Os pacientes com queimaduras graves têm suas necessidades metabólicas aumentadas. Por essa e outras razões, eles são frequentemente alimentados através de sonda inserida diretamente no estômago ou intestino delgado, um procedimento conhecido como alimentação enteral. Alimentação enteral agressiva com dieta hiperproteica é parte central do tratamento para pacientes com queimadura grave. Contudo, ainda não se sabe qual seria a proporção ideal de gorduras e carboidratos nas fórmulas para alimentação enteral. Esta revisão encontrou dois ensaios clínicos randomizados envolvendo 93 pacientes hospitalizados com queimaduras graves. A revisão chegou à conclusão de que a alimentação enteral rica em carboidratos, rica em proteínas e pobre em gordura reduz a incidência de pneumonia quando comparada com dieta enteral pobre em carboidratos, rica em proteínas e pobre em gordura. Não se chegou a nenhuma conclusão sobre o efeito dos diferentes regimes de alimentação enteral em relação à mortalidade.
A certeza quanto aos achados desta revisão foi comprometida pelo número, tamanho e qualidade dos estudos elegíveis. Portanto, mais pesquisas são necessárias para se chegar a conclusões cientificas definitivas e para que recomendações clínicas possam ser feitas.
As evidências disponíveis sugerem que, em pacientes com pelo menos 10% da área de superfície corporal queimada, o uso de alimento enteral rico em carboidratos, hiperproteico e hipolipídico pode reduzir a incidência de pneumonia comparado com o uso de alimentação pobre em carboidratos, hiperproteica e hiperlipídica. As evidências disponíveis são inconclusivas a respeito do efeito de qualquer regime de alimentação enteral em relação à mortalidade. Note que as evidências disponíveis são limitadas a dois estudos pequenos com risco moderado de viés. Mais pesquisas são necessárias nessa área para se chegar a conclusões robustas.
Queimaduras graves aumentam as necessidades metabólicas dos pacientes. Alimentação enteral agressiva, rica em proteinas, é usada no período pós-queimadura para melhorar a recuperação e a cicatrização.
Avaliar as evidências de melhores resultados clínicos em pacientes queimados tratados com alimentos ricos em carboidratos, hiperproteicos e hipolipídicos (alimentos enterais hipercalóricos) comparados com aqueles tratados com alimentos pobres em carboidratos, hiperproteicos e hiperlipídicos (alimentos enterais hiperlipídicos).
Nós pesquisamos a Cochrane Injuries Group Specialised Register (em 28 de novembro de2011), Cochrane Central Register of Controlled Trials (The Cochrane Library 2011, Issue 4), MEDLINE (Ovid) 1950 até novembro (terceira semana) de 2011, EMBASE (Ovid), ISI Web of Science: Science Citation Index Expanded (SCI-EXPANDED) (1970 a novembro de 2011), ISI Web of Science: Conference Proceedings Citation Index-Science (CPCI-S) (1990 a novembro de 2011), PubMed (em 28 de novembro de 2011). Plataformas de registros de ensaios clínicos e anais de conferências também foram pesquisados até abril de 2010.
Nós incluímos todos os ensaios clínicos randomizados (ECR) que compararam alimentos enterais com alto teor de carboidrato versus alimentos enterais com alto teor de gordura, para o tratamento de pacientes com 10% ou mais de área de superfície corporal queimada no período imediato pós-queimadura. Os estudos que tinham dados de pelo menos um dos resultados pré-especificados foram incluídos.
Dois autores coletaram e analisaram os seguintes dados: mortalidade, incidência de pneumonia e dias em ventilação mecânica. A metanálise só pôde ser realizada para os resultados mortalidade e incidência de pneumonia. O modelo de efeitos randômicos foi utilizado para todas as comparações.
Dois ECRs, envolvendo93 pacientes, foram incluídos nesta revisão. Os pacientes que receberam uma fórmula de alimento rica em carboidratos tiveram razão de chances (odds ratio, OR) de pneumonia de 0,12 (intervalo de confiança de 95%, 95% CI, 0,04 a 0,39), comparados com pacientes que receberam fórmula enteral hiperlipidíca (p = 0,0004). Os pacientes que receberam fórmula rica em carboidratos tiveram OR de morte de 0,36 (95% CI 0,11 a 1,15), comparados com pacientes que receberam fórmula enteral hiperlipídica; essa diferença não foi significante (p = 0,08). O risco de viés desses estudos foi considerado alto e moderado.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (José Carlos Souza)