com antieméticos sozinhos no tratamento de náuseas e vômitos pós-operatórios

Encontramos efeito moderado na prevenção de vômitos pós-operatórios, mas não encontramos efeitos sobre a náusea. Contudo, há algumas preocupações em relação a essa conclusão por causa do pequeno número de estudos, e há limitações também por causa de variações inexplicadas nos efeitos relatados nesses estudos. São necessários mais estudos de alta qualidade para testar a combinação da estimulação do acuponto PC6 mais antieméticos para melhor esclarecer os seus efeitos no tratamento de náuseas e vômitos pós-operatórios.

Em geral, 14 estudos demonstraram que os efeitos colaterais relacionados à estimulação do acuponto PC6 (irritação da pele, formação de bolhas, vermelhidão e dor) são mínimos, transitórios e autolimitados.

Conclusão

O efeito da estimulação do acuponto PC6 na prevenção de náuseas e vômitos pós-operatórios é comparável ao dos medicamentos antieméticos.

Conclusão dos autores: 

Existem evidências de baixa qualidade a favor da estimulação do acuponto PC6 em relação à acupuntura sham. Comparando-se à última atualização feita em 2009, não são necessários mais estudos com esse tipo de análise. Encontramos evidência de qualidade moderada de que não não existe diferença entre a estimulação do acuponto PC6 e o uso de antieméticos na prevenção de náuseas e vômitos pós-operatórios. Novos estudos comparando a estimulação do acuponto PC6 versus as drogas antiméticas são desnecessários. Esta é uma conclusão nova dessa atualização da revisão sistemática. Não existe evidência conclusiva a favor do uso de estimulação do acuponto PC6 mais antiméticos ao invés do uso profilático somente de antieméticos isolados. Por isso, são necessários estudos adicionais de alta qualidade para avaliar esta comparação.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A náusea e os vômitos são comuns após a anestesia e a cirurgia. Os antieméticos não são totalmente efetivos para a prevenção desses sintomas. A estimulação do “acuponto” PC6, localizado no punho, é um método alternativo de controlar esse quadro. Esta é a atualização de uma revisão da Cochrane publicada originalmente em 2004, atualizada em 2009 e novamente em 2015.

Objetivos: 

Avaliar a efetividade e a segurança da estimulação do acuponto PC6 versus procedimento sham (falso) ou antieméticos para a prevenção de náusea e vômitos pós-operatórios.

Métodos de busca: 

Pesquisamos o Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (Cochrane Library,Issue 12, 2014), MEDLINE (janeiro de 2008 a dezembro de 2014), EMBASE (janeiro de 2008 a dezembro de 2014), ISI Web of Science (janeiro de 2008 a dezembro de 2014), World Health Organization Clinical Trials Registry e ClinicalTrials.gov.A busca foi complementada com a avaliação das listas de referências dos artigos. Não houve restrição de idiomas.

Critério de seleção: 

Incluímos na revisão todos os ensaios clínicos randomizados de técnicas de estimulação do acuponto PC6 comparadas ao tratamento sham ou medicamentoso, ou que compararam a combinação do acuponto PC6 com antieméticos versus antieméticos sozinhos na prevenção da náusea e vômitos pós-operatórios. Os estudos incluídos testaram as seguintes intervenções em pacientes no período pós-operatório: acupuntura, eletro-acupuntura, estimulação elétrica transcutânea do acuponto, estimulação nervosa transcutânea, estimulação a laser, emplastro de capsicum, aparelho de estimulação de pontos e "acupressão". O desfecho primário foi a incidência de náusea e vômitos após a cirurgia. Os desfechos secundários foram a necessidade de terapia complementar com antieméticos e os efeitos os adversos.

Coleta dos dados e análises: 

Dois revisores extraíram independentemente os dados e avaliaram o risco de viés de cada estudo. Para as metanálises, usamos o modelo de efeitos aleatórios e reportamos o risco relativo (RR) e o intervalo de confiança de 95% (95% CI). Adicionamos os estudos de forma sequencial em uma metanálise cumulativa para encontrarmos o ponto em que houve evidência consistente de efeito sobre os desfechos primários, isto é, uma redução de 30% no RR de náuseas e vômitos pós-operatórios.

Principais resultados: 

Incluímos 59 estudos, envolvendo 7.667 participantes. Classificamos dois estudos como tendo baixo risco de viés em todos os domínios (viés de seleção, perdas, relato seletivo, cegamento e outros tipos de viés). Consideramos 25 estudos como tendo alto risco de viés em pelo menos um dos domínios. A estimulação do acuponto PC6 comparada ao tratamento placebo reduziu significativamente a incidência de náusea (RR 0,68, 95% CI 0,60 a 0,77; 40 estudos, 4.742 participantes), a incidência de vômitos (RR 0,60, 95% CI 0,51 a 0,71; 45 estudos, 5.147 participantes) e a necessidade de tratamento complementar com antieméticos (RR 0,64, 95% CI 0,55 a 0,73; 39 estudos, 4.622 participantes). A qualidade das evidências foi considerada baixa, devido às limitações dos estudos e à considerável heterogeneidade entre eles. Na análise sequencial, foi possível alcançar o tamanho necessário e o ponto de corte para o benefício da intervenção em relação a ambos os desfechos primários.

A estimulação do acuponto PC6 foi comparada a seis tipos diferentes de drogas antieméticas (metoclopramida, ciclizina, proclorperazina, droperidol, ondansetrona e dexametasona). Não encontramos diferenças significativas entre a estimulação do acuponto PC6 e os antieméticos na incidência de náusea (RR 0,91, 95% CI 0,75 a 1,10; 14 estudos, 1.332 participantes), vômitos (RR 0,93, 95% CI 0,74 a 1,17; 19 estudos, 1.708 participantes) ou necessidade de terapia complementar com antieméticos (RR 0,87, 95% CI 0,65 a 1,16; 9 estudos, 895 participantes). Consideramos a qualidade das evidências como moderada devido às limitações do estudo. Utilizando-se a análise sequencial, o limite da inutilidade foi alcançado antes de ultrapassar a quantidade de informações necessária para os desfechos primários.

Em comparação com os antieméticos isolados, a estimulação do acuponto PC6 associada com antieméticos reduziu a incidência de vômitos (RR 0,56, 95% CI 0,35 a 0,91; 9 estudos, 687 participantes), mas não reduziu a incidência de náusea (RR 0,79, 95% CI 0,55 a 1,13; 8 estudos, 642 participantes). A qualidade das evidências foi classificada como sendo muito baixa devido às limitações dos estudos, à imprecisão e à considerável heterogeneidade entre os estudos. Na análise sequencial, os pontos de corte para benefício, dano ou inutilidade não foram alcançados para os desfechos primários. A necessidade de terapia complementar com antieméticos foi menor no grupo que recebeu eletroestimulação do acuponto PC6 mais antieméticos do que no grupo que recebeu apenas antieméticos (RR 0,61, 95% CI 0,44 a 0,86; 5 estudos, 419 participantes).

Nos 14 estudos, os efeitos adversos associados à estimulação do acuponto PC6 (tais como irritação cutânea, bolhas, vermelhidão e dor) foram mínimos, transitórios e autolimitados. Não encontramos evidênica de viés de publicação, segundo o gráfico de funil otimizado.

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Gesiane Pajarinen)

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