Reabilitação cardíaca baseada em exercícios para pessoas com fibrilação atrial

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• Exercícios para reabilitação cardíaca provavelmente ajudam a melhorar os sintomas, a qualidade de vida e a capacidade de exercício (nível de esforço físico que a pessoa consegue realizar) de adultos com fibrilação atrial (FA).

• Não temos informações suficientes para saber se o exercício ajuda a reduzir mortes ou causam efeitos colaterais graves.

A qualidade da evidência variou de moderada a muito baixa. São necessários mais estudos estudos de alta qualidade.

O que é fibrilação atrial?

A fibrilação atrial (FA) é quando o coração bate de forma irregular. Isso pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral e outros problemas cardíacos. Os sintomas da FA incluem palpitações, cansaço e tontura. Fazer exercícios pode ser útil para quem tem FA, já que isso melhora a saúde do coração e o bem-estar geral.

O que queríamos descobrir?

Analisamos os benefícios e possíveis danos da reabilitação cardíaca baseada em exercícios para adultos com FA.

O que nós fizemos?

Buscamos estudos que comparassem a reabilitação cardíaca baseada em exercícios com nenhum exercício em pessoas com FA, focando nos efeitos sobre a mortalidade, complicações graves e outros fatores, como a gravidade da FA e a qualidade de vida dos pacientes.

O que nós encontramos?

Incluímos 20 estudos com um total de 2,039 pessoas com FA. Durante os estudos, ocorreram 101 mortes e 28 casos de efeitos adversos graves. Não encontramos evidências suficientes para saber se a reabilitação com exercícios reduz o risco de morte ou de efeitos colaterais graves. No entanto, a reabilitação baseada em exercícios provavelmente reduz a recorrência da FA, os sintomas da FA e provavelmente melhora os aspectos mentais da qualidade de vida, e pode reduzir a gravidade dos sintomas da FA e melhorar a capacidade de exercício.

Quais são as limitações das evidências?

Nossa confiança nos resultados é limitada por algumas razões: os participantes sabiam qual tratamento estavam recebendo, alguns resultados não foram completamente relatados, houve variação dos desfechos entre os estudos, e o número de participantes envolvidos foi pequeno.

Até que ponto estas evidências estão atualizadas?

As evidências estão atualizadas até março de 2024.

Conclusão dos autores: 

Devido ao número limitado de participantes e ao acompanhamento de curto prazo na maioria dos estudos, o impacto da RCBE na mortalidade por todas as causas e eventos adversos graves em pessoas com FA é incerto. No entanto, a RCBE provavelmente melhora aspectos específicos da FA, como recorrência, carga e duração dos episódios, além de componentes mentais da qualidade de vida. A RCBE pode melhorar a gravidade dos sintomas de FA, a frequência dos episódios e o VO 2pico . Futuros ECRs de alta qualidade são necessários para avaliar os benefícios da RCBE para pessoas com FA em desfechos clinicamente relevantes, como gravidade e carga dos sintomas, recorrência, qualidade de vida específica da FA e eventos clínicos, como mortalidade, readmissões e eventos adversos graves. Além disso, são necessários estudos de alta qualidade para investigar como os subtipos de FA e o ambiente clínico (ou seja, cuidados primários e secundários) podem influenciar a eficácia da RCBE.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca mais comum, caracterizada por batimentos cardíacos irregulares devido a circuitos de reentrada no tecido atrial, resultando em sérios riscos à saúde, como acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e redução da qualidade de vida. Considerando a complexidade da FA e seu aumento global, a reabilitação cardíaca baseada em exercícios (RCBE) pode oferecer benefícios adicionais tanto para quem convive com FA quanto para aqueles em tratamento da condição.

Objetivos: 

Avaliar os benefícios e danos da RCBE em comparação a controles sem exercício em pessoas com FA ou em tratamento para FA.

Métodos de busca: 

Realizamos buscas até 24 de março de 2024, sem restrições de idioma, nas seguintes bases de dados: CENTRAL (Cochrane Library), MEDLINE (Ovid), Embase (Ovid), PsycINFO (Ovid), Web of Science Core Collection (Thomson Reuters), CINAHL (EBSCO), LILACS (BIREME), além de duas bases de registros de ensaios clínicos.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados (RCTs) que compararam intervenções de RCBE com grupos de controle sem exercício. Os participantes eram adultos com 18 anos ou mais, com qualquer subtipo de FA ou que haviam recebido tratamento para FA.

Coleta dos dados e análises: 

Cinco revisores selecionaram e extraíram os dados de forma independente e em duplicata. Avaliamos o risco de viés usando a ferramenta RoB 1 da Cochrane, conforme descrito no Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions . A heterogeneidade clínica e estatística foi avaliada por meio da inspeção visual dos gráficos de floresta e usando estatísticas padrão (Chi² e I²). Para os desfechos contínuos e dicotômicos, realizamos meta-análises utilizando modelos de efeitos aleatórios. Quando diferentes escalas foram usadas para o mesmo desfecho, calculamos as diferenças médias padronizadas. A certeza das evidências foi avaliada utilizando a abordagem GRADE.

Principais resultados: 

Incluímos 20 RCTs, com 2,039 participantes e seguimento de oito semanas a cinco anos, realizados entre 2006 e 2024. A certeza da evidência variou de moderada a muito baixa. Cinco estudos avaliaram programas abrangentes de RCBE, que incluíam intervenções educacionais, psicológicas ou ambas. Os outros 15 estudos focaram apenas nos exercícios. A maioria dos estudos apresentou risco de viés variável, com relatos insuficientes sobre a geração de sequência aleatória, sigilo de alocação e uso de análise por intenção de tratar.

Evidências de nove estudos (1,173 participantes) sugerem pouca ou nenhuma diferença na mortalidade entre RCBE e controles sem exercício (risco relativo (RR) 1,06, intervalo de confiança de 95% (IC) 0,76 a 1,49; I² = 0%; 101 mortes; baixa certeza da evidência). Considerando as evidências oriundas de 10 estudos (825 participantes), a RCBE pode ter pouco ou nenhum efeito sobre os EAS (RR 1,30, IC de 95% 0,63 a 2,67; I² = 0%; 28 eventos; baixa certeza da evidência). Evidências de quatro estudos (378 participantes) mostraram que o RCBE provavelmente reduziu a recorrência de FA (medida por meio de monitoramento Holter) em comparação aos controles (RR 0,70, IC 95% 0,56 a 0,88; I² = 2%; moderada certeza da evidência). A RCBE pode reduzir a gravidade dos sintomas de FA (diferença média (DM) −1,59, IC 95% −2,98 a −0,20; I² = 61%; n = 600; baixa certeza da evidência); provavelmente reduz a carga dos sintomas de FA (DM −1,61, IC 95% −2,76 a −0,45; I² = 0%; n = 317; moderada certeza da evidência); pode reduzir a frequência dos episódios de FA (DM −1,29, IC 95% −2,50 a −0,07; I² = 75%; n = 368; baixa certeza da evidência); e provavelmente reduz a duração do episódio de FA (MD −0,58, IC 95% −1,14 a −0,03; I² = 0%; n = 317; moderada certeza da evidência), medida por meio do questionário da Escala de Gravidade da FA (EGFA). Evidências de seis estudos (504 participantes) sugerem que a RCBE provavelmente melhora o componente mental da qualidade de vida (QVRS) pelo questionário Short Form Health Survey de 36 itens (SF-36) (MD 2,66, IC de 95% 1,22 a 4,11; I² = 2%; moderada certeza da evidência), mas o efeito da RCBE no componente físico é muito incerto (MD 1,75, IC de 95% −0,31 a 3,81; I² = 52%; muito baixa certeza da evidência). A RCBE também pode melhorar componentes individuais da qualidade de vida relacionada a saúde (saúde geral, vitalidade, desempenho emocional e saúde mental) e capacidade de exercício (pico de consumo de oxigênio ( VO2pico ) e teste de caminhada de 6 minutos) após a RCBE. Os efeitos da RCBE em eventos adversos graves e na capacidade de exercício foram consistentes, independentemente do local de aplicação (centros de reabilitação ou programas domiciliares) e do tipo de exercício (aeróbico isolado ou combinado com resistência). Usando meta-regressão univariada, houve evidência de associação significativa entre a localização do estudo e a duração do acompanhamento mais longo na capacidade de exercício.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (André Silva de Sousa e Aline Rocha). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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