Tratamento com hélio-oxigênio (heliox) para crianças com laringotraqueobronquite

Pergunta da revisão

Queríamos descobrir se a inalação com heliox é segura e útil no tratamento de crianças com laringotraqueobronquite em comparação com o tratamento de mentira (placebo) ou outras terapias, como oxigênio a uma concentração de 30% umidificado, ou oxigênio a uma concentração de 100% com epinefrina (adrenalina, uma droga que ajuda a abrir as vias respiratórias).

Introdução

A laringotraqueobronquite é uma doença de curto prazo que causa a obstrução das vias aéreas superiores. A condição é comum em crianças entre seis meses e três anos. A laringotraqueobronquite é causada por infecções virais e é mais frequente no outono e no inverno. Os sintomas incluem tosse ladrante (“tosse de cachorro”), rouquidão, sons respiratórios anormais e retrações da parede torácica (movimento interno da pele da parede torácica ou do osso do peito durante a respiração).

O tratamento padrão para crianças com laringotraqueobronquite inclui o uso de corticosteroides. Entretanto, uma limitação deste tratamento é que o medicamento demora a fazer efeito. As crianças com laringotraqueobronquite grave podem precisar de tratamentos de emergência adicionais, como o uso de um tubo para ajudar a respirar ou suporte respiratório mecânico. Elas também podem precisar de oxigênio e adrenalina inalados como uma fina névoa (nebulização). A adrenalina é geralmente segura, mas pode causar efeitos colaterais, como a aceleração do ritmo cardíaco e ansiedade. A identificação de um tratamento seguro, eficaz e de ação rápida é importante para as crianças e suas famílias.

O gás heliox (uma combinação de hélio e oxigênio) pode melhorar o fluxo de ar e aliviar o desconforto respiratório. Alguns estudos têm mostrado benefícios do heliox para crianças com laringotraqueobronquite.

Esta é uma atualização de uma revisão publicada em 2010, 2013 e 2018.

Data da busca

15 de abril de 2021.

Características dos estudos

Não incluímos nenhum novo estudo nesta atualização.

Incluímos 3 ensaios clínicos randomizados (estudos nos quais os participantes são designados aleatoriamente para receber um tratamento ou outro). Os estudos tinham um total de 91 crianças com laringotraqueobronquite, com idade entre 6 meses a 4 anos. Todos os estudos foram conduzidos em departamentos de emergência. Foram realizados estudos com duração entre 7 e 16 meses. Dois estudos foram realizados nos EUA e um na Espanha. Em um estudo, as crianças com laringotraqueobronquite leve receberam heliox ou oxigênio a uma concentração de 30%. Em outro estudo, as crianças com laringotraqueobronquite moderada receberam dexametasona oral (um tipo de corticosteroide) sozinha ou associada a heliox. No terceiro estudo, as crianças com laringotraqueobronquite moderada a grave receberam dexametasona injetada e heliox ou oxigênio a uma concentração de 100% com adrenalina.

Resultados principais

Devido a evidência disponível ser limitada, ainda há incerteza quanto à eficácia e segurança do heliox. O heliox pode não ser mais eficaz que oxigênio a uma concentração de 30% para crianças com laringotraqueobronquite leve. Além disso, o heliox pode ser tão eficaz quanto o oxigênio a uma concentração de 100% administrado com uma ou duas doses de adrenalina; e pode ser ligeiramente mais eficaz que nenhum tratamento em crianças com laringotraqueobronquite moderada. Nenhum dos estudos relatou eventos adversos (efeitos colaterais).

Certeza (qualidade) da evidência

A certeza nas evidências foi baixa, pois havia poucas crianças nos estudos, e em um estudo as crianças, suas famílias e os médicos sabiam qual tratamento havia sido dado.

Conclusão dos autores: 

Devido a evidência disponível ser limitada, ainda há incerteza quanto à eficácia e segurança do heliox. O heliox pode não ser mais eficaz que oxigênio a uma concentração de 30%, umidificado, para crianças com laringotraqueobronquite leve. Entretanto, ele pode ser benéfico a curto prazo para crianças com laringotraqueobronquite moderada tratadas com dexametasona. O efeito do heliox pode ser semelhante ao do oxigênio a uma concentração de 100%, administrado com uma ou duas doses de adrenalina. Não foram relatados eventos adversos e não está claro se estes foram monitorados nos estudos incluídos. Estudos com poder adequado que comparem o heliox versus tratamentos padrão são necessários para avaliar melhor o papel do heliox no tratamento de crianças com laringotraqueobronquite moderada a grave.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A laringotraqueobronquite é uma infecção respiratória viral aguda com inflamação das mucosas das vias aéreas superiores que pode causar desconforto respiratório. A maioria dos casos de laringotraqueobronquite são leves. Na laringotraqueobronquite moderada a grave pode haver necessidade de tratamento com corticosteroides e nebulização com epinefrina (adrenalina). Quando utiliza-se corticosteroides, os benefícios são frequentemente retardados. Nos casos em que se utiliza nebulização com epinefrina, os benefícios podem ser de curta duração e podem causar efeitos adversos relacionados à dosagem, como taquicardia, arritmias e hipertensão. Raramente, a laringotraqueobronquite resulta em insuficiência respiratória que leva à necessidade de intubação de emergência e ventilação mecânica.

O uso de uma mistura de hélio e oxigênio (heliox) pode prevenir a morbidade e mortalidade em neonatos que recebem ventilação mecânica, uma vez que esta mistura de gases reduz a viscosidade do ar inalado. Atualmente, o heliox é utilizado durante o transporte de emergência de crianças com laringotraqueobronquite grave. Evidências frágeis sugerem que o heliox alivia o desconforto respiratório.

Esta é uma atualização de uma revisão publicada com versões anteriores em 2010, 2013 e 2018.

Objetivos: 

Comparar o efeito do heliox versus oxigênio ou outras intervenções ativas, placebo, ou nenhum tratamento para aliviar sinais e sintomas em crianças com laringotraqueobronquite, conforme determinado por um escore de laringotraqueobronquite e por taxas de admissão e intubação.

Métodos de busca: 

Em 15 de abril de 2021, fizemos buscas na CENTRAL, que inclui o Cochrane Acute Respiratory Infections Group Specialised Register, MEDLINE, Embase, CINAHL, Web of Science e LILACS. Também fizemos buscas na World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform (apps.who.int/trialsearch/) e ClinicalTrials.gov (clinicaltrials.gov) em 15 de abril de 2021. Entramos em contato com a British Oxygen Company, um dos principais fornecedores de heliox, para obter dados adicionais.

Critério de seleção: 

Ensaios controlados randomizados (ECRs) e quase-randomizados que compararam o efeito do heliox versus placebo, nenhum tratamento, ou qualquer intervenção(ões) ativa(s) em crianças com laringotraqueobronquite.

Coleta dos dados e análises: 

Seguimos as recomendações metodológicas da Cochrane. Os dados que não puderam ser agrupados para análise estatística foram relatados de forma descritiva.

Principais resultados: 

Incluímos 3 ECRs, com um total de 91 crianças, com idades entre 6 meses e 4 anos. Todos os estudos foram conduzidos em departamentos de emergência e duraram entre 7 e 16 meses. Dois estudos foram realizados nos EUA e um na Espanha. O heliox foi administrado como uma mistura de 70% de hélio e 30% de oxigênio. Dois estudos tinham baixo risco de viés e um estudo tinha alto risco de viés, uma vez que era um estudo aberto. Não identificamos nenhum novo estudo para esta atualização de 2021.

Um estudo com 15 crianças com laringotraqueobronquite leve comparou o heliox versus oxigênio a uma concentração de 30%, umidificado, administrado por 20 minutos. Pode não haver diferença entre grupos 20 minutos após a intervenção, conforme avaliado pelo escore de laringotraqueobronquite de Westley (diferença média (DM) -0,83, intervalo de confiança (IC) de 95% -2,36 a 0,70) (intervalo da escala de 0 a 16). Também pode não haver diferença entre os grupos na pontuação média do escore de laringotraqueobronquite 20 minutos após a intervenção (DM -0,57, IC 95% -1,46 a 0,32). Pode não haver diferença entre os grupos quanto à freqüência respiratória média (DM 6,40, IC 95% -1,38 a 14,18) e freqüência cardíaca média (DM 14,50, IC 95% -8,49 a 37,49) 20 minutos após a intervenção. Temos baixa certeza nas evidências para todos os desfechos desta comparação. A confiança nestas evidências foi reduzida devido à presença de grave imprecisão nas estimativas dos efeitos. Todas as crianças tiveram alta hospitalar. Entretanto, não foram relatadas informações sobre hospitalização, intubação ou reapresentação nos departamentos de emergência.

Em outro estudo, com um total de 47 crianças com laringotraqueobronquite moderada, os participantes receberam uma dose de dexametasona oral (0,3 mg/kg) com heliox por 60 minutos ou não receberam nenhum tratamento. O heliox pode melhorar ligeiramente o escore de laringotraqueobronquite de Taussig (escala de 0 a 15) 60 minutos após a intervenção (DM -1,10, IC 95% -1,96 a -0,24). Entretanto, pode não haver diferença entre grupos 120 minutos após a intervenção (DM -0,70, IC 95% -1,56 a 0,16). Crianças tratadas com heliox podem ter um escore médio de laringotraqueobronquite de Taussig mais baixo 60 minutos após a intervenção (DM -1,11, IC 95% -2,05 a -0,17), mas não 120 minutos após a intervenção (DM -0,71, IC 95% -1,72 a 0,30). Também, crianças tratadas com heliox podem ter frequências respiratórias médias mais baixas 60 minutos após a intervenção (DM -4,94, IC 95% -9,66 a -0,22), mas não 120 minutos após a intervenção (DM -3,17, IC 95% -7,83 a 1,49). Pode haver uma diferença nas taxas de hospitalização entre os grupos (odds ratio 0,46, IC 95% 0,04 a 5,41). Temos baixa certeza nas evidências para todos os desfechos desta comparação. A confiança nestas evidências foi reduzida devido à imprecisão em suas estimativas de efeito e ao alto risco de viés devido ao fato de o estudo ser aberto. Não foram relatadas informações sobre freqüência cardíaca e intubação.

No terceiro estudo, com um total de 29 crianças com laringotraqueobronquite moderada a grave, os participantes receberam nebulização fria contínua e dexametasona intramuscular (0,6 mg/kg). Em seguida, eles foram designados aleatoriamente para receber heliox (dado como uma mistura de 70% de hélio e 30% de oxigênio) mais uma a duas doses de soro nebulizado ou oxigênio a um concentração de 100% mais epinefrina nebulizada (adrenalina), com terapia gasosa administrada continuamente por três horas. O heliox pode melhorar ligeiramente o escore de laringotraqueobronquite 90 minutos após a intervenção. Entretanto, o uso do heliox pode resultar em pouca ou nenhuma diferença em geral ao usar uma análise de medidas repetidas. Temos baixa certeza nas evidências para todos os desfechos nesta comparação. A confiança nestas evidências foi reduzida devido à presença de alto risco de viés relacionado a relatos inadequados. Não foram relatadas informações sobre hospitalização ou reapresentação ao departamento de emergência.

Os estudos incluídos não relataram eventos adversos, admissões em terapia intensiva ou dados sobre a ansiedade dos pais.

Não pudemos agrupar os dados disponíveis porque cada comparação incluía dados de apenas um estudo.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina Pereira Nunes Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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