Duração ideal do aleitamento materno exclusivo

A amamentação exclusiva por 6 meses (versus 3-4 meses, seguida de amamentação mista) reduz o risco de infecções gastrointestinais, ajuda na perda de peso da mãe e previne uma nova gravidez, porém não modifica o risco da criança ter doenças alérgicas no futuro, não afeta seu crescimento, seu risco de ter obesidade, sua habilidade cognitiva ou seu comportamento.

Os resultados de dois estudos controlados e de outros 21 estudos sugerem que o aleitamento materno exclusivo (sem outros alimentos ou líquidos além do leite materno, exceto por vitaminas ou medicamentos) por 6 meses traria vários benefícios a mais do que o aleitamento materno exclusivo por 3-4 meses seguido por amamentação mista. Estas vantagens incluem um menor risco de infecção gastrointestinal, uma perda de peso mais rápida para a mãe e maior tempo até ela voltar a ter menstruações. O aleitamento materno exclusivo não modifica os riscos do bebê ter outras infecções, doenças alérgicas, obesidade, cáries dentárias ou problemas cognitivos ou comportamentais. Em países em desenvolvimento, o aleitamento exclusivo pode levar a uma redução do nível de ferro dos bebês.

Conclusão dos autores: 

Crianças em aleitamento materno exclusivo por 6 meses tem menos morbidade decorrente de infecções gastrointestinais do que aquelas que são parcialmente amamentadas a partir do 3º-4º mês de vida. Crianças de países desenvolvidos ou em desenvolvimento que são amamentadas exclusivamente no peito por 6 ou mais meses não apresentam nenhum déficit de crescimento. Além disso, as mães dessas crianças ficam mais tempo sem menstruar. Cada bebê deve ser avaliado individualmente para que sejam detectadas deficiências de crescimento ou outros problemas que necessitem de intervenções adequadas para cada caso. Porém, as evidências disponíveis indicam que não existe nenhum risco aparente em se recomendar, como norma geral, que todos os bebês sejam amamentados exclusivamente no peito durante os primeiros 6 meses de vida, tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Embora os benefícios da amamentação para a saúde sejam amplamente reconhecidos, existem controvérsias em relação a qual deveria ser sua duração ideal. Desde 2001, a OMS recomenda o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida. Recentemente, tem havido muitos debates em países desenvolvidos quanto a essa prática, tendo sido levantadas questões quanto à adequação dos micronutrientes fornecidos ao bebê, assim como à existência e à magnitude dos benefícios dessa recomendação.

Objetivos: 

Avaliar os efeitos do aleitamento materno exclusivo por 6 meses versus aleitamento materno exclusivo por 3-4 meses seguido de amamentação mista (introdução de líquidos ou alimentos sólidos associado com a amamentação) até o 6º mês, sobre o crescimento e desenvolvimento da criança e sobre a saúde materna.

Métodos de busca: 

Foram realizadas buscas nas seguintes bases de dados eletrônicas: Cochrane Library (Issue 6, 2011), MEDLINE (de 1 de janeiro de 2007 até 14 de junho de 2011), EMBASE (de 1 de janeiro de 2007 até 14 de junho de 2011), CINAHL (de 1 de janeiro de 2007 até 14 de junho de 2011), BIOSIS (de 1 de janeiro de 2007 até 14 de junho de 2011), African Index Medicus (15 de junho de 2011), Index Medicus for the WHO Eastern Mediterranean Regions (IMEMR) (15 de junho de 2011), LILACS (15 de junho de 2011). Também foram contatados especialistas sobre o tema.

Para a primeira versão desta revisão publicada em 2000, a busca encontrou 2668 citações únicas. O contato com especialistas acrescentou mais estudos publicados e não publicados. A atualização da busca em dezembro de 2006 acrescentou mais 835 citações exclusivas.

Critério de seleção: 

Foram selecionados todos os ensaios clínicos controlados internamente e os estudos observacionais que compararam desfechos de saúde infantil ou materno em grupos de aleitamento materno exclusivo por pelo menos 6 meses versus aleitamento exclusivo por pelo menos 3-4 meses seguido de aleitamento misto até pelo menos 6 meses. Os estudos foram estratificados quanto ao seu desenho (ensaios clínicos versus estudos observacionais), origem (países em desenvolvimento e desenvolvidos), e época de avaliação dos desfechos (3-7 meses versus mais de 7 meses de vida).

Coleta dos dados e análises: 

Revisores independentes avaliaram a qualidade dos estudos e realizaram a extração de dados.

Principais resultados: 

Foram identificados 23 estudos que preenchem os critérios de seleção: 11 oriundos de países em desenvolvimento (sendo 2 estudos controlados em Honduras) e 12 de países desenvolvidos (todos estudos observacionais). As definições de aleitamento exclusivo variaram bastante entre os estudos. De acordo com os ensaios clínicos e com os estudos observacionais, as crianças em aleitamento exclusivo por 6 meses não apresentam maiores riscos de déficit de peso ou comprimento, embora amostras maiores seriam necessárias para descartar pequenas diferenças no risco de desnutrição. Em países em desenvolvimento onde os recém-nascidos podem ter depósitos de ferro abaixo do ideal, a evidência sugere que o aleitamento materno exclusivo sem suplementação de ferro até o 6º mês de vida pode comprometer os parâmetros hematológicos dos bebês. Baseado no estudo da Bielorrússia, o aleitamento materno exclusivo por 6 meses (versus aleitamento exclusivo por 3 meses seguido por aleitamento parcial até o 6º mês) não confere nenhum beneficio em termos de estatura, peso, índice de massa corporal (IMC), cáries dentárias, habilidade cognitiva ou comportamental avaliados com 6,5 anos de idade. Porém, segundo os achados dos estudos da Bielorrússia, Irã e Nigéria, as crianças que continuam com amamentação exclusiva por pelo menos 6 meses tem uma redução significativa do risco de infecções gastrointestinais e (segundo os estudos iranianos e nigerianos) de infecções respiratórias. Segundo os estudos da Finlândia, Austrália e da Bielorrússia, o aleitamento exclusivo não reduz de forma significativa o risco de eczema atópico, asma ou outras atopias. Segundo 2 estudos de Honduras e estudos observacionais de Bangladesh e do Senegal, o aleitamento exclusivo por 6 meses está associado a um período mais longo de amenorreia e, segundo os estudos de Honduras, a uma perda de peso materno pós-parto mais rápida.

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