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A suplementação de vitamina D durante a gestação pode ajudar a melhorar certos desfechos de saúde nas mães e em seus bebês e reduzir o risco de desfechos adversos (prejudiciais) na gestação.
Implicações para a saúde pública
A deficiência de vitamina D durante a gestação tem sido associada a complicações de saúde nas mães e em seus bebês. Acredita-se que a suplementação de vitamina D adicional durante a gestação possa ser necessária para proteger contra essas complicações.
O que queríamos saber?
Determinar se a suplementação de vitamina D durante a gestação pode melhorar de forma segura certos desfechos de saúde nas mães e em seus bebês (como a redução de partos prematuros e de bebês com baixo peso ao nascer) e reduzir o risco de desfechos adversos na gestação (como sangramentos excessivos).
O que nós fizemos?
Esta é uma atualização de uma revisão publicada pela primeira vez em 2012 e posteriormente atualizada em 2016 e 2019. Fizemos buscas por ensaios clínicos (dezembro de 2022) que analisaram a suplementação de vitamina D, sozinha ou em combinação com cálcio ou outras vitaminas e minerais, durante a gestação, em comparação com placebo ou nenhuma intervenção. Revisamos cada estudo usando uma ferramenta para avaliar sua confiabilidade . Comparamos e resumimos os resultados dos estudos e classificamos nossa confiança nas informações, com base em fatores como métodos e tamanhos dos estudos.
O que nós encontramos?
A versão anterior desta revisão incluiu 30 estudos. Nesta atualização, removemos 20 desses estudos para 'aguardando classificação' e excluímos um estudo devido à baixa confiabilidade. Adicionamos um novo estudo. Esta revisão atual inclui um total de 10 estudos, 117 estudos excluídos, 34 estudos aguardando avaliação e sete estudos em andamento.
No geral, não temos certeza se a suplementação com vitamina D sozinha, comparada a nenhuma intervenção ou a um placebo (oito estudos, 2.313 mulheres), previne hipertensão associada à gestação, diabetes durante a gestação, bebês nascidos antes do esperado e doença renal nesse cenário. A suplementação com vitamina D pode prevenir o sangramento excessivo grave no parto (embora isso tenha sido baseado em um único estudo) e pode reduzir o risco de ter um bebê com baixo peso ao nascer, mas um aumento nesse risco não pode ser descartado nesta fase. Além disso, não temos certeza se a suplementação com vitamina D e cálcio, em comparação com placebo ou nenhuma intervenção (um estudo, 84 mulheres), previne o nascimento de bebês antes do esperado ou com baixo peso. Nenhum outro desfecho foi relatado no único estudo incluído. Por fim, não temos certeza se a suplementação com vitamina D + cálcio + outras vitaminas e minerais, em comparação com cálcio + outras vitaminas e minerais (sem vitamina D) (um estudo, 1.298 mulheres), previne diabetes durante a gestação, eventos adversos maternos, o nascimento de bebês antes do esperado ou com baixo peso. Outros desfechos não foram relatados.
Quais são as limitações das evidências?
A qualidade e o tamanho de pequeno a médio da maioria dos estudos foram limitações nesta revisão. Nem todos os estudos forneceram dados sobre os desfechos nos quais estávamos interessados. São necessárias pesquisas mais bem conduzidas para que possamos ter mais certeza dos efeitos da suplementação de vitamina D na gestação sobre esses desfechos. Isso inclui pesquisas sobre possíveis eventos adversos, o que não está disponível nas evidências atuais.
Até que ponto estas evidências estão atualizadas?
As evidências estão atualizadas até Dezembro de 2022.
Esta revisão atualizada usando uma ferramenta de avaliação confiável removeu 21 estudos da atualização anterior e adicionou um novo estudo para um total de 10 estudos incluídos. Nesse contexto, a suplementação apenas com vitamina D, em comparação com nenhuma intervenção ou placebo, resultou em evidências muito incertas sobre pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, parto prematuro ou síndrome nefrítica. A suplementação com vitamina D pode reduzir o risco de hemorragia pós-parto grave; no entanto, apenas um estudo relatou esse desfecho. Também pode reduzir o risco de baixo peso ao nascer; no entanto, o limite superior do IC sugere que um aumento no risco não pode ser descartado. A suplementação com vitamina D e cálcio, em comparação com placebo ou nenhuma intervenção, resultou em evidências muito incertas sobre parto prematuro e baixo peso ao nascer. O único estudo incluído nesta comparação não relatou pré-eclâmpsia, diabetes gestacional ou eventos adversos maternos. A suplementação com vitamina D + cálcio + outras vitaminas e minerais, em comparação com cálcio + outras vitaminas e minerais (sem vitamina D), resultou em evidências muito incertas sobre diabetes gestacional e eventos adversos maternos (hipercalciúria) e em evidências incertas sobre parto prematuro e baixo peso ao nascer. O único estudo incluído nesta comparação não relatou pré-eclâmpsia.
Todas os achados justificam pesquisas adicionais. São necessários ensaios clínicos randomizados adicionais, rigorosos, de alta qualidade e maiores para avaliar os efeitos da suplementação de vitamina D na gestação, particularmente em relação ao risco de eventos adversos maternos.
A suplementação de vitamina D durante a gestação pode ajudar a melhorar os desfechos de saúde materna e neonatal (como redução de nascimentos prematuros e de bebês com baixo peso) e diminuir o risco de desfechos adversos na gestação (como hemorragia pós-parto grave).
Avaliar se a suplementação de vitamina D, isoladamente ou em combinação com cálcio ou outras vitaminas e minerais, administrada a mulheres durante a gestação pode melhorar de forma segura certos desfechos maternos e neonatais.
Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Cochrane Pregnancy and Childbirth Trials Register (que inclui resultados de buscas abrangentes no CENTRAL, MEDLINE, Embase, CINAHL, ClinicalTrials.gov, na WHO International Clinical Trials Registry Platform e em anais de conferências relevantes). A busca foi realizada em 3 de Dezembro de 2022. Também pesquisamos as listas de referências dos estudos recuperados.
Incluímos na revisão apenas ensaios clínicos randomizados (ECRs) e quase-randomizados (não randomizados) que avaliaram o efeito da suplementação de mulheres durante a gestação com vitamina D isolada ou em conjunto com outros micronutrientes, em comparação com placebo ou nenhuma intervenção.
Dois autores da revisão, de forma independente, i) avaliaram a elegibilidade dos estudos em relação aos critérios de inclusão, ii) avaliaram a confiabilidade com base em critérios predefinidos de integridade científica, iii) extraíram dados dos estudos incluídos e iv) avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos. Utilizamos a abordagem GRADE para avaliar a certeza das evidências.
A versão anterior desta revisão incluía 30 estudos; nesta atualização, removemos 20 desses estudos para a seção “aguardando classificação”, após avaliações de confiabilidade, um estudo foi excluído e um novo estudo foi incluído. Esta revisão atual tem um total de 10 estudos incluídos, 117 estudos excluídos, 34 estudos aguardando avaliação e sete estudos em andamento. Utilizamos a abordagem GRADE para avaliar a certeza das evidências. A remoção desses estudos resultou em evidências que foram rebaixadas para baixa ou muito baixa certeza, devido a limitações no desenho dos estudos, inconsistência entre os estudos e imprecisão.
Suplementação com vitamina D comparada a nenhuma intervenção ou a um placebo
Um total de oito estudos envolvendo 2.313 gestantes foram incluídos nesta comparação. Avaliamos quatro estudos como tendo baixo risco de viés na maioria dos domínios, e quatro estudos como tendo alto risco ou risco incerto de viés na maioria dos domínios. As evidências são muito incertas sobre o efeito da suplementação com vitamina D durante a gestação, em comparação com placebo ou nenhuma intervenção, na pré-eclâmpsia (risco relativo (RR) 0,53, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,21 a 1,33; 1 estudo, 165 mulheres), diabetes gestacional (RR 0,53, IC 95% 0,03 a 8,28; 1 estudo, 165 mulheres), parto prematuro (< 37 semanas) (RR 0,76, IC 95% 0,25 a 2,33; 3 estudos, 1368 mulheres), síndrome nefrítica (RR 0,17, IC 95% 0,01 a 4,06; 1 estudo, 135 mulheres) ou hipercalcemia (1 estudo; nenhum caso relatado). A suplementação com vitamina D durante a gestação pode reduzir o risco de hemorragia pós-parto grave; no entanto, apenas um estudo relatou esse desfecho (RR 0,68, IC 95% 0,51 a 0,91; 1 estudo, 1134 mulheres; baixa certeza da evidência) e pode reduzir o risco de baixo peso ao nascer; no entanto, o limite superior do IC sugere que um aumento no risco não pode ser descartado (RR 0,69, IC 95% 0,44 a 1,08; 3 estudos, 371 bebês; baixa certeza da evidência).
Suplementação com vitamina D + cálcio em comparação com nenhuma intervenção ou placebo
Um estudo envolvendo 84 gestantes foi incluído nesta comparação. No geral, este estudo apresentou de moderado a alto risco de viés. Pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e eventos adversos maternos não foram relatados. As evidências são muito incertas sobre o efeito da suplementação com vitamina D e cálcio no parto prematuro (RR não estimável; muito baixa certeza da evidência) ou no baixo peso ao nascer (RR 1,45, IC 95% 0,14 a 14,94; muito baixa certeza da evidência) em comparação com gestantes que receberam placebo ou nenhuma intervenção.
Suplementação de vitamina D + cálcio + outras vitaminas e minerais em comparação com cálcio + outras vitaminas e minerais (sem vitamina D)
Um estudo envolvendo 1.298 gestantes foi incluído nesta comparação. Avaliamos este estudo como tendo baixo risco de viés em todos os domínios. Não foi relatada pré-eclâmpsia. As evidências são muito incertas sobre o efeito da suplementação com vitamina D, cálcio e outras vitaminas e minerais durante a gestação, em comparação com a ausência de vitamina D, no diabetes gestacional (RR 0,42, IC 95%: 0,10 a 1,73; muito baixa certeza da evidência), eventos adversos maternos (hipercalcemia sem eventos e hipercalciúria RR 0,25, IC 95%: 0,02 a 3,97; muito baixa certeza da evidência), parto prematuro (RR 1,04, IC 95%: 0,68 a 1,59; baixa certeza da evidência), ou baixo peso ao nascer (RR 1,12, IC 95%: 0,82 a 1,51; baixa certeza da evidência).
Tradução do Cochrane Brazil (Nitza Ferreira Muniz e Mayara Rodrigues). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com