Existe alguma evidência de que intervenções de reenquadramento cognitivo para cuidadores de familiares com demência sejam efetivas.
Cuidar de um familiar com demência é um desfio para os cuidadores. Avaliamos se esses cuidadores poderiam se beneficiar com intervenções de reenquadramento cognitivo. Esse tipo de intervenção visa reduzir o estresse do cuidador ao mudar algumas crenças dele, tais como crenças sobre sua responsabilidade para com o familiar com demência, crenças a respeito das suas próprias necessidades de apoio e crenças sobre porque seus familiares se comportam de certo jeito. Nosso estudo concluiu que o reenquadramento cognitivo pode reduzir a ansiedade, a depressão e o estresse do cuidador. Porém, esse tipo de intervenção não modificou a forma do cuidador lidar com o paciente nem o seu julgamento quanto ao peso de suas tarefas. Esta revisão concluiu que o reenquadramento cognitivo pode ser útil para melhorar a saúde mental dos cuidadores de pessoas com demência.
O reenquadramento cognitivo para cuidadores de familiares com demência parece reduzir a morbidade psicológica e estresse subjetivo dos cuidadores, porém não altera sua percepção da carga ou fardo de trabalho envolvido. Os resultados sugerem que esta intervenção pode ser um componente efetivo de intervenções multi-facetadas e individualizadas para cuidadores. Foi um desafio identificar estudos com intervenções relevantes para esta revisão. O impacto do reenquadramento cognitivo pode ser maior se for usado junto com outras intervenções, uma vez que desta forma seria possível adaptar o reenquadramento cognitivo de forma individualizada, para abordar os problemas reais do dia a dia do cuidador.
As intervenções psicossociais para cuidadores de familiares com demência são aceitas como sendo moderadamente efetivas na redução da morbidade psicológica dos cuidadores e no adiamento da internação dos pacientes (Brodaty 2003; Spijker 2008). As intervenções psicossociais multifacetadas e individualizadas, que envolvem múltiplos componentes, são consideradas especialmente promissoras (Brodaty 2003; Spijker 2008). Nesta revisão avaliamos apenas a eficácia do reenquadramento cognitivo, que é um dos componentes da Terapia Cognitivo-Comportamental. As intervenções de reenquadramento cognitivo para cuidadores de familiares com demência são focadas nas dificuldades de adaptação e nas atitudes ineficazes ou estressantes do cuidador diante dos comportamentos do seu parente, além de lidar também com seu próprio desempenho no papel de cuidador.
O objetivo desta revisão foi avaliar a efetividade do reenquadramento cognitivo na redução da morbidade psicológica e no estresse de cuidadores de familiares com demência.
Foi realizada uma busca (05 de Abril de 2009), por estudos disponíveis no the Cochrane Dementia and Cognitive Improvement Group Specialized Register, que contém registros dos principais bancos de dados de saúde: The Cochrane Library, MEDLINE, EMBASE, PsycINFO, CINAHL and LILACS, bases de dados de ensaios clínicos em andamento, e fontes de literatura cinza (estudos não publicados). Para maiores informações sobre o conteúdo desse arquivo e para ter acesso à estratégia de busca, veja os métodos do Cochrane Dementia and Cognitive Improvement Group methods used in reviews.
The Cochrane Library, MEDLINE, EMBASE, PsycINFO, CINAHL, LILACS e diversas plataformas de registros de ensaios clínicos e de literatura cinzenta (estudos não publicados) também foram acessadas separadamente em 5 de Abril de 2009.
Ensaios clínicos randomizados sobre reenquadramento cognitivo para cuidadores de familiares com demência.
Três investigadores (MVD, ID, JMC) independentes avaliaram se a intervenção de interesse foi documentada no ensaio clínico; dois investigadores avaliaram a qualidade dos estudos.
A análise conjunta dos dados indica que o reenquadramento cognitivo para cuidadores é benéfica, reduzindo sua morbidade psicológica especialmente nos quesitos ansiedade (Diferença Média Padronizada (DMP) -0,21; intervalo de confiança de 95% (IC) -0,39 a -0,04), depressão (DMP -0,66; 95% IC -1,27 a -0,05), e estresse subjetivo (DMP -0,23 IC95% -0,43 a -0,04). Porém a intervenção não produziu nenhum efeito sobre a capacidade do cuidador lidar com o paciente, nem sobre seu julgamento quanto ao peso de suas tarefas, ou sobre sua reação ao comportamento do doente ou sobre a internação do paciente.