O tratamento domiciliar é melhor que o tratamento hospitalar para pessoas com coágulos de sangue nos pulmões?

Mensagem principal

Não sabemos se o tratamento no hospital ou em casa (ambulatorial) é melhor para algumas pessoas com coágulos de sangue nos pulmões. Não encontramos evidências claras de uma diferença importante no número de mortes, sangramento, recorrência de novos coágulos de sangue ou satisfação do paciente, porque os resultados foram imprecisos e os estudos não relataram efeitos colaterais sobre a pressão arterial ou se as pessoas seguiram adequadamente os conselhos médicos. São necessários estudos melhor elaborados para que os médicos possam tomar decisões práticas baseadas em informações

Por que esta pergunta é importante?

Um coágulo de sangue nos pulmões (embolia pulmonar) é uma das principais causas de morte e doença. A embolia pulmonar pode ocorrer depois que um coágulo de sangue situado em veias do corpo se rompe e se desloca pelo sangue até os pulmões. O coágulo pode muitas vezes originar-se de veias dos membros inferiores onde é chamado de trombose venosa profunda. A forma como as pessoas são tratadas depende da sua condição clínica,de baixo ou alto risco, mas a maioria das pessoas recebe medicamentos para tratar o coágulo (anticoagulantes) no hospital. Para algumas pessoas de baixo risco com embolia pulmonar súbita (aguda), o tratamento em casa pode ser melhor do que mantê-los no hospital. O tratamento em casa apresenta possíveis benefícios como diminuir a ocupação dos hospitais, menor risco de contrair uma infecção no hospital, economia de custos e melhor qualidade de vida relacionada à saúde. Nós queríamos saber se havia diferenças nos riscos e benefícios entre as pessoas com coágulos de sangue nos pulmões que são tratadas em casa, em comparação com as que são tratadas no hospital.

O que fizemos?

Nós procuramos encontrar ensaios clínicos randomizados que compararam o tratamento domiciliar versus hospitalar em adultos que apresentavam embolia pulmonar de início súbito e de risco baixo em casa ou no hospital. Em ensaios clínicos randomizados, os tratamentos que as pessoas recebem são decididos aleatoriamente, e estes tipos de estudos fornecem as provas mais confiáveis sobre os efeitos do tratamento.

O que encontramos?

Nós encontramos dois estudos envolvendo 453 pessoas com embolia pulmonar súbita que foram tratadas em casa ou no hospital. Um estudo usou o mesmo tratamento para as pessoas tratadas em casa ou no hospital, e o segundo estudo usou tratamentos diferentes. Não encontramos nenhuma diferença clara no número de mortes, sangramento, novos coágulos ou satisfação do paciente entre os grupos de pessoas que foram tratadas em casa ou no hospital.

Nenhum dos estudos forneceu informações sobre os efeitos colaterais do tratamento ou se as pessoas foram capazes de seguir corretamente as instruções de tratamento em casa.

Quais são as limitações das evidências?

Não estamos muito certos sobre as evidências fornecidas pelos dois estudos incluídos. Porque havia apenas um número reduzido de pessoas nos estudos (e um pequeno número de eventos) e porque não conseguimos ter certeza de que todos os estudos onde não existiu diferença entre as duas formas de tratamento (hospitalar ou domiciliar) foram publicados.

Até que ponto esta revisão está atualizada?

Esta revisão atualiza uma revisão anterior. A evidência está atualizada até maio de 2021.

Conclusão dos autores: 

Atualmente, apenas evidências de baixa certeza estão disponíveis originados de dois ensaios clínicos randomizados publicados sobre tratamento ambulatorial versus hospitalar em pacientes de baixo risco com EP aguda. Os estudos não forneceram evidências de nenhuma diferença clara entre as intervenções em mortalidade geral, sangramento ou recorrência de EP.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A embolia pulmonar (EP) é uma condição cardiovascular comum que ameaça a vida, com uma incidência de 23 a 69 novos casos por 100.000 pessoas a cada ano. Para pacientes com EP classificados como baixo risco , o tratamento ambulatorial pode oferecer várias vantagens sobre o tratamento hospitalar tradicional, como a redução de hospitalizações, economia substancial de custos e melhorias na qualidade de vida relacionada à saúde. Esta é uma atualização de uma Revisão Cochrane

Objetivos: 

Avaliar os efeitos do tratamento ambulatorial versus hospitalar em pacientes de baixo risco com EP aguda.

Métodos de busca: 

Utilizamos métodos de pesquisa abrangentes padrão da Cochrane. A última data de busca foi 31 de maio de 2021.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios randomizados controlados (ERC) que compararam o tratamento ambulatorial versus hospitalar em adultos (a partir de 18 anos) diagnosticados com EP aguda e classificados como baixo risco.

Coleta dos dados e análises: 

Utilizamos os métodos padrão da Cochrane. Nossos desfechos primários foram a mortalidade por todas as causas a curto e a longo prazo. Os desfechos secundários foram sangramento, efeitos adversos, recorrência de EP e satisfação do paciente. Usamos o GRADE para avaliar a certeza da evidência para cada desfecho.

Principais resultados: 

Não identificamos nenhum novo estudo para esta atualização. Incluímos um total de dois ECR envolvendo 453 participantes. Nos dois ensaios os participantes randomizados para o grupo ambulatorial receberam alta hospitalar no prazo de 36 horas após a triagem inicial.Os participantes foram acompanhados por 90 dias. Um estudo comparou o mesmo tratamento, tanto no grupo ambulatorial quanto no grupo hospitalar, e o outro estudo utilizou tratamentos diferentes. Não houve diferença clara no efeito do tratamento para os desfechos de mortalidade aos 30 dias (razão de risco (RR) 0,33, intervalo de confiança 95% (IC) 0,01 a 7,98; dois estudos, 453 participantes; baixa certeza da evidência), mortalidade aos 90 dias (RR 0.98, 95% CI 0,06 a 15,58; dois estudos, 451 participantes; baixa certeza da evidência), sangramento maior aos 14 dias (RR 4,91, 95% CI 0,24 a 101,57; dois estudos, 445 participantes; baixa certeza da evidência) e aos 90 dias (RR 6.88, 95% IC 0,36 a 132,14; dois estudos, 445 participantes; baixa certeza da evidência), sangramento menor (RR 1,08, 95% IC 0,07 a 16,79; um estudo, 106 participantes; baixa certeza da evidência), EP recorrente em 90 dias (RR 2,95, 95% IC 0,12 a 71,85; 2 estudos, 445 participantes; baixa certeza da evidência), e satisfação do paciente (RR 0,97, 95% IC 0,90 a 1,04; 2 estudos, 444 participantes; moderada certeza da evidência ). Diminuímos a certeza da evidência porque os IC eram amplos e incluíam efeitos de tratamento em ambas as direções, o tamanho das amostras e o número de eventos eram pequenos, e não era possível determinar o efeito das perdas ou a presença de viés de publicação. Os estudos incluídos não avaliaram a mortalidade e efeitos adversos relacionada à EP, tais como instabilidade hemodinâmica, ou adesão ao tratamento.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Aline Rocha e Francesco Evangelista Botelho). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

Tools
Information