Tratamento medicamentoso para o arrancamento recorrente do cabelo (tricotilomania)

A tricotilomania (TTM) é uma doença comum e incapacitante caracterizada por puxar repetidamente o cabelo, levando à sua queda. TTM pode estar associada a muito sofrimento e incapacidade. Pode também estar associada a outras doenças psiquiátricas (conhecidas como comorbilidades), como a depressão e as perturbações de ansiedade. Os investigadores propuseram que a medicação pode ser útil para tratar esta doença.

Quem são os interessados nesta revisão?

- Pessoas com TTM ou outras comorbilidades comuns.

- Familiares e amigos de pessoas que têm TTM ou outras comorbilidades comuns.

- Clínicos de saúde mental, médicos de clínica geral, psiquiatras, psicólogos e farmacêuticos.

A que questões pretende esta revisão responder?

- A medicação é um tratamento eficaz para o TTM em adultos ou em crianças e adolescentes? Ou seja, tem o resultado pretendido?

- A medicação reduz a gravidade dos sintomas em adultos ou crianças e adolescentes com TTM?

- A medicação auxilia no tratamento dos sintomas de depressão em adultos ou crianças e adolescentes com TTM?

- A medicação é eficaz e tolerável para as pessoas em termos de efeitos secundários?

- A medicação melhora a qualidade de vida e reduz a incapacidade?

Quais foram os estudos incluídos nesta revisão?

- Incluímos nove estudos que compararam um medicamento com um placebo (substância de controlo/não um medicamento ativo) para o tratamento da TTM em adultos.

- Incluímos um estudo que comparou dois medicamentos antidepressivos diferentes entre si para o tratamento do TTM em adultos.

- Incluímos um estudo que comparou um medicamento com um placebo para o tratamento de TTM em crianças e adolescentes com idades compreendidas entre os 8 e os 17 anos.

- Incluímos um estudo que comparou um medicamento com um placebo para o tratamento de TTM em crianças e adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 65 anos.

- Um total de 298 adultos foram incluídos nos 11 estudos conduzidos em adultos, e um total de 43 crianças e adolescentes foram incluídos nos dois estudos conduzidos com participantes desta faixa etária.

O que é que a evidência desta revisão nos diz?

A análise de estudos individuais ou de múltiplos estudos científicos (conhecida como meta-análise) não forneceu evidência suficiente para confirmar ou refutar a eficácia de qualquer agente específico ou classe de medicamentos para o tratamento de TTM em adultos, crianças ou adolescentes. Nos adultos, a evidência sugere que os antidepressivos tricíclicos (ADTs; um tipo de antidepressivo) com acções predominantemente inibidoras da recaptação da serotonina (IRS; aumentando os níveis de serotonina no cérebro) podem mostrar um efeito benéfico do tratamento em comparação com outros ADTs, com redução da gravidade dos sintomas de TTM. No entanto, a certeza na estimativa do efeito foi baixa e baseia-se num único estudo que comparou a clomipramina com a desipramina. Os antipsicóticos em adultos podem mostrar um efeito benéfico do tratamento e uma possível redução da gravidade dos sintomas de TTM, com baixa certeza na estimativa do efeito, com base num único estudo com olanzapina. Os moduladores do glutamato (um tipo de modulador de aminoácidos) em adultos mostraram um provável efeito benéfico do tratamento e uma provável redução da gravidade dos sintomas de TTM, com incerteza moderada na estimativa do efeito, embora com base num único ensaio de N-acetilcisteína (NAC; um modulador do glutamato). Os moduladores de glutamato em crianças e adolescentes (8 a 17 anos) não mostraram evidência de efeito benéfico em termos da percentagem de participantes que responderam ao tratamento num único estudo de NAC. No entanto, as evidências sugerem uma potencial grande redução na gravidade dos sintomas de TTM; porém, com baixa certeza na estimativa. Houve pouca ou nenhuma evidência de efeitos benéficos do tratamento em termos da percentagem de participantes que responderam ao tratamento ou da redução da gravidade dos sintomas de TTM relatados para antioxidantes, transdutores de sinal celular, antagonistas opióides ou inibidores selectivos da recaptação da serotonina (ISRSs; um tipo de antidepressivo) em adultos, crianças ou adolescentes.

A desistência devido a acontecimentos adversos só foi notificada para os ISRS e os ADT com ações predominantemente IRS em adultos e para os moduladores do glutamato em crianças e adolescentes. Os moduladores do glutamato apresentaram o perfil de efeitos secundários menos grave nos adultos, enquanto os antipsicóticos foram associados a vários efeitos secundários adversos, embora com baixa certeza na estimativa do efeito e com base em estudos individuais para cada classe de medicamentos. Houve evidência de baixa qualidade mostrando que não houve diferença nas desistências devido a eventos adversos entre o grupo dos moduladores de glutamato e o grupo placebo no único estudo realizado exclusivamente em crianças e adolescentes.

O que deve acontecer a seguir?

Há alguma evidência de que a NAC (um modulador do glutamato) provavelmente demonstra eficácia na TTM em adultos e possível redução da gravidade dos sintomas em crianças e adolescentes. Existem algumas provas de que a olanzapina (um antipsicótico) e a clomipramina (um ADT com acções predominantemente ISRS) podem demonstrar eficácia no TTM em adultos, embora com base em ensaios individuais e, por conseguinte, não generalizáveis a outros agentes das mesmas classes de medicamentos. Os estudos são escassos e as amostras são pequenas, pelo que não é possível tirar conclusões de elevada qualidade a partir de uma meta-análise. São necessários estudos adicionais, com desenhos rigorosos e amostras com a potência adequada, especialmente em crianças e adolescentes. Os estudos futuros poderão também incluir pessoas com comorbilidades comuns, uma vez que a atual base de evidências pode não ser representativa das populações clínicas, que podem ter múltiplas doenças médicas e psiquiátricas.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Eduarda Rodrigues Costa, Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental da Infância e da Adolescência, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

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