Fisioterapia respiratória para adultos com pneumonia

Pergunta da revisão

A fisioterapia respiratória é eficaz e segura como tratamento de suporte de adultos com pneumonia?

Introdução

A pneumonia é um dos problemas de saúde mais comuns, que atinge pessoas de qualquer idade, em todo o mundo. Os antibióticos representam a base do tratamento da pneumonia. Outras terapias de suporte, como o oxigênio suplementar, também podem ser benéficas para melhorar os desfechos dos pacientes. A fisioterapia respiratória, uma técnica de desobstrução das vias aéreas, tem sido amplamente utilizada como terapia de suporte para pneumonia em adultos. Porém, não há evidências confiáveis .

Data da busca

As evidências estão atualizadas até maio de 2022.

Características dos estudos

Foram incluídos oito estudos envolvendo um total de 974 participantes. Incluímos dois novos estudos (540 participantes) nesta atualização. Todos os estudos incluíram pacientes hospitalizados. Os estudos analisaram cinco tipos de fisioterapia respiratória: fisioterapia respiratória convencional (técnicas manuais para ajudar a remover as secreções), técnicas de ciclo ativo da respiração (um conjunto de exercícios respiratórios para ajudar a remover as secreções), tratamento manipulativo osteopático (um tratamento com a aplicação de forças guiadas manualmente por um fisioterapeuta para melhorar a função respiratória e a remoção das secreções), pressão expiratória positiva (uso de um dispositivo que aumenta a resistência ao fluxo de ar para melhorar a remoção das secreções) e oscilação da parede torácica de alta frequência (vibração da parede do peito com um dispositivo específico para remover secreções).

Resultados principais

1. Morte

A fisioterapia respiratória convencional, o tratamento manipulativo osteopático e a oscilação de alta frequência da parede torácica podem ter pouco ou nenhum efeito na redução da morte, em comparação com nenhuma fisioterapia ou sham (terapia placebo). Entretanto, a certeza (qualidade/confiança) na evidência é muito baixa.

2. Taxa de cura

O tratamento manipulativo osteopático pode melhorar a taxa de cura conforme definido pelos autores do estudo, em comparação com sham. No entanto, a certeza na evidência é muito baixa. A fisioterapia respiratória convencional e as técnicas de ciclo ativo da respiração podem ter pouco ou nenhum efeito na melhora da taxa de cura, em comparação com nenhuma fisioterapia. Entretanto, a certeza na evidência é muito baixa.

3. Duração da internação hospitalar

A pressão expiratória positiva pode reduzir a duração da internação hospiralar em 1,4 dias, em comparação com nenhuma fisioterapia. Entretanto, a certeza na evidência é muito baixa. O tratamento manipulativo osteopático, fisioterapia respiratória convencional e técnicas de ciclo ativo da respiração podem ter pouco ou nenhum efeito na duração da internação, em comparação com sham ou nenhuma fisioterapia. Entretanto, a certeza na evidência é muito baixa.

4. Duração da febre

A pressão expiratória positiva pode reduzir a duração da febre em 0,7 dias, em comparação com nenhuma fisioterapia, Entretanto, a certeza na evidência é muito baixa. A fisioterapia respiratória convencional pode ter pouco ou nenhum efeito na duração da febre, em comparação com nenhuma fisioterapia. O tratamento manipulativo osteopático também pode ter pouco ou nenhum efeito na duração da febre, em comparação com sham. No entanto, a certeza nestas evidências é muito baixa.

5. Duração do uso de antibióticos

O tratamento manipulativo osteopático pode ter pouco ou nenhum efeito na duração do uso de antibióticos, em comparação com sham. As técnicas de ciclo ativo da respiração também podem ter pouco ou nenhum efeito na duração do uso de antibióticos, em comparação com nenhuma fisioterapia. Entretanto, a certeza nestas evidências é muito baixa.

6. Tempo de permanência na unidade de unidade de terapia intensiva (UTI)

A oscilação de alta frequência da parede torácica pode reduzir o tempo de permanência na UTI em 3,8 dias em pessoas com pneumonia grave que receberam ventilação mecânica (uso de uma máquina para ajudar as pessoas a respirar), em comparação com nenhuma fisioterapia. Porém, a certeza na evidência é muito baixa.

7. Duração da ventilação mecânica

A oscilação de alta frequência da parede torácica pode reduzir a duração da ventilação mecânica em três dias em pessoas com pneumonia grave que receberam ventilação mecânica, em comparação com nenhuma fisioterapia. No entanto, a certeza na evidência é muito baixa.

8. Eventos adversos (eventos indesejados que causam danos ao paciente)

Um estudo relatou três eventos adversos graves (não especificados) que causaram a retirada precoce dos participantes após o tratamento manipulativo osteopático. Um estudo relatou eventos adversos como sensibilidade muscular de curto prazo após o tratamento em dois participantes. Outro estudo relatou não ter havido eventos adversos.

Certeza (qualidade/confiança) na evidência

Em resumo, a certeza nestas evidências é muito baixa, pois há limitações nos estudos, poucos participantes e/ou imprecisão nos resultados (os efeitos estimados do tratamento foram muito imprecisos). Evidências de muito baixa certeza (qualidade/confiança) sugerem que algumas técnicas de fisioterapia podem reduzir ligeiramente o tempo de internação hospitalar, a duração da febre, a duração do tratamento com antibióticos e a permanência na UTI, assim como o tempo de ventilação mecânica. Entretanto, isto precisa ser mais explorado.

Conclusão dos autores: 

A inclusão de dois novos estudos nesta atualização não alterou as principais conclusões da revisão original. As evidências atuais são muito incertas a respeito do efeito da fisioterapia respiratória na melhora da mortalidade e da taxa de cura em adultos com pneumonia. Algumas técnicas de fisioterapia podem reduzir ligeiramente o tempo de internação hospitalar, de duração da febre, das internações na UTI e da ventilação mecânica. No entanto, todos estes achados são baseados em evidências de certeza (qualidade/confiança) muito baixa e precisam ser validados.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Apesar das evidências conflitantes, a fisioterapia respiratória tem sido muito utilizada como tratamento adjuvante para adultos com pneumonia. Esta é uma atualização de uma revisão publicada pela primeira vez em 2010 e atualizada em 2013.

Objetivos: 

Avaliar a efetividade e segurança da fisioterapia respiratória para adultos com pneumonia.

Métodos de busca: 

Atualizamos nossas buscas nas seguintes bases de dados para encontrar estudos disponíveis até maio de 2022: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) via OvidSP, MEDLINE via OvidSP (de 1966), Embase via embase.com (de 1974), Physiotherapy Evidence Database (PEDro) (desde 1929), CINAHL via EBSCO (a partir de 2009) e o Chinese Biomedical Literature Database (CBM) (a partir de 1978).

Critério de seleção: 

Ensaios clínicos randomizados (ECRs) e ensaios clínicos controlados quase-randomizados que avaliaram a eficácia da fisioterapia respiratória no tratamento da pneumonia em adultos.

Coleta dos dados e análises: 

Seguimos as recomendações metodológicas padrões da Cochrane.

Principais resultados: 

Incluímos dois novos estudos nesta atualização (540 participantes). Isto resultou em um total de oito ECRs (974 participantes). Quatro ECRs foram realizados nos Estados Unidos, dois na Suécia, um na China e um no Reino Unido. Os estudos analisaram cinco tipos de fisioterapia respiratória: fisioterapia respiratória convencional; tratamento manipulativo osteopático (que inclui inibição paraespinhal, elevação das costelas e liberação miofascial); técnicas de ciclo ativo da respiração (que inclui controle ativo da respiração, exercícios de expansão pulmonar e técnicas de expiração forçada); pressão expiratória positiva; e oscilação de alta frequência da parede torácica.

Avaliamos quatro estudos com risco de viés incerto e quatro estudos com alto risco de viés.

A fisioterapia respiratória convencional pode ter pouco ou nenhum efeito na melhora da mortalidade, em comparação com nenhuma fisioterapia. Entretanto, a certeza (qualidade/confiança) na evidência é muito baixa (risco relativo (RR) 1,03, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,15 a 7,13; 2 estudos, 225 participantes ; I² = 0%). O tratamento manipulativo osteopático pode ter pouco ou nenhum efeito na melhora da mortalidade, em comparação com placebo (RR 0,43, IC 95% 0,12 a 1,50; 3 estudos, 327 participantes; I² = 0%). No entanto, a certeza na evidência é muito baixa. Da mesma forma, a oscilação de alta frequência da parede torácica também pode ter pouco ou nenhum efeito na melhora da mortalidade, em comparação com nenhuma fisioterapia (RR 0,75, IC 95% 0,17 a 3,29; 1 estudo, 286 participantes). Entretanto, a certeza nesta evidência também é muito baixa.

A fisioterapia respiratória convencional também pode ter pouco ou nenhum efeito na melhora da taxa de cura, em comparação com nenhuma fisioterapia (RR 0,93, IC 95% 0,56 a 1,55; 2 estudos, 225 participantes; I² = 85%). Porém, a certeza nesta evidência é muito baixa. As técnicas de ciclo ativo da respiração podem ter pouco ou nenhum efeito na melhora da taxa de cura, em comparação com nenhuma fisioterapia (RR 0,60, IC 95% 0,29 a 1,23; 1 estudo, 32 participantes). Entretanto, a certeza na evidência é muito baixa. O tratamento manipulativo osteopático pode melhorar a taxa de cura, em comparação com placebo (RR 1,59, IC 95% 1,01 a 2,51; 2 estudos, 79 participantes; I² = 0%). No entanto, a certeza na evidência é muito baixa.

O tratamento manipulativo osteopático pode ter pouco ou nenhum efeito na duração média da internação, em comparação com placebo (diferença média (DM) -1,08 dias, IC 95% -2,39 a 0,23; 3 estudos, 333 participantes; I² = 50%). Porém, a certeza na evidência é muito baixa. Em comparação com nenhuma fisioterapia, a fisioterapia respiratória convencional (DM 0,7 dias, IC 95% -1,39 a 2,79; 1 estudo, 54 participantes) e as técnicas de ciclo ativo da respiração (DM 1,4 dias, IC 95% -0,69 a 3,49; 1 estudo, 32 participantes) também podem ter pouco ou nenhum efeito na duração da internação. Entretanto, a certeza nestas evidências também é muito baixa. A pressão expiratória positiva pode reduzir a duração média da internação em 1,4 dias, em comparação com nenhuma fisioterapia (DM -1,4 dias, IC 95% -2,77 a -0,03; 1 estudo, 98 participantes). Porém, a certeza na evidência é muito baixa.

A pressão expiratória positiva pode reduzir a duração da febre em 0,7 dias, em comparação com nenhuma fisioterapia (DM -0,7 dias, IC 95% -1,36 a -0,04; 1 estudo, 98 participantes). No entanto, a certeza na evidência é muito baixa. A fisioterapia respiratória convencional pode ter pouco ou nenhum efeito na duração da febre, em comparação com nenhuma fisioterapia (DM 0,4 dias, IC 95% −1,01 a 1,81; 1 estudo, 54 participantes). O tratamento manipulativo osteopático também pode ter pouco ou nenhum efeito na duração da febre, em comparação com placebo (DM 0,6 dias, IC 95% −1,60 a 2,80; 1 estudo, 21 participantes). Entretanto, a certeza em ambas as evidências é muito baixa.

O tratamento manipulativo osteopático pode ter pouco ou nenhum efeito na duração média da antibioticoterapia total, em comparação com placebo (DM -1,07 dias, IC 95% -2,37 a 0,23; 3 estudos, 333 participantes; I² = 61%). Porém, a certeza na evidência é muito baixa. As técnicas de ciclo ativo da respiração podem ter pouco ou nenhum efeito na duração total da antibioticoterapia, em comparação com nenhuma fisioterapia (DM 0,2 dias, IC 95% -4,39 a 4,69; 1 estudo, 32 participantes). Entretanto, a certeza na evidência é muito baixa.

A oscilação de alta frequência da parede torácica mais lavagem alveolar com fibrobroncoscópio pode reduzir o tempo de permanência na unidade de terapia intensiva (UTI) em 3,8 dias, em comparação com a lavagem alveolar com fibrobroncoscópio isoladamente (DM −3,8 dias, IC 95% −5,00 a −2,60; 1 estudo, 286 participantes) e pode reduzir o tempo de ventilação mecânica em três dias (DM -3 dias, IC 95% -3,68 a -2,32; 1 estudo, 286 participantes). Entretanto, a certeza na evidência é muito baixa.

Um estudo relatou sensibilidade muscular transitória surgindo após tratamento manipulativo osteopático em dois participantes. Em outro estudo, três eventos adversos graves levaram à retirada precoce do estudo após o tratamento manipulativo osteopático. Um estudo relatou não ter havido nenhum evento adverso após o tratamento com pressão expiratória positiva.

As limitações desta revisão foram o pequeno tamanho das amostras e o risco de viés dos estudos incluídos.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina P. N. Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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