Pergunta
Serão os antibióticos orais eficazes e seguros no tratamento da dor provocada pela pulpite irreversível (inflamação do nervo que se encontra dentro do dente/dano no nervo)?
Contexto
A pulpite irreversível ocorre quando a polpa dentária (tecido que se encontra dentro do dente e que contém nervo) sofreu um dano irreversível. É caracterizada por uma dor intensa (dor de dentes), que é capaz de acordar a pessoa durante a noite e é considerada como sendo uma das mais frequentes razões para os pacientes usarem os cuidados de medicina dentária de urgência. Qualquer dente pode ser afetado, não é restrito a um grupo etário em particular, e normalmente ocorre como uma consequência direta da doença cárie dentária, de um dente fraturado ou trauma.
O tratamento padrão para a pulpite irreversível – remoção imediata da polpa do dente afetado – é agora vastamente aceite, mas mesmo assim em certas partes do mundo os antibióticos continuam a ser prescritos.
Caraterísticas dos estudos
A evidência na qual esta revisão é baseada encontrava-se atualizada até 18 de fevereiro de 2019. Um estudo que envolvia 40 pessoas com pulpite irreversível (dano no nervo) foi incluído. Existiam dois grupos de 20 pessoas, um grupo foi tratado com penicilina de 500 mg, o outro com placebo (nenhum composto ativo presente) a cada seis horas durante um período de sete dias. Além disso, todos os participantes foram administrados com analgésicos (ibuprofeno e paracetamol (acetaminofeno) combinado com codeína).
Resultados-chave
Os antibióticos não aparentam reduzir significativamente a dor de dentes causada pela pulpite irreversível. Além disso, não existiu diferença no número total de comprimidos de ibuprofeno ou paracetamol (acetaminofeno) usados pelos grupos durante o período do estudo. A administração de penicilina não reduziu significativamente a perceção da dor, a perceção da precursão (bater no dente), ou a quantidade de medicação analgésica tomada por pessoas com pulpite irreversível. Não foram descritas reações ou eventos adversos.
Qualidade da evidência
Este estudo foi feito com uma amostra pequena de participantes e a certeza na evidência para os diferentes resultados foi avaliada como baixa. Existe neste momento evidência insuficiente para ser possível decidir se os antibióticos ajudam as pessoas com esta condição. Esta revisão destaca a necessidade de mais estudos e de melhor qualidade acerca do uso de antibióticos na pulpite irreversível.
Esta Cochrane Review, que se baseou num único ensaio com pequeno poder amostral e baixo risco de viés, ilustra que existe evidência insuficiente para determinar se os antibióticos reduzem ou não a dor comparando com a não administração. Os resultados desta revisão confirmam a necessidade de ensaios futuros com amostras maiores e metodologicamente rigorosos que possam fornecer evidência adicional sobre se os antibióticos, prescritos na fase pré-operatória, podem afetar os resultados do tratamento para a pulpite irreversível.
A pulpite irreversível, que é caracterizada por uma dor aguda e intensa, é uma das razões mais frequentes para os pacientes procurarem cuidados de medicina dentária de urgência. Excluindo a exodontia, o método convencional de alívio da dor causada pela pulpite irreversível consiste na perfuração do dente até à câmara pulpar, para remoção da polpa inflamada (nervo) e limpeza do sistema de canais radiculares. No entanto, um número significativo de médicos dentistas continua a prescrever antibióticos para combater a dor da pulpite irreversível. Esta revisão atualiza a versão publicada em 2016.
Avaliar os efeitos de antibióticos sistémicos na pulpite irreversível.
Pesquisámos na Cochrane Oral Health's Trials Register (até ao dia 18 de fevereiro de 2019); na Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL; 2019, Issue 1) na Cochrane Library (pesquisa no dia 18 de fevereiro de 2019); na MEDLINE Ovid (de 1946 até ao dia 18 de fevereiro de 2019); na Embase Ovid (de 1980 até ao dia 18 de fevereiro de 2019); na US National Institutes of Health Ongoing Trials Register ClinicalTrials.gov (pesquisa no dia 18 de fevereiro de 2019); e na World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform (pesquisa no dia 18 de fevereiro de 2019). Não existiram restrições ao idioma na pesquisa feita nas bases de dados eletrónicas.
Ensaios clínicos aleatorizados que compararam o alívio da dor com antibióticos sistémicos e analgésicos, contra placebo e analgésicos, na fase aguda pré-operatória de pulpite irreversível.
Três autores desta revisão examinaram os estudos e extraíram dados independentemente. A certeza da evidência dos estudos que foram incluídos foi avaliada com o GRADE. O agrupamento dos dados não foi possível, sendo apresentado um resumo descritivo.
Nenhum ensaio clínico adicional foi adicionado nesta atualização. Um ensaio com baixo risco de viés que avaliava a administração de penicilina oral combinada com analgésicos versus placebo com analgésicos, que envolvia 40 participantes, foi incluído numa atualização anterior desta revisão. A certeza da evidência foi avaliada como baixa para os diferentes resultados. O nosso desfecho principal foi a dor expressa pelo paciente (intensidade/duração) e o alívio da dor. Houve uma distribuição paralela próxima das classificações de dor tanto no grupo de intervenção (mediana 6,0, intervalo interquartil (IIQ) 10,5) quanto no grupo do placebo (mediana 6,0, IIQ 9,5) ao longo do período do estudo de sete dias. Não existiu evidência suficiente para afirmar ou refutar o benefício da penicilina na intensidade da dor. Não existiu diferença significativa no número médio total de comprimidos de ibuprofeno durante o período do estudo: 9,20 (desvio padrão (DP) 6,02) no grupo da penicilina versus 9,60 (DP 6,34) no grupo do placebo; a diferença média -0,40 (95% intervalo de confiança (IC) -4,23 a 3,43; P = 0,84). Isto aplica-se de igual forma ao número médio total de comprimidos de Tylenol: 6,90 (DP 6,87) usado no grupo da penicilina versus 4,45 (DP 4,82) no grupo do placebo; diferença de médias de 2.45 (95% IC -1,23 a 6,13; P = 0,19). O nosso desfecho secundário, que descreve os eventos adversos, não foi abordado neste estudo.
Traduzido por: Carlota Duarte de Mendonça, Bruno Rosa, Joana Faria Marques, João Silveira e António Mata, Centro de Estudos de Medicina Dentária Baseada na Evidência, Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.