O que é epilepsia resistente a medicamentos?
A epilepsia é um dos distúrbios neurológicos de longa duração mais comuns. Este distúrbio afeta 1% da população mundial. Até 30% das pessoas com epilepsia continuam a ter convulsões (explosões repentinas de atividade elétrica no cérebro que alteram seu funcionamento por um curto período de tempo) mesmo com o uso de medicamentos antiepilépticos adequados. Considera-se que estas pessoas têm epilepsia resistente a medicamentos.
O que queríamos saber?
Os medicamentos antiepilépticos podem ser usados isoladamente (como monoterapia) ou em combinação (politerapia). O estiripentol é um medicamento antiepiléptico desenvolvido na França e aprovado em 2007 pela Agência Europeia de Medicamentos como terapia adjuvante (complementar) com valproato e clobazam para o tratamento da síndrome de Dravet (uma epilepsia rara e resistente a medicamentos que se inicia no primeiro ano de vida de um bebê previamente saudável). Esta revisão avalia as evidências sobre o uso de estiripentol como tratamento adjuvante na epilepsia focal resistente a medicamentos (em pessoas que tomam medicamentos antiepilépticos).
O que encontramos?
Com base nos nossos critérios de inclusão, incluímos apenas um estudo nesta revisão No estudo incluído, 67 crianças receberam um medicamento de mentira (placebo) além do tratamento habitual por um mês e, em seguida, receberam estiripentol adicional (sem o placebo) por quatro meses. As 32 crianças que responderam ao estiripentol (que tiveram metade do número de convulsões ou menos ao tomar estiripentol em comparação com o primeiro mês) foram incluídas na próxima parte do estudo. Dezessete destas crianças continuaram usando o estiripentol, enquanto as outras 15 receberam placebo. Esta etapa do estudo foi randomizada e duplo-cega (o tratamento foi dado aleatoriamente, e nem as crianças nem os médicos sabiam quem estava recebendo qual tratamento).
Após dois meses, os autores do estudo não encontraram diferenças claras entre os dois grupos de tratamento na redução das convulsões (o número de crianças com metade do número de convulsões ou menos) ou na ausência de convulsão (o número de crianças que não tiveram convulsões). No entanto, as crianças que tomaram estiripentol foram mais propensas a ter efeitos colaterais prejudiciais do que aquelas que tomaram placebo. Os resultados do estudo podem não se aplicar a uma população mais geral, pois este estudo incluiu apenas crianças que responderam ao estiripentol.
Quais são as limitações das evidências?
Temos pouca confiança nestas evidências porque o estudo incluído tinha poucas crianças. Além disso, várias crianças deixaram o estudo antes do final e o tratamento dado a todas as crianças na primeira parte do estudo pode ter afetado o número de convulsões na segunda parte, randomizada, duplo-cega do estudo.
Nenhuma evidência atualmente disponível apoia o uso de estiripentol como tratamento adjuvante para epilepsia focal resistente a medicamentos. São necessários ensaios clínicos randomizados, bem conduzidos e com muitos participantes sobre este assunto.
As evidências estão atualizadas até março de 2022.
Não encontramos novos estudos desde que a última versão desta revisão foi publicada. Portanto, não fizemos alterações nas conclusões apresentadas nas versões anteriores. Não podemos tirar conclusões que apoiem o uso de estiripentol como tratamento adjuvante na epilepsia focal resistente a medicamentos. São necessários estudos adicionais randomizados, bem conduzidos e com grande número de participantes.
Esta é uma atualização de uma revisão Cochrane publicada pela primeira vez em 2014 e pela última vez em 2020.
Os tratamentos atuais não controlam as convulsões em quase 30% das pessoas com epilepsia. O estiripentol é um medicamento antiepiléptico desenvolvido na França e aprovado pela Agência Europeia de Medicamentos em 2007 como terapia adjuvante com valproato e clobazam para o tratamento da síndrome de Dravet.
Avaliar a eficácia e a tolerabilidade do estiripentol como tratamento adjuvante para pessoas com epilepsia focal resistente a medicamentos que estão tomando antiepilépticos.
Para esta atualização mais recente, fizemos buscas no Cochrane Register of Studies (CRS Web) e no MEDLINE em 28 de março de 2022. Entramos em contato com o fabricante de estiripentol e especialistas em epilepsia para identificar estudos publicados, não publicados e em andamento.
Ensaios clínicos randomizados (ECRs) sobre como terapia adjuvante em pessoas com epilepsia focal resistente a medicamentos.
Os autores da revisão, trabalhando de forma independente, selecionaram os estudos para inclusão e extraíram os dados dos estudos incluídos. Avaliamos os desfechos, incluindo a redução de 50% ou mais na frequência das convulsões, ausência de convulsões, eventos adversos, retirada do tratamento e mudanças na qualidade de vida.
Com base nos nossos critérios de seleção, não incluímos novos estudos nesta atualização da revisão. Incluímos apenas um estudo da revisão original (com 32 crianças com epilepsia focal). Este estudo adotou um desenho enriquecido com respondedores e, ao comparar o estiripentol adjuvante com placebo, não encontrou evidências claras de uma redução de 50% ou mais na frequência das convulsões (risco relativo (RR) 1,51, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,81 a 2,82; baixa certeza na evidência) ou de ausência de convulsões (RR 1,18, IC 95% 0,31 a 4,43; baixa certeza na evidência).
O estiripentol levou a um maior risco de eventos adversos considerados como um todo (RR 2,65, IC 95% 1,08 a 6,47; baixa certeza na evidência). Quando consideramos os eventos adversos específicos, os ICs foram muito amplos e mostraram tanto a possibilidade de aumentos substanciais, quanto a possibilidade de pequenas reduções no risco de eventos adversos neurológicos (RR 2,65, IC 95% 0,88 a 8,01; baixa certeza na evidência). Os pesquisadores não observaram redução clara no risco de retirada do estudo (RR 0,66, IC 95% 0,30 a 1,47; baixa certeza na evidência). A retirada foi alta em ambos os grupos (53,3% no grupo placebo e 35,3% no grupo estiripentol; baixa certeza na evidência).
Apenas os respondedores ao estiripentol (ou seja, participantes que apresentaram uma redução de 50% ou mais na frequência de convulsões durante uma fase de pré-randomização aberta em comparação com a linha de base) foram incluídos na fase randomizada, duplo-cega, controlada por placebo do estudo. Portanto, a validade externa deste estudo foi limitada. Além disso, os efeitos carry-over e de retirada provavelmente influenciaram os desfechos relacionados à frequência de convulsões. Informações muito limitadas, provenientes de um único estudo incluído, mostram que os eventos adversos considerados como um todo podem ocorrer com mais frequência com o estiripentol adjuvante do que com o placebo adjuvante.
Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina P. Nunes Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com