Pergunta da revisão
Quais são os efeitos de intervenções dietéticas ou atividade física, ou as duas, baseadas no modelo transteórico (TTM) de estágios de mudança (EM) na produção de perda de peso sustentável (um ano ou mais) em adultos com sobrepeso e obesos?
Introdução
Os programas de perda de peso geralmente envolvem mudanças na dieta e atividade física. O modelo TTM descreve uma série de cinco estágios de mudança (EM) pelos quais um indivíduo passa quando muda um comportamento não saudável para um saudável. Nesta revisão, nós avaliamos o uso do TTM de EM para programas de emagrecimento em adultos com sobrepeso e obesos, especialmente em termos dos efeitos sobre a perda de peso, os hábitos alimentares, a atividade física e mudanças de comportamento.
A obesidade (índice de massa corporal 30 kg/m² ou mais) e o sobrepeso (índice de massa corporal entre 25 a 29,9 kg/m²) são cada vez mais importantes em saúde pública e levam a graves problemas de saúde e grandes custos econômicos mundialmente. O índice de massa corporal (IMC) é uma medida de gordura do corpo e é definido como o peso de um indivíduo em quilogramas dividido pela altura ao quadrado em metros. O IMC deve ser considerado como uma avaliação aproximada da massa gordurosa de populações em geral, e pode não representar o mesmo nível de adiposidade em pessoas diferentes (como atletas e indivíduos não ativos fisicamente).
Características do estudo
Incluímos três estudos nesta revisão sistemática. Ao todo, os estudos avaliaram 2.971 participantes: 1.467 foram alocados nos grupos intervenção e 1.504 nos grupos controle. A duração da intervenção foi de 9, 12 e 24 meses nos diferentes estudos.
Este resumo para leigos foi atualizado até dezembro de 2013.
Resultados principais
O uso do modelo transteórico TTM de EM em combinação com atividade física ou dieta, ou ambos, ou outras intervenções que foram avaliadas nos estudos incluídos forneceram evidências não conclusivas a respeito do impacto dessas intervenções na perda de peso sustentada (a diferença média em favor do TTM de EM ficou entre 2,1 kg e 0,2 kg aos 24 meses). Entretanto, outros efeitos positivos foram observados, como mudanças nos hábitos alimentare e atividade física, que incluíram maior duração e frequência dos exercícios, a diminuição da ingestão de gordura e o aumento do consumo de frutas e vegetais. Os estudos não relataram sobre outros desfechos importantes, como a qualidade de vida relacionada com a saúde, doenças (morbidade) e custos econômicos.
Qualidade da evidência
Em geral, a qualidade da evidência dos estudos foi baixa ou muito baixa. As principais limitações incluíram o relato incompleto dos desfechos, falhas metodológicas, extenso uso de medidas relatadas pelos próprios participantes e, por fim, avaliação insuficiente do efeito a longo prazo das intervenções, já que não foram feitas avaliações de longo prazo.
A evidência para apoiar o uso da TTM de EM em intervenções de perda de peso é limitada devido ao risco de viés e imprecisão, não permitindo conclusões firmes. Encontramos evidências de qualidade muito baixa de que a associação dessa intervenção com dieta ou atividade física, ou os dois, e outras intervenções, levaria a melhores hábitos alimentares e de atividade física. Esta revisão sistemática destaca a necessidade da realização de ECR bem planejados que usem adequadamente os princípios do TTM de EM para produzir evidências conclusivas sobre o efeito dessas intervenções sobre a perda de peso e outros desfechos de saúde.
A obesidade é uma ameaça global à saúde pública. O modelo transteórico de estágios de mudanças (TTM de EM) tem sido considerado uma abordagem útil em programas de mudanças de estilo de vida, mas sua efetividade na perda de peso sustentável em indivíduos com sobrepeso e obesos varia consideravelmente.
Avaliar a efetividade de intervenções dietéticas ou de atividade física, ou as duas, e outras intervenções baseadas no modelo transteórico (TTM) de estágios de mudanças (EM) na promoção de perda de peso sustentável (um ano ou mais) em adultos com sobrepeso e obesos.
Pesquisamos as seguintes bases de dados: Cochrane Library,MEDLINE, EMBASE e PsycINFO.A data da última busca para todas as bases de dados foi 17 de dezembro de 2013.
Os estudos foram incluídos se preenchessem todos os critérios a seguir: ser um ensaio clínico randomizado (ECR) usando o TTM de EM como modelo, isso como parte de um conceito de base ou de uma diretriz para desenhar estratégias de modificação de estilo de vida, em sua maioria intervenções de dieta e de atividade física, em comparação com uma intervenção envolvendo cuidados habituais; ter a perda de peso como um dos desfechos, medida como a mudança no peso ou no índice de massa corporal (IMC); serem os participantes exclusivamente pessoas com sobrepeso ou obesos; e a intervenção ser implementada por profissionais de saúde ou leigos treinados, nos hospitais e na comunidade, incluindo no domicílio.
Dois autores de revisão extraíram os dados, avaliaram os estudos para o risco de viés e a qualidade geral dos estudos de acordo com o GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation), independentemente. Resolvemos as discordâncias através de discussão ou consulta de uma terceira pessoa. Apresentamos uma análise descritiva e narrativa da revisão sistemática.
Três estudos preencheram os critérios de inclusão. Esses estudos alocaram 2.971 participantes: 1.467 para os grupos de intervenção e 1.504 para o grupos de controle. A duração da intervenção foi de 9, 12 e 24 meses nos diferentes estudos. Existe evidência inconclusiva que o TTM de EM em combinação com dieta ou atividade física, ou os dois, e outras intervenções levam à perda de peso sustentada (a diferença média entre o grupo de intervenção e controle variou de 2,1 kg a 0,2 kg nos 24 meses; 2.971 participantes; 3 estudos; evidência de baixa qualidade). O uso do TTM de EM melhorou a atividade física e os hábitos alimentares, evidenciados como aumento da duração e da frequência do exercício, redução do consumo de gorduras e aumento do consumo de frutas e verduras (qualidade da evidência muito baixa). Um dos estudos descreveu ganho de peso como um evento adverso. Nenhum dos estudos apresentou qualidade de vida relacionada à saúde, morbidade ou custo econômico como desfechos. O pequeno número de estudos e a variabilidade da qualidade metodológica limitou a aplicabilidade dos achados para a prática clínica. As limitações principais incluíram: falhas na descrição dos desfechos e nos métodos usados para alocação, randomização e cegamento; uso extensivo de medidas autorrelatadas para estimar os efeitos das intervenções em vários desfechos, incluindo perda de peso, consumo alimentar e níveis de atividade física, e pouca investigação do prolongamento do efeito devido à falta de avaliação pós-intervenção.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Maíra Tristão Parra).