Os doentes com doença renal crónica (DRC) apresentam um risco aumentado de doença cardíaca que pode impedir o fornecimento de sangue ao coração ou cérebro causando enfarte agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral. Os fármacos destinados a prevenir a formação de coágulos de sangue (agentes antiplaquetários) podem prevenir mortes causadas por coágulos nas artérias da população adulta em geral. No entanto, poderão existir menos benefícios para doentes com DRC dado que a ocorrência de coágulos nas artérias é uma causa menos frequente de morte ou de internamento comparativamente à ocorrência de insuficiência cardíaca ou morte súbita nestes doentes. Os doentes com DRC também apresentam uma tendência aumentada para hemorragia devido a alterações nos mecanismos de formação de coágulos. Os agentes antiplaquetários podem apresentar risco acrescido em doentes com DRC. Esta revisão avaliou os benefícios e riscos da utilização de agentes antiplaquetários para prevenir doença cardiovascular e morte e melhorar a função do acesso vascular para hemodiálise em doentes com DRC. Foram identificados 44 estudos comparando agentes antiplaquetários com placebo ou ausência de tratamento e seis estudos comparando diretamente um agente antiplaquetário com outro.
Agentes antiplaquetários previnem enfarte agudo do miocárdio, mas não previnem morte ou acidente vascular cerebral e aumentam as hemorragias ligeiras e graves em doentes com DRC. O acesso vascular (fístula ou enxerto de Gore-Tex) é mantido com terapêutica antiplaquetária, mas a utilização de fármacos antiplaquetários não melhora a maturação da fístula ou a sua adequação para realização de hemodiálise. Os benefícios (menor número de morte e de enfartes) e riscos (hemorragia) ocorrem independentemente do estádio de DRC ou do tipo de antiplaquetário utilizado. Mais estudos sobre fármacos antiagregantes plaquetários são necessários em doentes com DRC, particularmente nos doentes transplantados renais. São também necessários estudos que comparem fármacos antiagregantes plaquetários entre si, particularmente novos fármacos e que determinem qual o melhor tratamento para doentes simultaneamente com DRC e doença cardiovascular aguda e que avaliem também o tratamento para melhorar a maturação do acesso vascular para hemodiálise.
Tradução por Miguel Bigotte Vieira, Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal