Inicialmente, nós queríamos descobrir se técnicas de desobstrução das vias aéreas são úteis para pessoas com bronquiectasia. A partir de pequena quantidade de dados que encontramos, não parecia haver nenhuma diferença no número de exacerbações (crises). Técnicas de desobstrução das vias aéreas parecem ser seguras. Com base em um estudo pequeno, podemos dizer que há uma melhoria na qualidade de vida. Técnicas de desobstrução das vias aéreas também resultaram em maior quantidade de escarro expelido dos pulmões e algumas melhorias em medidas definidas de função pulmonar. Os outros desfechos em que estávamos interessados eram as internações, os sintomas, a oxigenação e a prescrição de antibióticos, mas esses resultados ainda não foram relatados por nenhum estudo. No geral, ainda é desconhecido o impacto das técnicas de desobstrução das vias aéreas em indivíduos que contraem infecção no pulmão. Com base nessas informações, as diretrizes atuais para o tratamento de bronquiectasia recomendam avaliação de rotina para técnicas de desobstrução das vias aéreas e prescrição, conforme exigido, rotineiramente.
Que evidências nós encontramos?Elas eram boas? Havia cinco estudos sobre 51 pessoas com bronquiectasia. Apenas dois desses estudos duraram seis meses, os outros avaliavam apenas uma sessão de tratamento e, destes, é difícil saber se qualquer melhoria seria mantida em longo prazo. Os métodos utilizados para conduzir os estudos não foram bem relatados. Por isso, em geral, classificamos as evidências como de baixa qualidade. Três estudos foram financiados por instituições de pesquisa ou organizações do governo e os outros dois estudos não relataram a fonte de financiamento.
O que é bronquiectasia?Pessoas com bronquiectasia frequentemente relatam sintomas de tosse, produção de expectoração excessiva e falta de ar e correm o risco de ter infecções pulmonares.
O que são técnicas de desobstrução das vias aéreas?Elas são um tipo de tratamento fisioterápico de desobstrução brônquica, frequentemente prescrito para ajudar as pessoas com tosse com secreção em seus pulmões.
As técnicas de desobstrução das vias aéreas parecem ser seguras para indivíduos (adultos e crianças) com bronquiectasia estável, em que pode haver melhorias na expectoração do escarro, nas medidas selecionadas da função pulmonar e na saúde relacionada com qualidade de vida. O papel dessas técnicas em pessoas com exacerbação aguda de bronquiectasias é desconhecido. Tendo em vista a natureza crônica da bronquiectasia, são necessários mais dados para estabelecer o valor clínico das técnicas de desobstrução das vias aéreas a curto e longo prazo sobre desfechos importantes para o paciente, incluindo sintomas, e também sobre desfechos fisiológicos. Novos estudos poderão esclarecer as razões para uso de cada técnica e estabelecer parâmetros de longo prazo com impacto sobre a progressão da doença em indivíduos com bronquiectasia estável. Isso é necessário a fim de proporcionar maior orientação de prescrição de técnicas de desobstrução das vias aéreas específicas para pessoas com bronquiectasia. Também pode ser importante estabelecer o efeito comparativo entre diferentes tipos de técnicas de desobstrução das vias aéreas em pessoas com bronquiectasia.
Pessoas sem fibrose cística que têm bronquiectasia costumam ter tosse crônica e produção de catarro e esses sintomas podem estar associados com um declínio progressivo do seu quadro clínico. Técnicas de desobstrução das vias aéreas (ACTs) são frequentemente prescritas para facilitar a expectoração de muco dos pulmões, mas não é clara a eficácia dessas técnicas em paciente estável ou com uma exacerbação aguda de bronquiectasia.
Primário: avaliar os efeitos das técnicas de desobstrução das vias aéreas sobre a taxa de exacerbações agudas, incidência de hospitalização e qualidade de vida relacionada com a saúde em indivíduos com bronquiectasia aguda e estável.
Secundário: avaliar se a) as técnicas de desobstrução das vias aéreas são seguras para os indivíduos com bronquiectasia aguda e estável e b) as técnicas de desobstrução das vias aéreas têm efeitos benéficos na fisiologia e nos sintomas em indivíduos com bronquiectasia aguda e estável.
Procuramos no Cochrane Airways Group Specialised Register da Cochrane Airways desde o início de outubro 2012 e no PEDro, em outubro de 2012, e fizemos busca manual em revistas relevantes.
Selecionamos estudos clínicos randomizados paralelos controlados e estudos do tipo cross-over que compararam técnicas de desobstrução das vias aéreas a nenhum tratamento, técnica de desobstrução das vias aéreas falsa (placebo) ou tosse direcionada em participantes com bronquiectasias.
Usamos os procedimentos metodológicos padrão exigidos pela Colaboração Cochrane.
Cinco estudos envolvendo 51 participantes preencheram os critérios de inclusão da revisão; todos eram do tipo cross-over. Quatro estudos foram em adultos com bronquiectasia estável, e o quinto foi realizado com crianças clinicamente estáveis com bronquiectasia. Três estudos realizaram apenas uma única sessão de tratamento e dois estudos tiveram duração de intervenção maior. As intervenções foram variadas e alguns grupos controle receberam uma intervenção falsa, enquanto outros receberam intervenções inativas. A qualidade metodológica dos estudos foi variável. Não foi possível cegar os participantes e profissionais de saúde. Devido à heterogeneidade entre os estudos, não foi possível realizar metanálises e, portanto, a revisão foi narrativa.
Um estudo com 20 adultos comparou um aparelho de oscilação das vias aéreas versus nenhum tratamento e não encontrou nenhuma diferença significativa no número de exacerbações com 12 semanas (evidência de baixa qualidade). Não há dados disponíveis para avaliar o impacto das técnicas de desobstrução das vias aéreas no momento de exacerbação sobre a duração, incidência de hospitalizações ou número total de dias de internação. O mesmo estudo relatou melhorias clinicamente significativas na qualidade de vida relacionada à saúde em ambas as medidas relacionadas com a doença ou com a tosse. Embora baseado em um pequeno número de participantes e com dados enviesados, a diferença média na mudança da pontuação total no Questionário Respiratório de St. George (SGRQ) ao longo de três meses nesse estudo foi de 8,5 unidades (P = 0,005; teste de Wilcoxon, evidência de baixa qualidade). Dois estudos relataram aumentos médios no volume de escarro com dispositivos oscilatórios das vias aéreas, a curto prazo, de 8,4 ml (intervalo de confiança de 95%, 95% CI, de 3,4-13,4 ml), e a longo prazo, de 3 ml (valor de P = 0,02), sem efeito significativo sobre a função pulmonar. Um estudo relatou uma redução imediata da hiperinflação pulmonar em adultos com técnica de desobstrução das vias aéreas utilizando pressão expiratória não positiva (PEP; diferença da capacidade residual funcional, CRF, de 19%; P < 0,05) e com dispositivos oscilatórios das vias aéreas (diferença na CRF de 30%; P < 0,05) em comparação com nenhuma técnica de desobstrução das vias aéreas. Diminuição semelhante em hiperinflação pulmonar (diferença na CRF de 6%) foi encontrada em crianças que usam um aparelho de oscilação das vias aéreas durante três meses em comparação com a terapia placebo. Não há estudos reportando os efeitos da troca gasosa, sintomas ou uso de antibióticos.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Rhayssa Espósito).