A leishmaniose visceral (ou calazar) é uma doença causada por um parasita e os sintomas incluem febre, baço aumentado e outros problemas de saúde. A leishmaniose visceral ocorre na Índia, Bangladesh e Nepal, leste da África, na região do Mediterrâneo e no Brasil. O diagnóstico é importante, pois sem tratamento, as pessoas morrem e o tratamento adequado pode levar a cura. Muitos dos testes usados para saber se uma pessoa tem leishmaniose visceral são complicados, caros, dolorosos e às vezes perigosos para o paciente. Recentemente, foram lançados no mercado os testes rápidos de diagnóstico, que são seguros e fáceis de fazer.
Esta revisão Cochrane avaliou a acurácia desses testes rápidos (ou seja, o quanto eles acertam o diagnóstico) para detectar a leishmaniose visceral. Nós resumimos os estudos que avaliaram os testes rápidos em pessoas que, de acordo com seus médicos, poderiam ter a doença. Incluímos apenas estudos em que os pesquisadores também usaram outros métodos diagnósticos tradicionais para concluir quem tinha e quem não tinha a doença.
Encontramos 24 estudos que traziam informações sobre cinco testes rápidos diferentes. Um total de 4.271 pessoas participou desses estudos. Um dos testes rápidos (denominado teste imunocromatográfico rK39) teve resultados positivos corretos em 92% das pessoas com leishmaniose visceral e teve resultados negativos corretos em 92% das pessoas que não tinham a doença. Esse teste apresentou melhores resultados na Índia e Nepal do que no leste da África. Na Índia e no Nepal, ele teve resultados positivos corretos em 97% das pessoas com a doença. No leste da África, teve resultados positivos corretos em apenas 85% das pessoas com a doença.
Um segundo teste rápido (denominado teste de aglutinação em látex) teve resultados positivos corretos em 64% das pessoas com a doença e resultados negativos corretos em 93% das pessoas que não tinham a doença. Não há estudos suficientes disponíveis para saber qual é a acurácia dos outros testes rápidos existentes.
O TIC rK39 apresenta alta sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da leishmaniose visceral em pacientes com esplenomegalia febril e sem história prévia de doença, mas a sensibilidade é consideravelmente menor no leste da África do que no subcontinente indiano. Os demais testes rápidos carecem de acurácia, validação ou ambos.
O diagnóstico da leishmaniose visceral (LV) em pacientes com febre e baço aumentado depende da identificação dos parasitas da Leishmania em amostras de tecidos e em testes sorológicos. As técnicas parasitológicas são invasivas, exigem laboratórios sofisticados, consomem tempo, e carecem de precisão. Recentemente, os testes de diagnóstico rápido, que são fáceis de executar, tornaram-se disponíveis.
Avaliar a acurácia de testes rápidos para diagnosticar LV em pacientes com suspeita da doença atendidos nos serviços de saúde em áreas endêmicas.
Realizamos buscas em 3 de dezembro de 2013 nas seguintes bases de dados: MEDLINE, EMBASE, LILACS, CIDG SR, CENTRAL, SCI-expanded, Medion, Arif, CCT, e no WHO Trials Register. Não houve restrição quanto ao idioma ou à data de publicação dos estudos.
Esta revisão inclui estudos originais, de fase III, de acurácia diagnóstica dos testes rápidos em pacientes com suspeita clínica de LV. Os padrões de referência foram: (1) exame microscópico direto (esfregaço) ou cultura do aspirado esplênico; (2) padrão de referência combinado baseado em um ou mais dos seguintes: parasitologia, sorologia ou resposta ao tratamento; e (3) a análise de classe latente.
Dois autores, de modo independente, extraíram os dados e avaliaram a qualidade dos estudos incluídos utilizando a ferramenta QUADAS-2. As discrepâncias foram resolvidas por um terceiro autor. Realizou-se uma metanálise para estimar a sensibilidade e especificidade dos testes rápidos utilizando um modelo de distribuição normal bivariada com uma função de ligação complementar log-log. Analisamos cada teste separadamente. Avaliamos as seguintes variáveis como possíveis fontes de heterogeneidade: a área geográfica, a marca comercial do teste, o tipo de padrão de referência, a prevalência da doença, o tamanho do estudo e o risco de viés (QUADAS-2). Nós também realizamos uma análise de sensibilidade para avaliar a influência de padrões de referência imperfeitos.
Um total de 24 estudos foram incluídos. Esses estudos apresentavam informações sobre cinco testes: imunocromatográfia rK39 (TIC), aglutinação em látex na urina (Katex), aglutinação rápida (FAST), o TIC rK26 e o TIC rKE16. Esses 24 estudos recrutaram 4.271 participantes (2.605 com LV). Realizamos meta-análises para o TIC rK39 (incluindo 18 estudos; 3.622 participantes) e para o teste de aglutinação em látex (6 estudos; 1.374 participantes). Houve heterogeneidade considerável. Para o TIC rK39, a sensibilidade global foi de 91,9% (intervalo de confiança de 95% [CI 95%] 84,8 - 96,5) e a especificidade global foi de 92,4% (CI 95% 85,6 - 96,8). A sensibilidade foi menor no leste da África (85,3%; CI 95% 74,5 - 93,2) do que no subcontinente indiano (97,0%; CI 95% 90,0 - 99,5). Para o teste de aglutinação em látex, a sensibilidade global foi 63,6% (CI 95% 40,9 - 85,6) e a especificidade global foi de 92,9% (CI 95% 76,7 - 99,2).
Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Aline de Gregori Adami)