Educação para pessoas com doença coronariana

Pergunta da revisão

Quais são os efeitos da educação do paciente como parte da reabilitação cardíaca, comparada com os cuidados habituais, sobre mortalidade, morbidade, qualidade de vida relacionada à saúde e custos de saúde em pacientes com doença coronariana?

Introdução

A doença coronariana é a causa mais comum de morte no mundo. No entanto, mais pessoas vivem com doenças cardíacas hoje e podem precisar de apoio para controlar os sintomas e reduzir o risco de futuros problemas, tais como ataques cardíacos. A educação é um elemento comum da reabilitação cardíaca. Ela visa melhorar a saúde e os resultados das pessoas com doenças cardíacas. Esta é a atualização de uma revisão publicada em 2011.

Data da busca

Pesquisamos por estudos publicados até junho de 2016.

Características dos estudos

Procuramos na literatura científica por estudos clínicos controlados e randomizados (experimentos que alocam aleatoriamente os participantes para um de dois ou mais grupos de tratamento) que avaliaram a efetividade dos tratamentos baseados em educação comparados com a ausência de educação em pessoas de todas as idades com doença coronariana.

Incluímos nove novos estudos que envolveram 8.215 pessoas com doença coronariana que compararam a educação do paciente com ausência de educação. A revisão inclui agora um total de 22 estudos envolvendo 76.864 pessoas com doença cardíaca. A maioria dos participantes havia sobrevivido a um infarto do coração e passado por cirurgia de bypass ou angioplastia (um procedimento que dilata vasos bloqueados que fornecem sangue ao coração).

Fontes de financiamento dos estudos

Dezesseis estudos relataram quais foram as fontes de financiamento; seis não relataram. Um estudo foi financiado por um patrocinador industrial, quatro por seguradoras de saúde e 11 por fontes governamentais ou públicas.

Principais resultados

As conclusões desta atualização são semelhantes às da última versão da revisão (2011). A educação do paciente, como parte de um programa de reabilitação cardíaca, não contribui para um menor número de mortes, novos infartos, by-pass cardíaco ou angioplastia, ou internação por problemas relacionados ao coração. Há alguma evidência sinalizando para uma menor quantidade de outros eventos relacionados ao coração, além de melhoras na qualidade de vida ligada à saúde, nos pacientes que receberam intervenções baseadas em educação. Os estudos não relataram as causas individuais de morte. Por isso não foi possível determinar quantas pessoas nos estudos morreram devido a causas relacionadas ao coração ou por outras causas.

Embora não haja informações suficientes no momento para compreender todos os benefícios ou danos da educação para as pessoas com doença cardíaca, nossos achados apoiam, no geral, as diretrizes atuais de que as pessoas com doença cardíaca devem receber reabilitação integral que inclua educação. São necessárias mais pesquisas para avaliar as formas clinicamente mais apropriadas e mais efetivas do ponto de vista de custo, de se educar as pessoas com doenças cardíacas.

Qualidade da evidência
No geral, a qualidade da evidência foi muito baixa a moderada.

Conclusão dos autores: 

Não houve redução na mortalidade global das pessoas que receberam educação como parte da reabilitação cardíaca, em comparação com pessoas que não receberam essa intervenção (evidência de qualidade moderada). A educação não promoveu melhorias nas taxas de IM fatal ou não fatal, de revascularizações totais ou de hospitalizações. Existe alguma evidência de que a educação reduz eventos cardiovasculares fatais e/ou não fatais, mas este resultado é baseado em apenas dois estudos. Existe também alguma evidência sugerindo que as intervenções baseadas na educação podem melhorar a qualidade de vida relacionada à saúde. Nossos achados apoiam as atuais diretrizes clínicas nacionais e internacionais de que a reabilitação cardíaca para pessoas com doença coronariana deve ser ampla e incluir intervenções educacionais juntamente com exercícios e terapia psicológica. São necessárias mais pesquisas definitivas sobre as intervenções educativas para pessoas com doença coronariana.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A doença coronariana é a causa mais comum de morte no mundo. No entanto, com a queda das taxas de mortalidade por doença coronariana, um número crescente de pessoas vive com essa doença e pode necessitar de apoio para gerir os seus sintomas e melhorar o seu prognóstico. A reabilitação cardíaca é uma intervenção complexa e multifacetada que visa melhorar os desfechos de saúde das pessoas com doença coronariana. A reabilitação cardíaca consiste de três modalidades principais: educação, treinamento físico e apoio psicológico. Esta é uma atualização de uma revisão sistemática Cochrane publicada anteriormente em 2011, que procura investigar o impacto específico do componente educacional da reabilitação cardíaca.

Objetivos: 

1. Avaliar os efeitos da educação do paciente como parte da reabilitação cardíaca, comparada com os cuidados habituais, sobre mortalidade, morbidade, qualidade de vida relacionada à saúde e custos de saúde em pacientes com doença coronariana.

2. Explorar os potenciais preditores (no nível do estudo) dos efeitos da educação de pacientes com doença coronariana (por exemplo, intervenção individual versus em grupo, tempo depois do evento cardíaco índice).

Métodos de busca: 

Atualizamos as buscas da revisão Cochrane anterior, pesquisando as seguintes bases de dados em junho de 2016: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (Cochrane Library, Issue 6, 2016), MEDLINE (Ovid), Embase (Ovid), PsycINFO (Ovid) e CINAHL (EBSCO). Também fizemos buscas em três plataformas de registros de ensaios clínicos, nas listas de referências de revisões sistemáticas anteriores e dos estudos incluídos. Não houve restrições de idioma.

Critério de seleção: 

1. Incluímos ensaios clínicos controlados e randomizados (ECRs) nos quais a principal intervenção foi a educação como parte da reabilitação cardíaca.

2. Os estudos deveriam ter um seguimento mínimo de seis meses e terem sido publicados a partir de 1990.

3. Os participantes deveriam ser adultos com diagnóstico de doença coronariana.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores de revisão, trabalhando de forma independente, revisaram todas citações identificadas para selecionar os estudos para inclusão com base nos critérios de inclusão descritos acima. Um autor extraiu as características dos estudos incluídos e avaliou o risco de viés; um segundo autor verificou os dados. Dois revisores, trabalhando de forma independente, extraíram dados de desfecho usando um formulário de coleta padronizado. Para as variáveis dicotômicas, calculamos as razões de risco e intervalos de confiança (IC) de 95% para cada desfecho. A heterogeneidade entre os estudos incluídos foi explorada qualitativa e quantitativamente. Sempre que adequado e possível, combinamos os resultados dos estudos incluídos para cada desfecho, para obtermos uma estimativa global do efeito do tratamento. Devido ao grau de heterogeneidade clínica observado na seleção dos participantes, intervenções e comparações entre os estudos, decidimos agrupar os estudos utilizando um modelo de efeitos aleatórios. Planejamos realizar análises de subgrupos e meta-análises estratificadas, análises de sensibilidade e meta-regressão para examinar potenciais modificadores do efeito do tratamento. Usamos a abordagem Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (GRADE) para avaliar a qualidade da evidência e o GRADE profiler (GRADEpro GDT) para criar tabelas de sumário dos resultados.

Principais resultados: 

Esta revisão atualizada tem agora um total de 22 estudos que randomizaram 76.864 pessoas com doença coronariana para uma intervenção de educação ou um comparador "sem educação". Nesta atualização, incluímos nove novos estudos (8.215 pessoas). A maioria dos estudos incluídos tinha baixo risco de viés na maioria dos domínios. A "dose" de educação variou desde uma sessão presencial de 40 minutos mais uma ligação de acompanhamento de 15 minutos, até uma estadia residencial de quatro semanas mais 11 meses de sessões de acompanhamento. Os participantes dos grupos controle receberam cuidados médicos usuais, consistindo tipicamente de encaminhamento para um cardiologista ambulatorial, médico de atenção primária, ou ambos.

Não encontramos diferença entre os grupos para mortalidade total: 13 estudos, 10.075 participantes; 189/5187 (3,6%) versus 222/4888 (4,6%), razão de risco (RR) usando o modelo de efeitos aleatórios 0,80, IC 95% 0,60 a 1,05, evidência de qualidade moderada. Poucos estudos relataram as causas específicas de mortalidade. Portanto não pudemos apresentar os resultados separados para mortalidade cardiovascular ou mortalidade não cardiovascular. Não houve evidência de diferença entre os grupos sobre infarto do miocárdio (IM) fatal e/ou não fatal: 2 estudos, 209 participantes, 7/107 (6,5%) versus 12/102 (11,8%), RR com modelo de efeitos aleatórios 0,63, IC 95% 0,26 a 1,48, evidência de qualidade muito baixa. Porém existe alguma evidência de que a educação está associada à redução de eventos cardiovasculares fatais e/ou não fatais: 2 estudos, 310 participantes, 21/152 (13,8%) versus 61/158 (38,6%); RR de efeitos aleatórios 0,36, IC 95% 0,23 a 0,56, evidência de baixa qualidade. Não há evidência de diferença entre os grupos sobre a taxa geral de revascularização: 3 estudos, 456 participantes, 5/228 (2,2%) versus 8/228 (3,5%), RR de efeitos aleatórios 0,58, IC 95% 0,19 a 1,71, evidência de qualidade muito baixa. Também não houve diferença na taxa de hospitalização: 5 estudos, 14.849 participantes, 656/10.048 (6,5%) versus 381/4801 (7,9%), RR de efeitos aleatórios 0,93, IC 95% 0,71 a 1,21, evidência de qualidade muito baixa. Não houve evidência de diferença entre os grupos para abandono por todas as causas: 17 estudos, 10.972 participantes, 525/5632 (9,3%) versus 493/5340 (9,2%), RR de efeitos aleatórios 1,04, IC 95% 0,88 a 1,22, evidência de baixa qualidade. Embora alguns escores do domínio da qualidade de vida relacionada à saúde fossem mais elevados no grupo com educação, não houve evidência consistente de superioridade em todos os domínios.

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Afiliado Paraíba, Cochrane Brazil (Ayla Nóbrega André e Maria Regina Torloni). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br

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