Sabe-se que a nutrição materna durante a gravidez pode ter um efeito importante sobre o crescimento e desenvolvimento do feto (bebê enquanto ele está dentro do útero). Nossa revisão concluiu que a ingestão regular de comprimidos de cálcio extra durante a gravidez não reduziu o risco do bebê nascer prematuro e também não melhorou outros problemas de saúde que poderiam afetar o bebê. Houve apenas um pequeno aumento no peso ao nascer dos bebês do grupo de mulheres que receberam suplementação de cálcio. A maioria dos estudos incluídos nesta revisão tinha um baixo risco de viés. A qualidade da evidência para resultados específicos foi moderada. A suplementação de cálcio não parece estar associada com efeitos colaterais evidentes. Nossa revisão incluiu 25 ensaios clínicos randomizados, mas apenas 23 estudos (envolvendo 18.587 mulheres) tinham dados que puderam ser incluídos nos resultados. A maior parte da evidência foi baseada em um menor número de estudos.
Esta revisão indica que a suplementação de cálcio na gravidez não traz benefícios adicionais claros na redução dos riscos de parto prematuro ou nascimento de bebês de baixo peso. Apesar da suplementação de cálcio estar associada a um aumento estatisticamente significante de 56 g (em média) no peso ao nascer, houve bastante heterogeneidade desse achado entre os estudos. Além disso, o significado clínico dessa diferença é incerto.
A nutrição materna durante a gravidez afeta o crescimento e desenvolvimento fetal. É recomendado que as mulheres aumentem sua ingestão de cálcio durante a gravidez e a lactação. Porém, a dose recomendada pelos profissionais é variável. Atualmente, não existe consenso sobre o papel da suplementação rotineira de cálcio durante a gestação, exceto para prevenir ou tratar a hipertensão arterial.
Avaliar o efeito da suplementação de cálcio sobre desfechos maternos, fetais e neonatais (exceto para prevenção e tratamento da hipertensão), bem como possíveis efeitos colaterais dessa intervenção.
Fizemos buscas na base de dados Cochrane Pregnancy and Childbirth Group’s Trials Register (30 de setembro de 2014).
Incluímos todos os ensaios clínicos randomizados (ECR) publicados, não publicados ou em andamento, que comparavam desfechos maternos, fetais e neonatais em gestantes que receberam suplementação de cálcio versus placebo ou nenhum tratamento. Os ECR tipo cluster também poderiam ser incluídos. Porém, não identificamos nenhum estudo desse tipo. Os ensaios clínicos quasi randomizados e os estudos do tipo cross-over não foram considerados elegíveis para inclusão.
Dois revisores, trabalhando de forma independentemente, fizeram a seleção dos estudos, avaliaram seus riscos de viés, fizeram a extração dos dados e checaram sua acurácia.
Encontramos 25 estudos elegíveis para inclusão, mas apenas 23 deles contribuíram com dados para a revisão. Esses 23 estudos envolveram 18.587 mulheres, sendo que 17.842 delas foram incluídas nas análises finais. Não houve diferença estatisticamente significativa entre as mulheres que receberam suplementação de cálcio versus aquelas que não receberam no risco de parto prematuro com menos de 37 semanas : risco relativo (RR) 0,86, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,70 a 1,05, 13 estudos, 16.139 mulheres; modelo de efeitos aleatórios. Também não houve diferença no risco de parto prematuro com menos de 34 semanas: RR 1,04, IC 95% 0,80 a 1,36, 4 estudos, 5669 mulheres. A maioria dos estudos tinha baixo risco de viés. Fizemos uma análise de sensibilidade para o desfecho parto prematuro com menos de 37 semanas eliminado 2 ECR com risco de viés incerto para sigilo de alocação. Essa análise mostrou menor risco desse desfecho no grupo suplementado com cálcio: RR 0,80, IC 95% 0,65 até 0,99, 11 estudos, 15.379 mulheres. Não houve diferença significativa entre os dois grupos (com e sem suplementação de cálcio) para o risco de dar a luz a bebês de baixo peso: RR 0,93, IC 95% 0,81 até 1,07, 6 estudos, 14.162 neonatos, modelo de efeitos aleatórios. Entretanto, as mulheres que receberam suplementos de cálcio deram à luz bebês com peso um pouco maior que aquelas do grupo controle: diferença média 56,40 gramas, IC 95% 13,55 até 99,25 g, 21 estudos, 9202 mulheres, modelo de efeitos aleatórios.
Avaliamos três desfechos usando o software GRADE: parto prematuro com menos de 37 semanas, parto prematuro com menos de 34 semanas, e baixo peso ao nascer (< 2500 g). A qualidade da evidência para esses desfechos foi moderada.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Gustavo Daniel dos Santos Gomes) Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br