Máquinas de compressão mecânica do tórax para pessoas em parada cardíaca

Pergunta da revisão

Revisamos qual método de compressões torácicas salva mais vidas durante ressuscitação cardiopulmonar (RCP) para parada cardíaca: compressão manual tradicional ou utilização de máquina de compressão.

Introdução

A “parada cardíaca súbita” ocorre quando o coração para de bater inesperadamente. Na ressuscitação cardiopulmonar, também conhecida como RCP, o socorrista aplica compressões rítmicas no peito da vítima de parada cardíaca para que o sangue circule adiante. Assim, o sangue chega aos órgãos vitais da vítima enquanto seu coração não está fazendo o bombeamento. Foi demonstrado que a RCP aumenta a chance de o coração voltar a bater e da vítima sobreviver. Desenvolveram-se máquinas para realizar essas compressões. Tais dispositivos utilizam pistões automatizados, coletes pneumáticos ou mecanismos semelhantes a faixas. Teoricamente, essas máquinas deveriam ser mais eficazes no bombeamento do que a técnica manual realizada por humanos, uma vez que as máquinas não fazem pausas nem se cansam. Além disso, tais máquinas fornecem pressão e frequência consistentes para cada compressão torácica de acordo com a prática baseada em evidência mais recente. Alguns estudos preliminares que testaram essas máquinas mostraram que elas são fáceis de usar e podem salvar a vida de pessoas em parada cardíaca. Esta é uma atualização da Revisão Cochrane sobre dispositivos mecânicos de compressão torácica originalmente publicada em 2011 e atualizada pela última vez em 2014.

Características do estudo

Esta evidência está atualizada até agosto de 2017. Pesquisamos na literatura e encontramos um total de 2.554 citações potencialmente relevantes. Após revisarmos cada uma delas, encontramos 11 artigos descrevendo ensaios clínicos randomizados (um tipo de estudo) que poderiam ajudar a responder nossa pergunta. Em conjunto, esses estudos incluíram 12.944 participantes adultos que sofreram parada cardíaca dentro ou fora do hospital. Os estudos mais recentes incluídos nesta atualização são maiores e têm mais qualidade do que aqueles identificados em versões anteriores desta revisão. Vários estudos foram patrocinados por fabricantes de dispositivos.

Principais resultados

Verificamos que os estudos disponíveis apresentam diferenças importantes entre si. As diferenças mais importantes foram o tipo de dispositivo mecânico estudado e o tipo de protocolo de RCP executado nos pacientes do grupo de compressão torácica manual. Essas diferenças dificultam a comparação entre os estudos. Alguns estudos relataram melhorias na taxa de sobrevivência dos pacientes tratados com compressões torácicas mecânicas em comparação com os pacientes tratados com compressões torácicas manuais. Outros estudos não relataram nenhuma diferença ou até mesmo sugeriram danos associados às compressões torácicas mecânicas. Ao considerar todos os estudos identificados em conjunto, os dispositivos mecânicos de compressão torácica provavelmente têm um efeito muito semelhante na sobrevivência quando comparados com as compressões torácicas manuais de alta qualidade.

Qualidade da evidência

A qualidade geral da evidência melhorou consideravelmente a partir da inclusão de vários grandes estudos. A qualidade da evidência agora pode ser considerada baixa a moderada.

Conclusão dos autores: 

A evidência não sugere que os protocolos de RCP envolvendo dispositivos mecânicos de compressão torácica sejam superiores à terapia convencional envolvendo apenas compressões torácicas manuais. Baseados na evidência atual, concluímos que os dispositivos mecânicos de compressão torácica usados por indivíduos treinados são uma alternativa razoável às compressões torácicas manuais em situações nas quais compressões torácicas manuais consistentes e de alta qualidade não são possíveis ou são perigosas para quem as realiza (como, por exemplo, número limitado de profissionais disponíveis, RCP prolongada, durante parada cardíaca hipotérmica, em ambulância em movimento, na sala de angiografia, durante preparação para ressuscitação cardiopulmonar extracorpórea (RCPE) etc.). Os sistemas que optarem por incorporar dispositivos mecânicos de compressão torácica devem ser monitorados de perto porque alguns dados identificados nesta revisão sugeriram dano. Atenção especial deve ser dada para minimizar o tempo sem compressões e os atrasos na desfibrilação durante a implantação do dispositivo.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Dispositivos mecânicos de compressão torácica têm sido propostos para melhorar a efetividade da RCP.

Objetivos: 

Avaliar a efetividade das estratégias de ressuscitação com compressões torácicas mecânicas versus compressões torácicas manuais padronizadas sobre a sobrevida sem sequela neurológica de pacientes que sofreram uma parada cardíaca.

Métodos de busca: 

Em 19 de agosto de 2017, pesquisamos os seguintes bancos de dados: Cochrane Central Register of Controlled Studies (CENTRAL), MEDLINE, Embase, Science Citation Index-Expanded (SCI-EXPANDED) e Conference Proceedings Citation Index-Science. O Biotechnology and Bioengineering Abstracts e Science Citation abstracts haviam sido pesquisados até novembro de 2009 nas versões anteriores desta revisão. Pesquisamos também duas plataformas de ensaios clínicos para identificar estudos em andamento não detectados pela busca nos bancos de dados de trabalhos publicados: ClinicalTrials.gov (agosto de 2017) e World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform portal (janeiro de 2018). Não houve restrição de idiomas. Entramos em contato com fabricantes e especialistas da área dos dispositivos mecânicos de compressão torácica.

Critério de seleção: 

Incluímos estudos clínicos controlados e randomizados (ECRs) individuais e por cluster e estudos quasi-randomizados que compararam compressões torácicas mecânicas versus compressões torácicas manuais durante RCP para pacientes em parada cardíaca.

Coleta dos dados e análises: 

Adotamos os procedimentos metodológicos padronizados esperados pela Cochrane.

Principais resultados: 

Incluímos cinco novos estudos nesta atualização. No total, incluímos 11 estudos na revisão, com dados de 12.944 participantes adultos que sofreram parada cardíaca dentro ou fora do hospital. Excluímos os estudos que incluíram apenas pacientes vítimas de parada cardíaca por trauma, afogamento, hipotermia e substâncias tóxicas. Essas condições são rotineiramente excluídas dos estudos de intervenção em parada cardíaca porque têm uma fisiopatologia subjacente diferente, requerem uma variedade de intervenções específicas para a condição subjacente e, são conhecidas por terem um prognóstico diferente do da parada cardíaca sem causa evidente. As exclusões tiveram como propósito reduzir a heterogeneidade na população mantendo a possibilidade de generalização dos achados para a maioria dos pacientes com morte súbita cardíaca.

A qualidade geral da evidência para os desfechos dos estudos incluídos foi de moderada a baixa devido ao risco considerável de viés. Três estudos (n = 7.587) avaliaram o desfecho primário de interesse sobrevida até alta hospitalar com boa função neurológica (definida como um escore de um ou dois na escala Cerebral Performance Category), com evidência de qualidade moderada. Um estudo não mostrou diferença com o uso de compressões torácicas mecânicas (risco relativo (RR) 1,07, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,82 a 1,39). Um estudo relatou equivalência (RR 0,79, IC 95% 0,60 a 1,04) com o grupo de compressões manuais. O último estudo relatou menor sobrevida no grupo das compressões mecânicas (RR 0,41, IC 0,21 a 0,79). Dois outros desfechos secundários, sobrevida até internação (n = 7.224) e sobrevida até alta hospitalar (n = 8.067), também tiveram evidência de qualidade moderada. Nenhum estudo encontrou uma diferença na sobrevida até a internação hospitalar. Para sobrevida até a alta hospitalar, dois estudos encontraram benefício a favor das compressões mecânicas, quatro estudos não encontraram diferença, e um estudo relatou dano associado às compressões mecânicas. Nenhum estudo encontrou diferença nos eventos adversos ou padrões de lesão entre os grupos de comparação, mas a qualidade dos dados foi baixa. Devido à alta heterogeneidade clínica e estatística entre os estudos, não fizemos metanálises e não obtivemos estimativas combinadas de efeitos.

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Afiliado Paraíba, Centro Cochrane do Brasil (Saulo Mendes Sobreira Neto e David Cesarino de Sousa). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br.

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