Este resumo de uma revisão Cochrane descreve o que sabemos de pesquisas sobre as questões de segurança do uso de medicamentos anti-inflamatórios não-esteroidais, ou AINEs, incluindo aspirina, ou paracetamol (acetaminofeno), ou ambos, juntamente com metotrexato em pessoas com artrite inflamatória.
Esta revisão mostra que em pessoas com artrite inflamatória:
- AINEs, incluindo aspirina, além de metotrexato pode não aumentar problemas pulmonares em pessoas com artrite reumatoide.
- Altas doses de aspirina mais metotrexato podem aumentar problemas hepáticos em pessoas com artrite reumatoide.
- Altas doses de aspirina mais metotrexato podem aumentar problemas renais em pessoas com artrite reumatoide.
- AINEs mais metotrexato podem provocar um aumento breve e leve em problemas de sangue (baixa contagem de plaquetas) em pessoas com artrite reumatoide, especialmente se AINEs são tomadas no mesmo dia com o metotrexato.
- AINEs, incluindo aspirina, mais metotrexato parece não aumentar a chance de pessoas com artrite reumatoide pararem de tomar o metotrexato devido aos efeitos adversos.
- Não foram encontrados estudos pesquisando paracetamol com metotrexato.
- Não foram encontrados estudos em pessoas com outras condições diferentes da artrite reumatoide.
Muitas vezes não temos informações precisas sobre os efeitos colaterais e complicações, especialmente para efeitos colaterais raros, mas graves. Os possíveis efeitos colaterais associados com altas doses de paracetamol incluem problemas hepáticos. AINEs, incluindo aspirina, podem causar problemas estomacais, renais ou cardíacos, e metotrexato pode causar problemas estomacais, hepáticos, anemia ou infecção.
O que é artrite inflamatória, e quais fármacos são utilizadas para tratar a dor?
Artrite inflamatória é um grupo de doenças que incluem artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite psoríasica e outros tipos de espondilotartite. Quando você tem artrite inflamatória, o seu sistema imunológico, que normalmente combate a infecção, ataca suas articulações. Isso torna suas articulações inchadas, rígidas e dolorosas. Na artrite reumatoide, as pequenas articulações das mãos e pés geralmente são as primeiras a serem afetadas. Em contraste, na espondilite anquilosante as articulações da coluna são as mais afetadas. Não há cura para a artrite inflamatória atualmente, de modo que os tratamentos visam aliviar a dor e rigidez e melhorar a sua capacidade de se mover.
Pessoas com artrite inflamatória muitas vezes precisam usar analgésicos, como paracetamol e AINEs, como aspirina ou ibuprofeno para ajudar a aliviar a dor. Paracetamol, também chamado acetaminofeno, é utilizado para aliviar a dor, mas não afeta o inchaço; fármacos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs), tais como aspirina, ibuprofeno, diclofenaco e inibidores da ciclooxigenase 2 ou COX-2 (por exemplo celecoxibe), são usados para diminuir a dor e inchaço.
O metotrexato é um dos medicamentos mais comumente usados para tratar pessoas com artrite inflamatória. O metotrexato é um medicamento antirreumático modificador do curso da doença. O metotrexato pode tratar a artrite reumatoide por diminuição da atividade do sistema imunológico.O metotrexato é um tratamento comum para a artrite reumatoide e pode ser prescrito em combinação com outros fármacos, especialmente para pessoas que não apresentam melhoras com metotrexato sozinho. Medicamentos antirreumáticos modificadores do curso da doença como o metotrexato podem vir como comprimidos, cápsulas e, em alguns casos, injeções. Infelizmente, houve algumas preocupações no passado de que o uso de metotrexato pode não ser seguro se utilizado ao mesmo tempo que os analgésicos em pacientes com artrite inflamatória.
No manejo da artrite reumatóide, o uso concomitante de AINEs com metotrexato parece ser seguro desde que uma monitorização adequada seja realizada. A utilização de doses anti-inflamatórias da aspirina deve ser evitada.
O metotrexato é rotineiramente utilizada no tratamento de artrite inflamatória. Tem havido a preocupação em relação à segurança na utilização simultânea de fármacos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs), incluindo aspirina, ou paracetamol (acetaminofeno), ou ambos, nestas pessoas.
Avaliar de forma sistemática e resumir as evidências científicas sobre a segurança do uso de AINEs, incluindo aspirina, ou paracetamol, ou ambos, com o metotrexato na artrite inflamatória; e identificar as lacunas nas evidências atuais, avaliar as implicações dessas lacunas e fazer recomendações para pesquisas futuras corrigirem essas deficiências.
Buscamos no Cochrane Central Register de Controlled Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library, segundo trimestre de 2010); MEDLINE (desde 1950); EMBASE (desde 1980); Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR) e o Database of Abstracts of Reviews of Effects (DARE). Também foi realizado busca manual nos anais de conferência do Colégio Americano de Reumatologia (ACR) e da Liga Europeia contra o Reumatismo (EULAR) (2008 a 2009) e verificou-se os sites das agências reguladoras para relato dos efeitos adversos, bulas e precauções.
Ensaios clínicos controlados randomizados e estudos não-randomizados, comparando a segurança de metotrexato sozinho e do metotrexato com AINEs simultaneamente, incluindo a aspirina, ou paracetamol, ou ambos, em pessoas com artrite inflamatória.
Dois autores avaliaram independentemente os resultados da busca, extraíram os dados e avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos.
Dezessete publicações do total de 8.681 estudos identificados foram incluídas na revisão, os quais incluíram pessoas com artrite reumatoide usando vários AINE, incluindo aspirina. Não houve estudos identificados para outras formas de artrite inflamatória.
Para AINEs, 13 estudos foram incluídos que utilizaram AINEs concomitante, dos quais nove estudos examinaram AINEs não especificados. O número médio de participantes foi de 150,4 (intervalo 19 a 315), duração média de 2.182,9 (intervalo 183 a 5490) dias, apesar que a duração do estudo nem sempre foi claramente definida, e os estudos eram principalmente de baixa a moderada qualidade. Dois destes estudos não relataram nenhuma evidência para um risco aumentado de doença pulmonar induzida por metotrexato; um estudo avaliou o efeito de AINEs simultâneos sobre a função renal e não encontrou nenhum efeito adverso; um estudo não identificou nenhum efeito adverso sobre a função hepática; três estudos não demonstraram aumento na interrupção do metotrexato; e um estudo não mostrou aumento nos efeitos adversos, incluindo as principais reações tóxicas. No entanto, trombocitopenia transitória foi demonstrada em um estudo, especificamente quando AINEs foram tomados nos mesmos dias da semana com o metotrexato. Este estudo foi uma análise retrospectiva que envolveu apenas um pequeno número e de qualidade moderada; estes achados não foram reproduzidos.
Quatro estudos analisaram AINEs específicos (etodolaco, piroxicam, celecoxibe e etoricoxibe), com um número médio de participantes de 25,8 (intervalo de 14 a 50) e duração média do estudo de 16,8 (intervalo de 14 a 23) dias. Estes estudos foram principalmente de qualidade moderada. Os estudos eram em sua maioria farmacocinéticos, mas também relataram efeitos adversos como desfechos secundários. Não houve efeitos adversos clinicamente significativos com piroxicam ou etodolaco concomitantes; e apenas efeitos adversos leves com celecoxibe ou etoricoxibe, tais como náuseas e vômitos e dores de cabeça.
Para aspirina, sete estudos forneceram dados sobre efeitos adversos com o uso de aspirina e metotrexato. Estes estudos incluíram um número médio de 100 participantes (intervalo de 11 a 232), tiveram uma duração média de 1325 (intervalo de 8 a 2928) dias e eram principalmente de baixa a moderada qualidade. Dois dos estudos não relataram nenhuma evidência de aumento do risco de doença pulmonar induzida pelo metotrexato e dois estudos não mostraram nenhum aumento nos efeitos adversos, incluindo as principais reações tóxicas; no entanto, nenhum desses estudos especificou a dose de aspirina que foi utilizada. Um estudo demonstrou que a aspirina concomitante afeta negativamente a função do fígado, numa dose média de 6,84 comprimidos de aspirina por dia, o qual é uma dose diária possível de 2,1 g presumindo-se que 300 mg de aspirina em comprimidos foram administradas. Um outro estudo descreveu um declínio parcialmente reversível da função renal com 2 g de aspirina por dia. Um estudo relatou nenhum aumento de efeitos adversos com 975 g de aspirina diariamente, no entanto, a duração do estudo foi de apenas uma semana.
Para paracetamol, não foram identificados estudos para a inclusão.
Notas de tradução CD008872.pub2