Anticoncepcionais hormonais para evitar a gestação em mulheres obesas ou acima do peso.

O excesso de peso se tornou um problema em todo o mundo. Estar acima do peso ou obesa pode atrapalhar a eficácia de alguns métodos que evitam a gravidez. Os anticoncepcionais hormonais incluem as pílulas, os adesivos, o anel vaginal, os implantes subcutâneos, as injeções e os dispositivos contraceptivos intrauterinos com hormônios.

Fizemos uma busca em bases de dados eletrônicas procurando por estudos científicos que houvessem sido publicados até 4 de agosto de 2016, sobre métodos hormonais para evitar a gravidez em mulheres que estavam acima do peso ou obesas. Nós buscamos por estudos que comparavam mulheres com sobrepeso ou obesas versus mulheres com peso normal ou com o índice de massa corporal (IMC) dentro do recomendável. A fórmula para calcular o IMC é o peso (kg) dividido pela altura (m)2. Incluímos todos os desenhos de estudo. Na primeira versão dessa revisão, escrevemos para os investigadores que fizeram os estudos originais pedindo que eles indicassem outros estudos, que pudéssemos ter perdido.

Nessa atualização da revisão, incluímos mais 8 estudos. Portanto, a revisão tem agora 17 estudos com um total de 63.813 mulheres. Nós focamos nos 12 estudos com resultados de qualidade alta,moderada ou baixa. A maioria desses estudos mostra que o número de gestações em mulheres obesas ou com sobrepeso (que usam contraceptivos hormonais) não é maior do que nas mulheres com peso normal. Dois de cinco estudos que avaliaram o uso de pílulas anticoncepcionais encontraram diferenças na taxa de gravidez entre os grupos (com IMC alto versus normal). Em um dos estudos, as mulheres com sobrepeso que tomavam pílulas tiveram maior risco de engravidar. No outro estudo, as mulheres obesas que tomavam pílulas tiveram menor taxa de gravidez do que as não obesas. Esse segundo estudo também testou um novo adesivo cutâneo. As obesas que usaram o novo adesivo tiveram mais risco de engravidar do que as mulheres não obesas. Dois dos cincos estudos que avaliaram a eficácia de implantes hormonais encontraram diferenças entre mulheres com pesos diferentes. Esses estudos estavam testando modelos de implantes mais antigos, com seis capsulas. Um estudo relatou maior risco de gravidez no 6o e 7o anos após a colocação do implante nas mulheres que pesavam 70 quilos ou mais. Um outro estudo relatou diferenças na taxa de gravidez no 5o ano apenas para as mulheres nos grupos de menor peso corporal. Os resultados para os outros métodos de controle de natalidade não mostraram uma relação entre sobrepeso ou obesidade e as taxas de gravidez. Esses métodos incluíam um tipo de contraceptivo injetável, dispositivos intrauterinos com hormônios e impantes com uma e com duas cápsulas.

No geral, estes estudos não encontraram uma associação entre o IMC ou peso das mulheres e a eficácia dos métodos contraceptivos hormonais. Encontramos poucos estudos para a maioria dos métodos. Os estudos que usam o IMC, ao invés de peso corporal das participantes, podem mostrar se a gordura corporal está relacionada com a eficácia dos métodos contraceptivos. Os métodos contraceptivos estudados nesta revisão sistemática são altamente eficazes para prevenir a gravidez, quando são usados de acordo com as orientações. No geral, a qualidade dos estudos incluídos nessa revisão foi baixa, especialmente para os artigos mais antigos. Porém, muitos estudos teriam uma qualidade maior se fossem avaliados quanto ao seu objetivo original, em vez da avaliarmos sua qualidade para as comparações que fizemos nesta revisão.

Conclusão dos autores: 

No geral, a evidência não indica uma associação entre IMC ou peso maiores e a efetividade dos contraceptivos hormonais. Entretanto, encontramos poucos estudos para a maioria dos métodos contraceptivos. Os estudos que usam o IMC, ao invés do peso isolado, podem fornecer informações para avaliar a possível relação entre a composição corporal e a efetividade dos contraceptivos. Os métodos contraceptivos incluídos nesta revisão sistemática estão entre os mais efetivos quando utilizados conforme o regime recomendado.

No geral, a qualidade da evidência para os objetivos desta revisão foi baixa. A qualidade geral da evidência dos estudos mais antigos foi baixa. A qualidade da evidência proveniente dos estudos mais recentes foi heterogênea. Para muitos dos estudos incluídos, a qualidade era maior para os objetivos originalmente propostos pelos autores do que para as comparações não randomizadas que fizemos nesta revisão sistemática. Os pesquisadores devem considerar a possibilidade de fazer ajustes para possíveis confundidores relacionados ao IMC ou à efetividade contraceptiva. Os estudos mais recentes incluíram uma proporção maior de mulheres obesas ou com sobrepeso. Isso ajuda a analisar a efetividade e os efeitos colaterais dos contraceptivos hormonais nesses grupos.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A obesidade alcançou proporções epidêmicas no mundo todo. A efetividade dos contraceptivos hormonais pode estar relacionada às mudanças metabólicas decorrentes da obesidade ou do aumento da massa corporal ou da quantidade de gordura corporal. Os contraceptivos hormonais incluem os anticoncepcionais orais, os injetáveis, os implantes, os dispositivos intrauterinos hormonais, os adesivos transdérmicos e o anel vaginal. Existe uma alta prevalência de obesidade e sobrepeso entre as mulheres. Portanto, se o excesso de peso afeta a eficácia contraceptiva dos métodos hormonais, isso pode ter um grande impacto para a saúde pública.

Objetivos: 

Avaliar a efetividade dos contraceptivos hormonais na prevenção da gravidez de mulheres obesas ou com sobrepeso versus mulheres com menos peso ou menores índices de massa corporal (IMC).

Métodos de busca: 

Em 4 de agosto de 2016, fizemos buscas nas seguintes bases de dados: PubMed (MEDLINE), CENTRAL, POPLINE, Web of Science, ClinicalTrials.gov e ICTRP. Também analisamos as listas de referências de artigos pertinentes, para identificar mais estudos. Na primeira versão dessa revisão sistemática, escrevemos para os investigadores originais para identificar estudos adicionais publicados ou não publicados.

Critério de seleção: 

Incluímos todos os desenhos de estudos. Incluímos estudos que avaliaram qualquer tipo de contraceptivo hormonal. As publicações deveriam conter informações sobre os métodos contraceptivos específicos utilizados. O desfecho primário foi gravidez. As mulheres obesas ou com sobrepeso deveriam ser selecionadas através de um ponto de corte (para o peso) ou do IMC (kg/m2).

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores, trabalhando de forma independente, extraíram os dados. Um autor inseriu os dados no Revman e o segundo autor verificou a exatidão dos dados inseridos. As principais comparações foram entre as mulheres obesas ou com sobrepeso versus mulheres com menos peso ou menor IMC. Usamos o Newcastle-Ottawa Quality Assessment Scale para avaliar a qualidade da evidência. Quando disponíveis, incluímos as tabelas de taxas de vida. Também usamos taxas de gravidez não ajustadas, risco relativo (RR) ou taxa de risco quando estes eram os únicos dados fornecidos pelos autores. Para as variáveis dicotômicas calculamos a razão de chances (OR) com intervalo de confiança (IC) de 95%.

Principais resultados: 

Com os 8 estudos adicionais identificados nesta atualização, a revisão conta agora com 17 estudos, com um total de 63,813 mulheres. Focamos nossas análises nos 12 estudos com evidencias de alta, moderada e baixa qualidade. A maioria dos estudos não encontrou um risco maior de gravidez entre as mulheres obesas ou com sobrepeso. Dois cinco estudos que avaliaram contraceptivos orais hormonais combinados (COC) encontraram uma associação entre IMC e risco de gravidez, mas em direções opostas. Um estudo, que avaliou um anticoncepcional oral contendo acetato de noretindrona e etinilestradiol (EE), encontrou uma taxa significantemente maior de gravidez nas mulheres com sobrepeso (IMC≥ 25) do que naquelas com IMC <25: RR 2,49, IC 95% 1,01 a 6,13. Por outro lado, um ensaio clínico randomizado com um COC contendo levonorgestrel e EE encontrou um índice de Pearl de 0 para mulheres obesas (IMC ≥30) versus 5,59 para as não obesas (IMC<30). O mesmo estudo também testou um adesivo transdérmico contendo levonorgestrel e EE. No grupo que usou o adesivo transdérmico, as obesas «aderentes ao tratamento» tiveram Index Pearl maior do que as não obesas (4,63 versus 2,15). Encontramos cinco estudos que avaliaram implantes. Dois deles avaliaram implantes com seis capsulas contendo levonorgestrel e relataram diferenças nas taxas de gravidez associadas ao peso das participantes. Um estudo encontrou uma associação entre peso mais elevado das participantes e maior risco de gravidez no 6o e 7o anos de uso do implante (P <0,05). No segundo estudo, houve diferença no índice de gravidez no 5o ano de uso apenas entre os grupos de menor peso (P<0.01), sem diferença entre as mulheres com 70 kg ou mais.

Não encontramos associação entre obesidade ou sobrepeso e gravidez nas análises dos dados dos outros métodos contraceptivos. Esses outros métodos contraceptivos incluíram acetato de medroxiprogesterona (subcutâneo), contraceptivo intrauterino com levonorgestrel, implantes de levonorgestrel com duas capsulas e implantes de etonogestrel.

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Aline Rocha / Gesiane G. Ferreira Pajarinen). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br .

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