Alveolite seca é uma condição que as vezes aparece após a extração de dentes, sendo mais comum após a extração de dentes do siso no maxilar inferior. Acredita-se que ela esteja ligada à perda parcial ou total do coágulo que se forma no fundo do alvéolo após a extração de um dente, apesar de outros fatores provavelmente estarem envolvidos. A alveolite seca pode ser bastante dolorosa por vários dias após a extração e pessoas com essa condição também podem apresentar mau hálito. Essa condição pode resultar em mais visitas ao dentista ou hospitais dentários, além de outras inconveniências, tais como afastamento do trabalho.
Essa revisão avaliou a literatura existente, com o objetivo de avaliar quais tratamentos podem ser usados para prevenir e tratar a osteíte alveolar (alveolite seca). A procura por estudos existentes foi realizada em 29 de Outubro de 2012.
A equipe de revisão identificou 21 estudos que se enquadravam nos critérios de inclusão: 18 estudos (2376 participantes), avaliando diferentes maneiras de prevenir a alveolite seca e três estudos (194) sobre seu tratamento.
Os estudos avaliaram adultos acima de 18 anos e incluíram (entre outros) pessoas que fumavam e tomavam contraceptivos orais (ambos possíveis fatores de risco). Entretanto, estudos envolvendo pessoas extremamente debilitadas ou com comprometimento imune sistêmico não foram incluídos. Estudos que avaliaram o uso de antibiótico no manejo da alveolite seca não foram incluídos.
Prevenção
Foi encontrado alguma evidência demonstrando que fazer bochechos antes e após a extração dentária com enxaguante de gluconato de clorexidina (em concentrações de 0,12% e 0,2%) reduziu o risco de alveolite seca. A colocação de gel de clorexidina (em concentração de 0,2%) no alvéolo do dente extraído também reduziu o risco de alveolite seca.
O risco de desenvolver alveolite seca depende de vários fatores, alguns ainda desconhecidos. Seu dentista ou profissional de atendimento odontológico pode informá-lo sobre seu próprio risco de desenvolvimento dessa condição.
Para ilustrar a eficácia do tratamento com clorexidina, como uma medida preventiva: se o risco de desenvolver osteíte alveolar (alveolite seca) fosse 1% (um em cem), então 232 pessoas sendo submetidas à extração dentária teriam que ser tratadas para se prevenir um caso de alveolite seca; se o risco fosse de 5%, então o número de pessoas que precisariam ser tratadas para se prevenir um caso de alveolite seca seria 47; se o risco subisse para 30%, o número de pessoas que precisariam ser tratadas para se prevenir um caso de alveolite seca seria 8.
Nesses ensaio clínicos, não foram relatados efeitos colaterais ou reações sérias, devido ao uso da clorexidina. Entretanto, dois episódios sérios associados com o uso do enxaguante de clorexidina para irrigação do alvéolo seco foram relatados no Reino Unido. Caso o paciente tenha um histórico de alergias ou tenha tido reações adversas no passado devido ao uso de enxaguantes de clorexidina, ele deve informar o dentista antes de usar clorexidina. Os pacientes também devem informar o dentista, caso eles apresentem quaisquer sintoma incomum, tais como urticária, coceira ou inchaço dos lábios, durante o uso de clorexidina.
Recomenda-se a todos os membros da equipe dentária, que prescrevem clorexidina, que estejam cientes do potencial de efeitos colaterais tanto menores, quanto sérios, que sejam capazes de manejar uma emergência médica associada à anafilaxia (choque tóxico) e que avisem os pacientes de potenciais efeitos adversos.
Tratamento
Não houve evidências suficientes para se concluir se quaisquer tratamentos melhoraram alveolites secas já estabelecidas ou não.
A maioria das extrações dentárias são conduzidas por dentistas, por diversos motivos, entretanto, com exceção de três estudos, todos os demais incluídos na presente revisão incluíram pacientes sendo submetidos à extração de terceiros molares, a maioria realizada por cirurgiões orais. Há alguma evidência de que bochechar cloredixina ( 0,12% ou 0,2%) ou aplicar gel de clorexidina (0,2%) nos alvéolos de dentes extraídos, provém um benefício na prevenção da alveolite seca. Não houve evidências suficientes para se determinar os efeitos das outras 10 intervenções preventivas, cada uma tendo sido avaliada num estudo isolado. Não houve evidências suficientes para se determinar os efeitos de qualquer intervenção para o tratamento da alveolite seca. A presente revisão encontrou alguma evidência para a associação de reações adversas menores com o uso de enxaguantes de clorexidina 0,12%, 0,2% e 2%, apesar da maioria dos estudos não terem sido planejados para detectar reações de hipersensibilidade a enxaguantes, como parte do protocolo do estudo. Nenhum efeito adverso foi relatado em relação ao uso de gel de clorexidina 0,2% aplicado diretamente dentro do alvéolo (apesar de alergias prévias à clorexidina ser um fator de exclusão nesses estudos). Em vista dos recentes relatos no Reino Unido de dois casos de efeitos adversos severos associados à irrigação do alvéolo seco com enxaguante de clorexidina, é recomendado que todos os membros da equipe dentária, que prescrevam produtos de clorexidina, estejam cientes de potenciais efeitos adversos, tanto menores, quanto severos.
Osteíte alveolar (alveolite seca) é uma complicação de extrações dentárias e ocorre mais frequentemente em extrações envolvendo os dentes molares mandibulares. Ela está associada à dor severa, desenvolvida 2 a 3 dias após a cirurgia, um alvéolo que pode estar parcial ou completamente desprovido de um coágulo de sangue e, em alguns pacientes, pode haver a queixa de halitose. Ela pode resultar em um aumento de visitas pós-operatórias.
Avaliar os efeitos de intervenções locais na prevenção e tratamento da osteíte alveolar (alveolite seca), após extrações dentárias.
As seguintes bases de dados foram buscadas: o Cochrane Oral Health Group Trials Register (até 29 de Outubro de 2012), o Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library 2012, Volume 10), MEDLINE via OVID (1946 até 29 de Outubro de 2012) e EMBASE via OVID (1980 até 29 de Outubro de 2012). Não houve restrições quanto ao idioma ou data de publicação. Também buscamos as listas de referências dos artigos e contatamos experts e organizações para identificar estudos adicionais.
Foram incluídos ensaios clínicos controlados randomizados de adultos acima de 18 anos, que iriam ser submetidos a extrações de dentes permanentes ou que tivessem desenvolvido alveolite seca pós-extração. Incluimos estudos com qualquer tipo de intervenção local, usada para prevenção ou tratamento da alveolite seca, comparando com uma intervenção local diferente, placebo ou nenhum tratamento. Excluimos estudos relatando o uso sistêmico de antibióticos ou o uso de intervenções cirúrgicas no manejo da alveolite seca, porque tais intervenções foram avaliadas separadas em uma revisão Cochrane.
Dois autores da revisão, independentemente, realizaram a avaliação do risco de viés e a extração de dados em duplicata dos estudos incluídos usando uma plataforma pré-desenhada. Quaisquer relatos de eventos adversos foram registrado e resumidos em uma tabela, quando estes estavam disponíveis. Os autores dos ensaios foram contatados para detalhes adicionais, quando estes eram incertos. Seguimos as diretrizes estatísticas da The Cochrane Collaboration e desfechos dicotômicos foram relatados como risco relativo (RR) e calculou-se um intervalo de confiança de 95%, usando-se modelos de efeitos aleatórios. Para alguns dos split-mouth estudos com dados esparsos, não foi possível calcular o RR, então calculou-se o exato odds ratio. Usamos a ferramenta GRADE para avaliar a qualidade do corpo de evidência.
Vinte e um ensaios clínicos, com 2570 participantes, atingiram os critérios de inclusão: 18 estudos, com 2736 participantes, sobre a prevenção da alveolite seca e três estudos, com 194 participantes, sobre o tratamento da alveolite seca. A avaliação de risco de viés identificou seis estudos sob alto risco de viés, 14 sob risco incerto e um sob baixo risco de viés. Quando comparado ao placebo, bochechos com exnaguantes de clorexidina (em concentrações de 0,12% e 0,2%), tanto antes quanto após as extrações, preveniu aproximadamente 42% das alveolites secas, com um RR de 0,58 (IC 95% 0,43 a 0,78; P < 0,001) (quatro ensaios, 750 participantes, qualidade moderada de evidência). A prevalência da alveolite seca variou de 1 a 5%, em extrações dentárias de rotina, até 30% em extrações cirúrgicas de terceiros molares. O número de pacientes que precisariam ser tratados com enxaguate de clorexidina (0,12% ou 0,2%) para que fosse prevenido o desenvolvimento de alveolite seca em um paciente (NNT) seria de 232 (IC 95% 176 a 417), 47 (IC 95% 35 a 84) e 8 (IC 95% 6 a 14) para prevalências de controle de alveolite seca de 1%, 5% e 30%, respectivamente.
Comparado com placebo, a aplicação de gel de clorexidina (0,2%) após extrações preveniu aproximadamente 58% das alveolites secas, com um RR de 0,42 (IC 95% 0,21 a 0,87; P = 0.02) (dois ensaios, com 133 participantes, qualidade de evidência moderada). O número de pacientes que precisariam ser tratados com gel de clorexidina para se prevenir o desenvolvimento de alveolite seca em um paciente seria 173 (IC 95% 127 a 770), 35 (IC 95% 25 a 154) e 6 (IC 95% 5 a 26) para prevalências de controle de alveolite seca de 1%, 5% e 30%, respectivamente.
Outras 10 intervenções intraalveolares para a prevenção de alveolite seca foram avaliadas em estudos isolados e, assim, não há evidências suficientes para se determinar seus efeitos. Cinco intervenções para o tratamento da alveolite seca foram avaliados, num total de três estudos, provendo evidências insuficientes para determinar seus efeitos.
Notas de tradução CD006968.pub2