Hormônios bioidênticos para sintomas vasomotores da menopausa (fogachos)

Pergunta da revisão
Esta Revisão Cochrane avaliou a efetividade e a segurança do tratamento com hormônios bioidênticos (HBI) versus nenhum tratamento ou tratamento com hormônios convencionais (TH) para aliviar os sintomas vasomotores das mulheres na fase da menopausa.

Introdução
Existem vários tipos de tratamentos hormonais (TH) para tratar os sintomas vasomotores da menopausa. Os hormônios bioidênticos (HBI) são quimicamente idênticos aos produzidos pelo corpo humano. Vários desses HBI foram bastante testados e podem ser receitados pelos médicos. Muitas mulheres optaram pela terapia de reposição hormonal bioidêntica (HBI), por acreditarem que esse tipo de tratamento seria mais seguro do que outros tipos de terapia hormonal. Porém, ainda não está claro se esse tipo de tratamento é mais seguro ou efetivo do que outros tipos de tratamentos hormonais. Nós avaliamos as evidências existentes a esse respeito.

Características dos estudos
Esta revisão inclui 23 ensaios clínicos randomizados realizados até julho de 2015. Esses estudos incluíram um total de 5.779 mulheres que estavam no período de transição da menopausa e sofriam com ondas de calor (fogachos). A maioria dos estudos (20/23) incluiu apenas mulheres com sintomas moderados a intensos. Nenhum dos estudos apresentou resultados separados para suores noturnos.

Principais resultados
Existe evidência de qualidade baixa a moderada de que o uso de HBI, em várias formas farmacêuticas e doses, é mais eficiente do que o placebo (remédios que não contêm nenhum princípio ativo) na redução da frequência das fogachos moderados a intensos, em mulheres que estão atravessando a fase da menopausa. Existe evidência de qualidade baixa a moderada de que o uso de HBI aumenta a taxa de efeitos adversos, como dor de cabeça, sangramento vaginal, sensibilidade mamária e reações cutâneas nas mulheres que usaram HBI. Há algumas evidências que sugerem que doses mais elevadas de HBI teriam maior eficácia, mas também maior risco de efeitos adversos. Não existem ainda dados disponíveis sobre a segurança de HBI em relação aos resultados de longo prazo, tais como ataque cardíaco, derrame e câncer de mama. Como o uso de estrogênio isolado está associado a hiperplasia endometrial (crescimento excessivo da camada interna do útero), todas as mulheres que tenham seu útero e que estão fazendo uso de qualquer tipo de estrogênio devem também tomar um progestagéno.

Não existem boas evidências de que haja diferença na efetividade dos HBI comparados aos estrogênios equinos conjugados (um dos tipos mais comuns de hormônios prescritos na menopausa); os resultados, no que diz respeito aos efeitos adversos, são inconsistentes. Porém, a qualidade da evidência é muita baixa para chegar a conclusões definitivas para essa comparação.

Qualidade da evidênciaA qualidade das evidências foi rebaixada, principalmente devido ao risco de viés dos estudos incluídos na revisão (principalmente devido à má descrição de métodos), à imprecisão das estimativas de efeito e à falta de dados adequados para análise.

Conclusão dos autores: 

Existe evidência de baixa a moderada qualidade de que HBI, em várias formas farmacêuticas e doses, é mais eficaz do que o placebo para o tratamento de fogachos moderados a intensos da menopausa. Existe evidência de qualidade baixa a moderada de que as mulheres que tomam HBI têm maiores taxas de efeitos adversos, como dor de cabeça, sangramento vaginal, sensibilidade mamária e reações cutâneas. Alguma evidência sugere que doses mais elevadas de HBI seriam mais efetivas mas também trariam maior risco de efeitos adversos. Apesar de todos os estudos incluídos nesta revisão terem usado apenas estrogênio isolado (sem associar outros hormônios), recomenda-se o uso de progestágenos na terapia de reposição hormonal de todas mulheres com útero que tomem qualquer tipo de estrogênio, a fim de evitar que elas desenvolvam hiperplasia do endométrio. Não existem ainda dados disponíveis sobre a segurança da HBI em relação aos desfechos de longo prazo, tais como enfarte, derrame e câncer de mama.

Não existem boas evidências de que haja diferença na efetividade dos HBI comparados aos estrogênios equinos conjugados, e os resultados em relação aos efeitos adversos foram inconsistentes. Porém, a qualidade da evidência é muita baixa para chegar a conclusões definitivas.

A qualidade das evidências foi rebaixada devido ao risco de viés dos estudos incluídos na revisão (principalmente devido à má descrição dos métodos), à imprecisão das estimativas de efeito e à falta de dados adequados para análise.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Existem vários tipos de tratamentos hormonais (TH) para tratar os sintomas vasomotores da menopausa (fogachos). Os hormônios bioidênticos (HBI) são quimicamente idênticos aos produzidos pelo corpo humano. Vários desses HBI foram bastante testados e podem ser receitados pelos médicos. Muitas mulheres optaram pela terapia de reposição hormonal bioidêntica (HBI) por acreditar que esse tipo de tratamento seria mais seguro do que outros tipos de terapia hormonal. Porém, ainda não está claro se esse tipo de tratamento é mais seguro ou efetivo do que outros tipos de tratamentos hormonais. Nós avaliamos as evidências existentes a esse respeito.

Objetivos: 

Avaliar a efetividade e a segurança do uso de hormônios bioidênticos comparados com placebo ou hormônios não bioidênticos para o alívio dos sintomas vasomotores.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados, em julho de 2015: Cochrane Central Register of Controlled Trials, PubMed , Embase e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Também fizemos buscas em plataformas de registro de ensaios clínicos em andamento e avaliamos as referências das listas bibliográficas dos estudos selecionados.

Critério de seleção: 

Ensaios clínicos randomizados (ECR) que compararam a terapia hormonal bioidêntica (HBI) versus placebo ou hormônios não bioidênticos.

Coleta dos dados e análises: 

Nós usamos os métodos padrão esperados pela Colaboração Cochrane. Nosso desfecho primário foi a presença de sintomas vasomotores (fogachos e suores noturnos). Usamos o GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation criteria) para avaliar a qualidade geral das evidências

Principais resultados: 

Incluímos 23 ensaios clínicos randomizados (5.779 participantes). A maioria dos estudos (20/23) incluiu apenas mulheres com fogachos moderados a intensos. Todos os estudos compararam 17 beta-estradiol (beta-estradiol) isolado versus placebo ou estrogênios equinos conjugados (EEC). Nenhum dos estudos relatou suores noturnos como um desfecho separado.

Adesivos de HBI versus placebo

Frequência de fogachos

Quatro ECR tinham dados adequados para análise. O grupo HBI teve menos fogachos; o tamanho do efeito foi médio a grande (SMD -0,68 , IC 95% -0,83 a -0,53 , 4 ECR, 793 mulheres, I2 = 67%, baixa qualidade de evidências). Houve heterogeneidade moderada, mas a direção do efeito foi consistente. Sete estudos apresentaram dados inadequados para análise; todos relataram um benefício no grupo de intervenção.

Intensidade dos sintomas

Dois ECR apresentaram dados analisáveis. A intensidade dos sintomas foi medida usando uma escala visual analógica (EVA) de 0-100. A intensidade dos fogachos foi menor no grupo HBI (MD -19.94 pontos, IC95% -24,86 a -15,02 pontos, 2 estudos, 393 mulheres, I2 = 54% , evidência de baixa qualidade). Houve heterogeneidade moderada, mas a direção do efeito foi consistente.

Efeitos adversos

Os eventos adversos (tais como dor de cabeça, sangramento vaginal, sensibilidade mamária e reações cutâneas) foram mais comuns no grupo de intervenção (odds ratio,OR,2,14 ; IC 95% 1,29-3,54, 9 estudos, 1.822 mulheres, I2 = 73%, evidência de baixa qualidade). Houve heterogeneidade moderada, mas a direção do efeito foi consistente. Em um estudo, 5 mulheres no grupo de intervenção desenvolveram hiperplasia endometrial.

Gel de HBI versus placebo

Frequência de fogachos

Três estudos relataram este desfecho, mas os dados eram inadequados para análise. Todos relataram benefício no grupo HBI.

Efeitos adversos

Os eventos adversos foram mais comuns no grupo HBI (OR 1,41, 95% CI 1,09 a 1,83, 3 estudos, 1.086 mulheres, I2 = 0%, evidência de qualidade moderada).

HBI por via oral versus placebo

Frequência de fogachos

Dois estudos apresentaram dados analisáveis. Houve menos fogachos no grupo HBI; o tamanho do efeito foi moderado a grande (SMD -0,80 , IC 95% -1,03 a -0,57, 2 estudos, 356 mulheres, I2 = 14%, evidência de baixa qualidade).

Efeitos adversos

Não houve evidência de diferença entre os grupos (OR 1,28, 95% CI 0,84 a 1,96, 3 estudos, 433 mulheres, I2 = 0%, evidência de baixa qualidade).

Emulsão tópica de HBI versus placebo

Frequência de fogachos

Um estudo, com dados inadequados para análise, relatou benefício no grupo de intervenção.

Efeitos adversos

Não houve evidência de diferença entre os grupos (OR 1,46 , IC 95% 0,80-2,66, 1 estudo, 200 mulheres, evidência de baixa qualidade).

HBI por via nasal versus placebo

Frequência de fogachos

Apenas um estudo apresentou dados analisáveis. O grupo HBI teve menos fogachos por dia (MD -3,04 IC 95% -4,05 a -2,03, 1 estudo, 458 mulheres, evidência de qualidade moderada).

Efeitos adversos

Os eventos adversos (tais como dor de cabeça, sensibilidade mamária, artralgia e náusea) foram mais comuns no grupo de intervenção (OR 1,96 , 95% CI 1,26-3,03, um estudo, 458 mulheres, evidência de qualidade moderada).

Análises de subgrupos

As análises de subgrupo por dose de HBI sugerem que doses mais elevadas de HBI podem ter maior efetividade, mas também maior risco de efeitos adversos.

Adesivo de HBI versus 0,625 mg de estrogênios equinos conjugados

Dois estudos fizeram esta comparação, mas os dados eram inadequados para análise.

Frequência de fogachos

Ambos os estudos relataram não haver evidência de diferença entre os grupos.

Efeitos adversos

Os resultados foram inconsistentes. Em uma comparação (0,1 mg HBI versus estrogênios equinos conjugados), o grupo HBI teve mais casos de dor mamária e sangramento vaginal.

HBI por via oral versus 0,625 mg EEC

Frequência de fogachos

Um único estudo, com dados inadequados para análise, relatou não haver evidência de diferença entre os grupos.

Efeitos adversos

Não houve evidência de diferença entre os grupos (OR 1,20, IC 95% 0,50-2,87, 1 estudo, 103 mulheres, evidência de qualidade muito baixa).

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Ana Marcia I.S. Gaudard). Contato:tradutores@centrocochranedobrasil.org.br

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