Porque os esteroides anabolizantes podem ajudar a pessoa que teve uma fratura do quadril a se recuperar
As fraturas de quadril ocorrem principalmente nos idosos, pois muitas pessoas mais velhas são mais frágeis. Após a cirurgia para fratura do quadril, a maioria dos pacientes perde massa muscular e força. Apesar da reabilitação, a maioria dos pacientes tem uma perda progressiva da sua mobilidade e função motora no longo prazo. Os atletas usam esteroides anabolizantes (derivados sintéticos do hormônio masculino testosterona) junto com exercícios para aumentar sua massa muscular e sua força. Esta revisão avaliou as evidências sobre o uso de esteroides anabolizantes para ajudar na recuperação dos idosos que tiveram uma fratura de quadril.
Descrição dos estudos incluídos nesta revisão
Fizemos buscas para encontrar estudos médicos que houvessem sido realizados até setembro de 2013. Identificamos três estudos relevantes com um total de 154 mulheres com mais de 65 anos que haviam passado por cirurgia de quadril. Dois estudos foram conduzidos na Suíça e um no Canadá. Os estudos avaliaram duas comparações. Um estudo teve três grupos e contribuiu com dados para as duas comparações.
Qualidade da evidência
Encontramos apenas três estudos. Todos eram pequenos (poucos participantes) e tinham alto risco de viés. Portanto, consideramos a qualidade da evidência como muito baixa. Isso significa que não temos certeza quanto à confiabilidade desta evidência.
Resumo da evidência
Dois estudos muito diferentes compararam esteroides anabolizantes versus controle (placebo ou não usar esteroide anabolizante). Um estudo envolveu 29 “senhoras frágeis" internadas em um hospital e comparou injeções semanais de esteroides anabolizantes versus injeções de placebo. Este estudo não encontrou evidência que o uso dos esteroides anabolizantes melhorasse a função das pacientes. Isso foi avaliado pelo número de pacientes que foram encaminhadas para um centro mais especializado, ou que morreram, ou o tempo até que a paciente pudesse se locomover. O segundo estudo envolveu 40 idosas magras e comparou o uso de injeções de esteroides a cada três semanas por seis meses mais tomar um suplemento proteico diário versus tomar um suplemento proteico diário. Este estudo concluiu que o uso dos esteroides anabolizantes pode tanto melhorar como piorar ou não produzir nenhuma diferença na função das pacientes. Nenhum estudo encontrou diferenças na incidência de eventos adversos individuais nos dois grupos.
Dois estudos compararam um grupo que recebeu esteroides anabolizantes mais uma intervenção nutricional versus um grupo controle que não recebeu esteroides. Um estudo comparou duas intervenções diferentes em 63 mulheres independentes e que moravam sozinhas. Um grupo recebeu injeções de esteroides anabolizantes a cada três semanas por 12 meses mais suplementos diários de vitamina D e cálcio enquanto o outro grupo recebeu apenas suplementos diários de cálcio. O outro estudo envolveu 40 idosas magras e comparou injeções de esteroides anabolizantes a cada três semanas por seis meses mais suplementos diários de proteína versus um grupo controle. Os dois estudos encontraram alguma evidência de melhora da função no grupo que recebeu esteroide. A combinação dos dados dos dois estudos mostrou não haver nenhuma diferença entre os grupos quanto ao risco de morte dentro de um ano. Também não houve diferença na taxa de eventos adversos individuais entre os grupos. Em um dos estudos, três participantes do grupo esteroide relataram engrossamento da voz e crescimento de pelos no rosto, como eventos adversos. O outro estudo relatou melhora da qualidade de vida no grupo dos esteroides mais suplementos. Nenhum dos estudos avaliou a aceitabilidade da intervenção pelas participantes.
Conclusões
A qualidade da evidência foi muito baixa. Isso quer dizer que não temos muita certeza quanto ao tamanho ou à direção do efeito da intervenção. Portanto, não sabemos se o uso de esteroides anabolizantes, (isoladamente ou junto com suplementos alimentares) melhora a recuperação de idosos que passaram por cirurgia de fratura do quadril. Como os dados disponíveis sugerem resultados mais promissores quando os esteroides anabolizantes são usados junto com suplementos alimentares, recomendamos que os futuros estudos testem essa combinação.
As evidências disponíveis são insuficientes para permitir conclusões sobre os efeitos dos esteroides anabolizantes (isolados ou combinados com suplementos nutricionais) sobre desfechos funcionais e eventos adversos em pacientes idosos que passaram por cirurgia para fratura de quadril. Como os dados disponíveis sugerem um efeito promissor dos esteroides anabolizantes combinados com suplementos nutricionais, recomendamos que as futuras pesquisas avaliem esta combinação.
A fratura do quadril ocorre predominantemente em pessoas mais velhas, que geralmente são mais frágeis e desnutridas. Após a cirurgia de fratura de quadril e o período de reabilitação, ocorre um declínio da mobilidade e da função da maioria dos pacientes. Os atletas usam esteroides anabolizantes (derivados sintéticos do hormônio masculino testosterona) junto com exercícios para aumentar sua massa muscular e sua força. Essa intervenção pode ter efeitos similares nos idosos que estão se recuperando de uma fratura de quadril.
Avaliar os efeitos (desfechos funcionais e eventos adversos) do uso de esteroides anabolizantes em idosos que passaram por cirurgia para fratura de quadril.
Fizemos buscas nas seguintes base de dados: Cochrane Bone, Joint and Muscle Trauma Group Specialized Register (10 setembro de 2013), the Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (The Cochrane Library 2013, issue 8), MEDLINE (1946 até a 4a semana de agosto de 2013), EMBASE (1974 a setembro de 2013, semana 36) e plataformas de registros de ensaios clínicos. Também fizemos buscas manuais em anais de congressos, e nas listas de referências de artigos relevantes. A busca foi realizada em setembro de 2013.
Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECR) que avaliaram o uso de esteroides anabolizantes em pacientes idosos internados ou ambulatoriais que haviam passado por cirurgia de fratura de quadril. Os desfechos deveriam incluir melhora da função física.
Dois revisores, trabalhando de forma independente, selecionaram os estudos (baseado em critérios de inclusão pré-definidos), extraíram os dados, e avaliaram o risco de viés de cada estudo incluído. Um terceiro revisor resolveu as divergências. Pudemos combinar poucos dados. Os desfechos primários foram função (como independência para mobilidade e atividades da vida diária) e eventos adversos, incluindo morte.
Avaliamos 1290 referências e incluímos apenas três estudos envolvendo 154 participantes. Todos eram mulheres, com mais de 65 anos, que haviam passado por cirurgia para fratura de quadril. Todos estudos tinham deficiências metodológicas e foram portanto classificados como tendo risco de viés alto ou incerto. Devido ao alto risco de viés dos estudos, à imprecisão dos resultados, e à probabilidade de viés de publicação, classificamos a qualidade da evidência para todos os desfechos primários como muito baixa.
Os estudos testaram duas comparações. Um estudo tinha três grupos e contribuiu com dados para as duas comparações. Nenhum dos estudos avaliou a aceitabilidade da intervenção pelos pacientes.
Dois estudos bastante heterogêneos compararam esteroides anabolizantes versus controle (não usar anabolizantes ou placebo). Um ECR comparou injeções semanais de esteroides anabolizantes até a alta hospitalar ou por quatro semanas (o que viesse primeiro) versus injeções de placebo em 29 "mulheres idosas frágeis". Não houve diferença entre os dois grupos (evidência de qualidade muito baixa) quanto ao número de mortes (1 pessoa do grupo controle morreu), ou de pacientes transferidos para uma unidade de cuidados mais intensivos (8/15 versus 10/14, RR 0,75, IC 95% 0,42 a 1,33, P = 0,32), ou no tempo até o paciente se movimentar com independência, ou quanto à frequência de eventos adversos. O segundo ECR comparou injeções de esteroides anabolizantes (a cada três semanas durante seis meses) mais suplementos proteicos diários versus suplementos proteicos diários em 40 "idosas magras" que foram acompanhadas no primeiro ano após a cirurgia. Segundo este estudo, o uso de esteroides anabólicos pode reduzir o número de pacientes dependentes em pelo menos duas funções, ou o número de mortes (1 caso no grupo controle morreu) na avaliação realizada entre 6 e 12 meses após a cirurgia. Porém, os resultados também indicam que a intervenção pode produzir piora da função ou não ter nenhum efeito sobre esse desfecho: 1/17 versus 5/19, RR: 0,22, IC 95% 0,03 a 1,73, P = 0,15. O estudo não encontrou diferença na frequência de eventos adversos.
Dois estudos compararam o uso de esteroides anabolizantes combinados com outra intervenção nutricional versus não usar esteroides. Um deles comparou injeções de esteroides anabolizantes a cada três semanas durante 12 meses em combinação com suplementação diária de vitamina D e cálcio versus apenas cálcio em 63 mulheres que eram independentes e viviam em suas casas. O outro estudo envolveu 40 "idosas magras" e comparou injeções de esteroides anabolizantes a cada três semanas durante seis meses mais suplementos proteicos diários versus um grupo controle. Os dois estudos encontraram alguma evidência de melhora da função no grupo que usou esteroides. Um estudo relatou maior independência, maior escore de Harris, e maior velocidade de marcha nos participantes do grupo esteroide aos 12 meses. O outro estudo relatou que o grupo dos esteroides teve menor número de participantes dependentes em pelo menos duas funções ou mortes, incluindo banhar-se (1/17 versus 7/18, RR: 0,15, IC 95% 0,02-1,10, P = 0,06) com 6 e 12 meses. Ocorreu um óbito no grupo controle. A metanálise dos dois estudos não mostrou diferença entre os grupos na mortalidade aos 12 meses (2/51 versus 3/51). Também não houve diferença na taxa de eventos adversos individuais entre os grupos. Em um dos estudos, três participantes do grupo esteroide relataram eventos adversos (voz grossa e aumento dos pelos faciais). O outro estudo relatou melhora da qualidade de vida no grupo com esteroide.
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Rachel Riera e Maria Regina Torloni). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br