Introdução
Queixas de sintomas no braço, pescoço ou ombro relacionadas com o trabalho são também chamadas de lesões por uso repetitivo ou síndrome ocupacional por uso excessivo (CANS, em inglês). Elas são um fardo para os trabalhadores, para seus empregadores e para a sociedade em geral, porque têm impacto nas atividades da vida diária e no trabalho.
Estudos incluídos na revisão
Nós incluímos estudos randomizados controlados que testaram todos os tratamentos possíveis, como os exercícios, ajustes ergonômicos no ambiente de trabalho, massagem e terapia manual. Esses tratamentos objetivam reduzir a dor e melhorar a função, e podem ser oferecidos por clínicos gerais ou por fisioterapeutas. Nós excluímos desta revisão os estudos que testaram tratamentos envolvendo injeções e cirurgias porque são invasivos e necessitam de habilidades mais sofisticadas. Nós incluímos apenas estudos nos quais os autores escreveram que as pessoas participantes tinham queixas relacionadas ao trabalho. Nós fizemos buscas em diversas bases de dados eletrônicas por estudos publicados até maio de 2013.
Resultados
Nós encontramos 44 estudos que incluíram 6.580 pessoas: 21 estudos avaliaram exercícios, 13 avaliaram ajustes ergonômicos no ambiente de trabalho e 9 testaram intervenções comportamentais. Nós combinamos os resultados desses estudos em diversas categorias. Oito outros estudos avaliaram vários outros tratamentos.
Nós não encontramos efeitos consistentes de nenhum tratamento para dor, recuperação, incapacidade ou licença por doença. As intervenções ergonômicas reduziram a dor a longo prazo mas não em curto prazo em diversos estudos. Nós julgamos nove estudos como sendo de alta qualidade, mas seus resultados eram muito inconsistentes. Nós não encontramos razão alguma para a variabilidade nos resultados dos estudos. É preciso fazer mais estudos, com um número maior de participantes que tenham um diagnóstico mais claro de que as queixas sejam relacionadas com o trabalho e que sigam as diretrizes ao relatar seus achados.
Nós encontramos pouca evidência, de qualidade muito baixa, indicando que a dor, recuperação, incapacidade e licença por doença são similares após os exercícios quando comparados com nenhum tratamento, com controles com intervenção mínima ou com exercícios oferecidos como tratamento adicional para pessoas com queixas de sintomas no braço, pescoço ou ombro relacionadas ao trabalho. Evidências de baixa qualidade também mostraram que intervenções ergonômicas não diminuíram dor no seguimento de curto prazo mas diminuíram a dor no longo prazo. Não houve evidência de efeito quanto aos outros desfechos. Não existe evidência de efeitos consistentes das intervenções comportamentais e outras intervenções sobre nenhum dos desfechos de interesse desta revisão.
São necessários mais estudos, com maior número de participantes, que especifiquem claramente como foi feito o diagnóstico de que a queixa teria relação com o trabalho e que relatem os desfechos de acordo com as diretrizes atuais.
As doenças ou lesões dos membros superiores relacionadas ao trabalho, lesões por uso repetitivo, síndrome de excesso de uso ocupacional e queixas do braço, pescoço ou ombro relacionadas ao trabalho são os termos gerais mais usados para descrever problemas que surgem como resultado de movimentos repetitivos, posturas incorretas e impacto de forças externas, como aquelas associadas com a operação de ferramentas vibratórias. As queixas de sintomas no braço, pescoço ou ombro relacionados ao trabalho (CANS em inglês, termo utilizado nesta revisão) têm um impacto importante sobre a população dos trabalhadores.
Avaliar os efeitos de intervenções conservadoras para o tratamento de adultos com sintomas no braço, pescoço e ombro relacionados ao trabalho (CANS) sobre a dor, função e desfechos relacionados ao trabalho.
Nós fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Cochrane Central Register of Controlled Trials (The Cochrane Library,31 de Maio de 2013), MEDLINE (de 1950 a 31 de maio de 2013), EMBASE (de 1988 a 31 de maio de 2013), CINAHL (de 1982 a 31 de maio de 2013), AMED (de 1985 a 31 de maio de 2013), PsychINFO (de 1806 a 31 de maio de 2013), Physiotherapy Evidence Database (PEDro; desde o início até 31 de maio de 2013) e a Occupational Therapy Systematic Evaluatioon of Evidence Database (OTseeker; desde o início até 31 de maio de 2013). Nós não usamos nenhuma restrição de idioma.
Nós incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs) e quasi-randomizados que avaliaram intervenções conservadoras para queixas de braço, pescoço ou ombro relacionadas ao trabalho (CANS) em adultos. Nós excluímos os estudos que usaram tratamentos envolvendo injeções e cirurgias. Nós incluímos estudos que avaliaram os efeitos das intervenções sobre a dor, a função e a capacidade de trabalhar.
Dois autores da revisão selecionaram os estudos para inclusão, extraíram os dados e avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos, de maneira independente. Quando os estudos eram suficientemente parecidos, nós combinamos seus resultados em metanálises.
Nós incluímos 44 estudos (62 publicações) com 6.580 participantes que avaliaram 25 intervenções diferentes. Nós categorizamos essas intervenções, de acordo com o mecanismo de ação, como exercícios, ergonomia, técnicas comportamentais e outras intervenções.
Em geral, nós julgamos 35 estudos como tendo alto risco de viés principalmente por não especificarem claramente o método de randomização, pela falta de procedimentos para assegurar o sigilo de alocação, pela falta de cegamento dos participantes dos estudos ou pela falta de uma análise por intenção de tratar.
Nós encontramos evidência de qualidade muito baixa mostrando que os exercícios, nos seguimentos de curto ou longo prazo, não melhoraram a dor em comparação com nenhum tratamento [5 estudos, diferença média padronizada (DMP) -0,52, intervalo de confiança 95% (95% CI) -1,08 – 0,37) ou com controles com intervenção mínima (3 estudos, DMP -0,25, 95% CI -0,87 – 0,37) ou quando foi ofertado como tratamento adicional (2 estudos, resultados inconsistentes). Os resultados foram semelhantes em relação à recuperação, incapacidade e licença por doença. No seguimento a curto prazo, os exercícios específicos levaram a aumento da dor, quando comparados com exercícios gerais (4 estudos, DMP 0,45, 95% CI 0,14 – 0,75).
Nós encontramos evidência de muito baixa qualidade indicando que, no curto prazo, as intervenções ergonômicas não diminuíram a dor quando comparadas com nenhuma intervenção (3 estudos, DMP -0,07, 95% CI -0,36 – 0,22) mas diminuíram a dor no longo prazo (4 estudos, DMP -0,76, 95% CI -1,35 a -0,16). Essa intervenção não teve efeito sobre a incapacidade, mas diminuiu as licenças por doença em 2 estudos [risco relativo (RR) 0,48, 95% CI 0,32 – 0,76). Nenhuma das intervenções ergonômicas foi mais benéfica para qualquer outra medida de desfecho quando comparada com outro tratamento ou com nenhum tratamento ou com placebo.
As intervenções comportamentais produziram efeitos inconsistentes na dor e na incapacidade. Essas intervenções foram benéficas para alguns subgrupos e não provocaram melhora significativa em outros subgrupos, quando comparadas com nenhum tratamento, com controles que receberam intervençoes mínimas ou com outras intervenções comportamentais.
Os oito estudos que avaliaram várias outras intervenções não mostraram efeitos benéficos claros em nenhuma das intervenções oferecidas.
Traduzido pelo Centro Cochrane do Brasil (Maíra Tristão Parra)