Introdução
A reabilitação cardíaca (RC) que inclui o treinamento com exercícios tem sido recomendada no tratamento de pessoas após cirurgias de valvas cardíacas. No entanto, a força desta evidência é incerta. Esta revisão atualizada teve como objetivo avaliar os benefícios e danos da RC com exercícios para adultos que foram submetidos a cirurgias de troca ou reparo de valvas cardíacas. Todos os tipos de cirurgias de valvas cardíacas foram incluídos.
Características dos estudos
Fizemos buscas para encontrar estudos que avaliaram os efeitos da RC com exercícios em comparação com a ausência de exercícios ("controle") após cirurgias de valvas cardíacas em adultos (18 anos ou mais) com doença valvar cardíaca de qualquer causa. As evidências desta revisão estão atualizadas até 10 de janeiro de 2020.
Resultados principais
Encontramos seis estudos com um total de 364 participantes. Nesta atualização, adicionamos quatro novos estudos (com um total de 216 participantes) às evidências incluídas na revisão publicada anteriormente. Temos dúvidas sobre os efeitos da RC com exercícios em comparação com o controle na mortalidade por todas as causas, na qualidade de vida relacionada à saúde e na hospitalização por todas as causas.
Qualidade da evidência
Os resultados desta revisão devem ser interpretados com cautela devido a algumas preocupações com o risco de viés (potencial para erro sistemático) em cinco de seis estudos incluídos. Apenas um estudo tinha baixo risco de viés. São necessários ECRs adicionais de alta qualidade para melhor avaliar os efeitos da RC baseada em exercícios nestes pacientes.
Devido à falta de evidências e à qualidade (certeza) muito baixa das evidências disponíveis, ainda é incerto o impacto da RC com exercícios nesta população em termos de mortalidade, hospitalização e qualidade de vida relacionada à saúde. São necessárias evidências de alta qualidade (baixo risco de viés) sobre o impacto da RC para informar as diretrizes clínicas e a prática clínica de rotina.
O impacto da reabilitação cardíaca (RC) baseada em exercícios após cirurgias de valvas cardíacas é incerto. Realizamos uma atualização desta revisão sistemática e uma meta-análise para avaliar as evidências de ensaios clínicos controlados randomizados (ECRs) sobre a RC baseada em exercícios após cirurgias de valvas cardíacas.
Avaliar os benefícios e danos da RC baseada em exercícios em comparação com nenhum treinamento com exercícios em adultos após cirurgias de substituição ou reparo de valvas cardíacas, incluindo tanto procedimentos percutâneos quanto cirúrgicos. Consideramos para inclusão nesta revisão estudos com programas de RC que consistiam em treinamento com exercícios com ou sem outra intervenção (como uma intervenção com um componente psico-educativo).
Fizemos buscas na Cochrane Central Register of Clinical Trials (CENTRAL), na Cochrane Library; MEDLINE (Ovid); Embase (Ovid); Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL; EBSCO); PsycINFO (Ovid); Literatura Latino-Americana das Ciências da Saúde e do Caribe (LILACS; Bireme); e na Conference Proceedings Citation Index-Science (CPCI-S) na Web of Science (Clarivate Analytics) em 10 de janeiro de 2020. Em 15 de maio de 2020, fizemos buscas por estudos em andamento no ClinicalTrials.gov, Clinical-trials.com e na plataforma World Health Organization International Clinical Trials Registry.
Incluímos ECRs que comparavam RC baseadas em exercícios versus intervenções sem exercícios. Os participantes dos estudos eram adultos com 18 anos ou mais que tinham sido submetidos a cirurgias de valvas cardíacas por doença valvar (de qualquer causa) e tinham recebido substituição ou reparo de valvas cardíacas. Incluímos tanto os procedimentos percutâneos quanto cirúrgicos.
Dois autores, trabalhando de forma independente, extraíram os dados dos estudos incluídos. Examinamos o risco de erros sistemáticos ("viés") avaliando os domínios da ferramenta "Risco de viés" (RoB2). Avaliamos a heterogeneidade clínica e estatística. Realizamos meta-análises utilizando tanto modelos de efeito fixo como de efeitos aleatórios. Utilizamos a abordagem GRADE para avaliar a qualidade (certeza) da evidência para os desfechos primários (mortalidade por todas as causas, hospitalização por todas as causas e qualidade de vida relacionada à saúde).
Incluímos seis estudos, com um total de 364 participantes, que tiveram cirurgias abertas ou percutâneas de valvas cardíacas. Nesta atualização de revisão, identificamos quatro estudos adicionais (com um total de 216 participantes). Um estudo tinha um risco de viés geral baixo, e classificamos os cinco restantes como tendo algumas preocupações quanto ao risco de viés.
O período de acompanhamento variou entre 3 e 24 meses. Com base nos dados do período mais longo de acompanhamento, um total de nove participantes morreram: 4 RC versus 5 controles (risco relativo (RR) 0,83, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,26 a 2,68; 2 estudos; 131 participantes; muito baixa certeza na evidência). Nenhum estudo relatou dados sobre a mortalidade cardiovascular. Um estudo relatou uma hospitalização por causas cardíacas no grupo RC e nenhuma no grupo controle (RR 2,72, IC 95% 0,11 a 65,56; 1 estudo, 122 participantes; muito baixa certeza na evidência). Temos dúvidas sobre os efeitos da RC com exercícios em comparação com o controle na qualidade de vida relacionada à saúde avaliada ao final da intervenção. Para a qualidade de vida relacionada à saúde, avaliada ao final da intervenção com o componente mental do Questionário Short-form (SF)-12/36, a diferença média (DM) foi de 1,28, IC 95% -1,60 a 4,16; 2 estudos, 150 participantes; muito baixa certeza na evidência; e para o componente físico do SF-12/36: a DM foi de 2,99, IC 95% -5,24 a 11,21; 2 estudos, 150 participantes; muito baixa certeza na evidência). Também temos dúvidas sobre os efeitos da RC com exercícios em comparação com o controle na qualidade de vida relacionada à saúde avaliada no período de acompanhamento mais longo, com o componente mental do SF-12/36: DM -1,45, IC 95% -4,70 a 1,80; 2 estudos, 139 participantes; muito baixa certeza na evidência; e com o componente físico do SF-12/36: DM -0,87, IC 95% -3,57 a 1,83; 2 estudos, 139 participantes; muito baixa certeza na evidência).
Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina P. N. Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com