Introdução
Em todo o mundo, as infecções são a principal causa isolada de morte neonatal (morte do bebê nos primeiros dias depois do parto). Elas são responsáveis por quase um terço de todos os casos de mortes neonatais. Intervenções que sejam eficazes, viáveis e com custo acessível são necessárias para reduzir as infecções neonatais e melhorar a sobrevida dos bebês recém-nascidos. A clorexidina, um antisséptico de amplo espectro, age contra os micróbios que costumam causar infecções perinatais. A clorexidina pode ser usada na pele ou no cordão umbilical (ou ambos) para prevenir infecções. Essa é uma possível estratégia para aumentar as chances dos recém-nascidos sobreviverem. Nesta revisão, avaliamos os efeitos de usar clorexidina na pele ou no cordão de bebês nascidos em hospitais ou em casa, versus oferecer cuidados habituais ou nenhum tratamento, sobre o risco dos bebês morrerem ou desenvolverem infecções.
Características do estudo
Nós pesquisamos a literatura médica buscando por estudos, envolvendo partos hospitalares ou fora dos hospitais.que avaliaram infecções e mortes em recém-nascidos randomizados para receber clorexidina ou cuidados habituais. Incluímos todos estudos publicados até novembro de 2013. Encontramos 12 estudos relevantes: 7 estudos envolvendo partos hospitalares e 5 estudos em partos feitos fora dos hospitais. Quatro estudos usaram clorexidina para higienizar a vagina da mãe, além de limpar a pele do bebê e o cordão umbilical. A duração dos estudos incluídos variou de 6 até 37 meses. Cada estudo incluiu entre 112 até 29.760 participantes. Nenhum dos estudos incluídos relatou qualquer conflito de interesse ou recebeu financiamento de indústrias farmacêuticas.
Principais achados
Uso de clorexidina na pele ou cordão umbilical de recém nascidos versus cuidados habituais em hospitais
Não parece haver diferença no risco de mortalidade entre os bebês que usaram clorexidina para limpeza do cordão umbilical versus aqueles que receberam curativos secos. Entretanto, a limpeza do cordão com clorexidina provavelmente reduz o risco do bebê desenvolver onfalite (inflamação do cordão) ou infecções.
A limpeza da pele do bebê com clorexidina comparada com curativo seco no cordão não produziu nenhuma diferença no risco de onfalite ou infecções. Nenhum dos estudos que fez essa comparação avaliou o risco de morte dos bebês.
Uso de clorexidina na pele ou cordão umbilical de recém nascidos versus cuidados habituais em partos fora do hospital
O uso de clorexidina para limpar o cordão reduz o risco de mortalidade, onfalite e infecções neonatais, quando comparado com o uso de curativo seco no cordão. Não houve diferença no risco de mortalidade dos bebês que usaram clorexidina para limpeza da pele versus cuidados habituais. Nenhum dos estudos que fizeram essa comparação avaliou os efeitos do tratamento na onfalite ou infecções.
Uso de clorexidina para higienizar a vagina materna mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção (solução salina estéril) em partos hospitalares
Não parece haver diferença no risco de mortalidade e infecção neonatal com o uso de clorexidina para higienizar a vagina materna mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção. O uso de clorexidina para higienizar a vagina materna mais limpeza corporal total aumenta o risco de hipotermia.
Uso de clorexidina para higienizar a vagina materna mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção (solução salina estéril) em partos fora do hospital
Não houve diferença no risco de mortalidade neonatal entre os grupos que usaram clorexidina para higienizar a vagina materna mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção. O uso da clorexidina para higienizar a vagina da mãe mais limpeza corporal total parece reduzir o risco de infecções neonatais, em comparação com nenhuma intervenção. Nenhum dos estudos que fizeram essa comparação avaliou os efeitos das intervenções sobre o risco de onfalite.
Qualidade da evidência
A confiança na estimativa do efeito (qualidade de evidência) para os efeitos da clorexidina na mortalidade neonatal e onfalite ou infecção neonatal foi variada (baixa, moderada e alta ). As principais razões para rebaixar a qualidade da evidência foram: estudos conduzidos de forma incorreta e falta de dados..
Existe alguma incerteza quanto ao efeito do uso da clorexidina no cordão umbilical na mortalidade neonatal de bebês cujos partos ocorreram em hospitais. Existe evidência de moderada qualidade para os efeitos do uso da clorexidina no cordão sobre o risco de infecção. Existe evidência de baixa qualidade para os efeitos do uso da clorexidina na pele sobre o risco de infecção. Existe evidência de alta qualidade que o uso de clorexidina na pele ou cordão reduz em 50% a incidência de onfalite e em 12% o risco de mortalidade neonatal em partos realizados fora do hospital. O uso da clorexidina vaginal versus cuidados habituais provavelmente não está assocada à nenhuma diferença na mortalidade neonatal em partos hospitalares. O uso de clorexidina vaginal versus cuidados habituais não modifica o risco de infecções em partos hospitalares. As incertezas sobre o efeito da clorexidina vaginal na mortalidade neonatal em partos fora do hospital se devem ao pequeno tamanho amostral e baixas taxas de eventos.
Intervenções que sejam eficazes, viáveis e com custo acessível são necessárias para reduzir as infecções neonatais e melhorar a sobrevida neonatal. A clorexidina, um antisséptico tópico de amplo espectro, é ativa contra micro-organismos aeróbicos e anaeróbicos, reduz a colonização bacteriana e pode diminuir o risco de infecções neonatais.
Avaliar a eficácia do uso de clorexidina na pele e no cordão umbilical de recém nascidos de termo ou prematuros tardios versus cuidados habituais ou nenhum tratamento para prevenção de infecções neonatais em partos hospitalares e fora dos hospitais.
Fizemos buscas nos seguintes bancos de dados: CENTRAL, Cochrane Library (até a última edição), MEDLINE (1966 até novembro de 2013), EMBASE (1980 até novembro de 2013) e CINAHL (1982 até novembro de 2013). Também fizemos buscas nas plataformas de registros de ensaios clínicos www.clinicaltrials.gov e www.controlled-trials.com para identificar estudos em andamento.
Incluímos ensaios clínicos randomizados controlados tipo “cluster” e de pacientes individuais que usaram clorexidina (na pele, cordão umbilical ou ambos) em recém nascidos de termo ou pré-termo tardios, nascidos no hospital e fora dele. Três autores, trabalhando de forma independente, selecionaram os estudos para inclusão.
Dois autores, trabalhando de forma independente, extraíram os dados e avaliaram o risco de viés dos estudos. A qualidade da evidência para cada desfecho foi avaliada usando o GRADE. Calculamos os riscos relativos (RRs) e as diferenças de risco (RDs) com intervalos de confiança (ICs) de 95%. Apresentamos os resultados usando a tabela de resumo de achados GRADE.
Incluímos 12 estudos nesta revisão. Sete estudos envolveram partos hospitalares e cinco envolveram partos ocorridos fora dos hospitais. Quatro estudos usaram clorexidina para higienizar a vagina da mãe, além de limpar a pele do bebê e o cordão umbilical.
Limpeza da pele ou cordão do recém-nascido com clorexidina versus cuidados habituais em partos hospitalares
Existe evidência baixa qualidade, proveniente de um estudo, que a limpeza do cordão com clorexidina versus curativo seco do cordão, não modifica o risco de mortalidade neonatal: RR 0,11, IC 95% 0,01 a 2,04. Existe evidência de qualidade moderada, proveniente de dois estudos, que a limpeza do cordão com clorexidina versus curativo seco do cordão, provavelmente reduz o risco de onfalite/infecções: RR 0,48, IC 95% 0,28 a 0,84.
Existe evidência de baixa qualidade, proveniente de dois estudos, que a limpeza da pele com clorexidina versus curativo seco do cordão, não modifica o risco de onfalite/infecções:RR 0,88, IC 95% 0,56 a 1,39. Nenhum dos estudos que fizeram esta comparação avaliaram os efeitos do tratamento na mortalidade neonatal.
Limpeza da pele ou cordão do recém-nascido com clorexidina versus cuidado habitual em partos fora do hospital
Existe evidência de alta qualidade, proveniente de três estudos, que a limpeza do cordão com clorexidina, comparada com curativo seco do cordão, reduz a mortalidade neonatal (RR 0,81, IC 95%. IC 0,71 a 0,92) e onfalite/infecções (RR 0,48, IC 95% 0,40 a 0,57).
Existe evidência de alta qualidade, proveniente de um estudo, que não há diferença entre limpeza da pele com clorexidina versus cuidados habituais na mortalidade neonatal: RR 1.03, IC 95% 0,87 a 1,23. Nenhum dos estudos que fizeram esta comparação avaliou os efeitos do tratamento na onfalite/infecções.
Uso de clorexidina para higienizar a vagina materna mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção (solução salina estéril) em partos hospitalares
Existe evidência de qualidade moderada, proveniente de um estudo, que não há diferença entre o uso de clorexidina vaginal materna mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção na mortalidade neonatal: RR 0,98, 95% IC 0,67 a 1,42. Existe evidência de alta qualidade, proveniente de dois estudos, que não há diferença entre o uso de clorexidina vaginal mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção no risco de infecções: RR 0,93, IC 95% 0,82 a 1,16.
Os resultados de um estudo indicam que o uso da higienização vaginal materna mais limpeza corporal total aumenta o risco de hipotermia: RR 1,33, IC 95% 1,19 a 1,49.
Uso de clorexidina para higienizar a vagina materna mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção (solução salina estéril) em partos fora do hospital
Existe evidência de baixa qualidade, proveniente de um estudo, que não há diferença entre o uso de clorexidina vaginal mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção na mortalidade neonatal: RR 0,20,IC 95% 0,01 a 4,03. Existe evidência de moderada qualidade, proveniente de um estudo. que o uso de clorexidina vaginal mais limpeza corporal total versus nenhuma intervenção provavelmente reduz o risco de infecções neonatais: RR 0,69, IC 95% 0,49 a 0,95. Estes estudos não avaliaram os efeitos das intervenções no risco de onfalite.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Christieny Chaipp Mochdece). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br