Pergunta de revisão
As pessoas com esclerose múltipla (EM) que receberam reabilitação da memória comparadas com aquelas que não receberam tratamento, ou um placebo apresentam melhores resultados no curto, médio, ou longo prazo nas suas:
1. funções de memória,
2. outras capacidades cognitivas, e
3. capacidades funcionais, em termos de atividades de vida diária, humor e qualidade de vida?
Contextualização
As pessoas com esclerose múltipla (EM) defrontam-se frequentemente com problemas de memória, que podem levar a dificuldades na sua vida diária. A reabilitação de memória é oferecida para ajudar as pessoas a lidar com os problemas de memória, melhorar a sua capacidade de desempenho nas tarefas diárias, e aumentar a independência através da redução dos esquecimentos. Esta reabilitação pode envolver o uso de técnicas e estratégias específicas para melhorar a forma como uma pessoa tenta relembrar, armazenar e recuperar as memórias. No entanto, é incerto se a reabilitação da memória é eficaz na redução dos esquecimentos ou na melhoria do desempenho das atividades diárias. Historicamente, houve escassos estudos de boa qualidade que investigaram a eficácia da reabilitação mnésica em pessoas com EM, mas recentemente tem havido alguns estudos de maior dimensão. Assim, quisemos saber se a evidência da eficácia da reabilitação mnésica se alterou desde a versão anterior da nossa revisão.
Caraterísticas do estudo
Esta revisão incluiu 44 estudos com 2714 participantes que receberam vários tipos de técnicas de treino da memória, alguns usando técnicas de restauração (p.ex. programas de computador) e outros usando abordagens compensatórias (p.ex. auxiliares de memória como diários e calendários).
Resultados principais e qualidade da evidência
Foi feito um progresso substancial desde a última atualização desta revisão, e os resultados desta revisão sugerem que existe agora evidência que suporta o uso de reabilitação da memória em pessoas com EM. Os participantes que tiveram reabilitação da memória reportaram melhor funcionamento da memória e qualidade de vida quando comparados com aqueles que não receberam reabilitação da memória, e estas diferenças identificaram-se imediatamente após a finalização da intervenção e durante algum tempo depois. Porém, aqueles que receberam reabilitação da memória não parecem ter melhorado em termos dos seus sintomas de ansiedade ou atividades diárias. Esta atualização adicionou estudos grandes e de boa qualidade nos quais baseámos os nossos achados, e por isso a evidência que suporta a eficácia da reabilitação da memória é mais forte do que na revisão anterior. No entanto, ainda precisamos de estudos de grande dimensão e de boa qualidade que avaliem o impacto a longo-prazo da reabilitação da memória e de estudos que avaliem o custo-eficácia da reabilitação da memória em pessoas com EM.
Traduzido por: Pedro Lopes das Neves, Serviço de Neurologia, Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, e por Ricardo Manuel Delgado, Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental da Infância e da Adolescência, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal.