Quem pode se interessar por esta revisão?
- Pessoas afetadas pelo TEPT e seus familiares.
- Profissionais que trabalham em serviços de saúde mental para adultos.
- Clínicos gerais.
- Instituições que ajudam vítimas de traumas ou militares.
Por que essa revisão é importante?
O TEPT é uma condição vivenciada por algumas pessoas após experiências traumáticas como a guerra ou a violência doméstica. Pessoas com TEPT apresentam sintomas de medo intenso, sentimento de impotência e de horror. Pesquisas sugerem que mudanças nos hormônios do estresse no cérebro podem contribuir para o TEPT. Dar às pessoas remédios que agem no cérebro logo após o evento traumático poderia ajudar a prevenir o desenvolvimento do TEPT.
Revisões anteriores mostraram que a psicoterapia (Terapia Cognitiva Comportamental - TCC) é eficaz na prevenção do TEPT. Esta é a primeira revisão sobre o uso de remédios para prevenir o TEPT.
Quais perguntas esta revisão procurou responder?
- O uso de remédios, comparado ao uso de placebo (pílulas de farinha), é eficaz para prevenir o TEPT?
- O uso de remédios é bem tolerado (as pessoas param de tomar os remédios devido aos efeitos colaterais)?
Quais estudos foram incluídos na revisão?
Buscamos em bancos de dados todos os estudos publicados até fevereiro de 2014 que compararam os efeitos de remédios versus placebo na prevenção do TEPT. Incluímos na revisão apenas ensaios clínicos randomizados (um tipo de estudo). Os estudos precisavam ter incluído adultos (com mais de 18 anos de idade) que tivessem sofrido eventos traumáticos, mas sem um diagnóstico de TEPT no momento do início da medicação.
Incluímos nove estudos que, juntos, recrutaram 345 participantes. Sete dos nove estudos tinham um alto risco de viés devido a problemas com o desenho da pesquisa.
O que as evidências da revisão nos dizem?
Encontramos evidência de qualidade moderada de que a hidrocortisona (um tipo de corticoide) previne o TEPT.
Existe evidência de qualidade moderada de que a hidrocortisona reduz a gravidade dos sintomas do TEPT.
Não encontramos evidência de que o uso dos seguintes remédios previna o TEPT: propranolol (um betabloqueador), escitalopram (um tipo de antidepressivo), temazepam (um tranquilizante) ou gabapentina (um anticonvulsivante).
Todos os medicamentos foram tolerados, ou seja, poucas pessoas abandonaram o tratamento devido aos efeitos colaterais. No entanto, nem todos os estudos apresentaram dados sobre isso.
O que deveria acontecer a seguir?
Os autores desta revisão consideram que a evidência disponível no momento ainda não é suficiente para recomendar o uso qualquer remédio específico para prevenir o TEPT. Os autores também apontam para a necessidade de mais pesquisas de alta qualidade para fornecerem evidências mais fortes sobre a eficácia do uso de remédios para prevenir o TEPT.
Existe evidência de qualidade moderada de que a hidrocortisona é efetiva na prevenção do desenvolvimento do TEPT em adultos. Não encontramos evidência de que o propranolol, o escitalopram, o temazepam e a gabapentina sejam efetivos na prevenção do TEPT. Porém esses achados foram provenientes de poucos estudos, com poucos participantes, e com várias limitações metodológicas. Mais estudos são necessários para avaliar a eficácia do tratamento farmacológico na prevenção do TEPT e para identificar fatores que modulam o efeito do tratamento.
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é um distúrbio debilitante. O quadro é diagnosticado em indivíduos que, um certo tempo depois do evento traumático, desenvolvem medo intenso, sensação de impotência, ou horror. Existe alguma evidência de que o uso de medicamentos imediatamente após a exposição ao trauma pode reduzir o risco de desenvolver TEPT.
Avaliar os efeitos dos tratamentos farmacológicos para prevenir o TEPT em adultos expostos a um evento traumático.
Fizemos buscas na base de dados Cochrane Depression, Anxiety and Neurosis Controlled Trials Register (CCDANCTR-Studies and CCDANCTR-References) em 14 de fevereiro de 2014. Esta base eletrônica reúne ensaios clínicos randomizados controlados provenientes dos seguintes bancos de dados: CENTRAL (todos os anos); EMBASE (de 1974 até o presente); MEDLINE (de 1950 até o presente) e PsycINFO (de 1967 até o presente). Procuramos por ensaios clínicos não publicados no National Institute of Health (NIH) Reporter, no metaRegister of Controlled Trials (mRCT) e no WHO International Clinical Trials Registry Platform (até dezembro de 2013). Revisamos as listas de referências dos estudos em busca de estudos adicionais. Não houve restrições de idiomas ou do local do estudo.
Incluímos apenas ensaios controlados randomizados (ECR) que avaliaram intervenções farmacológicas versus placebo para a prevenção do TEPT em adultos.
Dois autores (T.A. e J.I.) avaliaram de forma independente a elegibilidade dos estudos baseado nos critérios de seleção. Os autores, trabalhando de forma independente, extraíram os dados dos estudos, avaliaram sua qualidade metodológica, seus riscos de viés, os desfechos e efeitos colaterais. As informações de cada estudo foram anotadas em um formulário de coleta de dados criado especificamente para essa revisão. Contatamos os autores dos estudos para obter mais detalhes sobre informações que faltavam. Calculamos medidas de síntese de efeitos para variáveis contínuas e dicotômicas (quando possível). Não realizamos análises de subgrupos devido ao pequeno número de estudos incluídos.
Nas análises dos desfechos no curto prazo (até 12 semanas), incluímos nove ECRs envolvendo 345 participantes com idades entre 18 a 76 anos. Os participantes haviam sido expostos a uma variedade de traumas, desde agressões, acidentes de trânsito e acidentes de trabalho até cirurgia cardíaca e choque séptico. Sete estudos foram realizados em centros individuais. Quatro estudos avaliaram o uso de hidrocortisona, três avaliaram o uso de propranolol (um desses estudos tinha um terceiro grupo que usou gabapentina). Um estudo cada avaliou escitalopram e temazepam. Para avaliar os desfechos, os autores dos estudos usaram os instrumentos Clinician-Administered PTSD Scale (CAPS), 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36) e a Center for Epidemiological Studies – Depression Scale (CES-D).
Existe evidência de moderada qualidade de que a hidrocortisona é efetiva na prevenção do TEPT: razão de risco (RR) 0,17, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,05 a 0,56, P = 0,004, quatro estudos, 165 participantes. Os dados indicam que seria necessário tratar entre 7 e 13 pessoas para prevenir um caso de TEPT. Existe evidência de baixa qualidade de que o propranolol não é efetivo na prevenção do TEPT: RR 0,62, IC 95% 0,24 a 1,59, P = 0,32, três estudos, 118 participantes. Nem todos os estudos apresentaram dados sobre o número de pacientes que desistiram do tratamento devido aos efeitos colaterais. Os estudos com essa informação relataram poucos casos de abandonos devido a esses efeitos, para todos os medicamentos testados. Três dos quatro ECRs de hidrocortisona relataram que a medicação foi mais eficaz do que o placebo na redução dos sintomas do TEPT na avaliação feita 4,5 meses (mediana) após o evento. Nenhum dos estudos sobre o escitalopram, temazepam e gabapentina apresentou evidências de que esses medicamentos fossem melhor que o placebo na prevenção do TEPT.
Sete dos ECRs incluídos na revisão tinham alto risco de viés. Em três estudos houve desequilíbrio no número de pacientes que abandonaram o estudo nos grupos intervenção e placebo. Um estudo não descreveu a forma de ocultação da alocação dos medicamentos. Fatores de confusão dentro dos grupos, e o encerramento do estudo com base na resposta ao tratamento também podem ter influenciado os resultados dos estudos.
Tradução do Cochrane Brazil (Gesiane G. Ferreira Pajarinen e Maria Regina Torloni). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br