Por que esta revisão é importante?
Muitas pessoas na latitude norte do planeta, onde há pouca luz solar, sofrem da chamada “depressão no inverno”, que ocorre justamente por uma redução da exposição à luz do sol. Três quartos das pessoas afetadas são mulheres. “Moleza do corpo” (letargia), aumento da ingestão de alimentos, ânsia por comer carboidratos e humor depressivo são sintomas comuns. Em algumas pessoas, a depressão do inverno precede o quadro de depressão, o que compromete seriamente a vida dos pacientes. Até dois terços das pessoas apresentam sintomas depressivos em todos os invernos.
Quem pode se interessar por esta revisão?
Qualquer pessoa que tenha apresentado depressão no inverno, ou tenha parentes e amigos que tenham apresentado depressão no inverno.
Quais as questões que esta revisão se propõe a responder?
Levando em consideração o padrão sazonal e a alta taxa de recorrência, a terapia com luz durante os meses do outono e inverno poderia ajudar a prevenir o início do quadro de depressão do humor. O objetivo desta revisão era descobrir se a terapia com luz pode prevenir o início da depressão no inverno quando utilizada para pessoas saudáveis com histórico de depressão no inverno e se ela é segura. Até hoje, a questão não tinha sido abordada de forma sistemática, apesar da importância do assunto para aqueles que já tenham sofrido de depressão no inverno.
Quais estudos foram incluídos nesta revisão?
Foram pesquisadas as bases de dados até agosto de 2015 contendo estudos de terapia de luz para prevenir a depressão no inverno. Entre 2.986 registros, encontramos um ensaio clínico randomizado incluindo 46 participantes que receberam terapia de luz ou nenhum tratamento. Todos os indivíduos nesse estudo tinham o histórico de depressão no inverno.
O que a evidência desta revisão revela?
A qualidade de evidência para todos os desfechos foi muito baixa, de forma que não há conclusões sobre a efetividade da terapia de luz na prevenção da depressão no inverno. O estudo incluído não forneceu informações a respeito dos efeitos colaterais da terapia de luz.
Os médicos precisam discutir com pacientes, levando em consideração as vantagens do tratamento preventivo e as desvantagens da terapia de luz e de outros tratamentos com potencial para prevenir a depressão no inverno, tais como tratamento com medicamentos, terapias psicológicas ou mudanças no estilo de vida. Como nenhum estudo comparou esses tratamentos, as preferências dos pacientes têm que ser levadas em consideração.
O que deve acontecer no futuro?
Os autores da revisão recomendam que pesquisas futuras comparem diretamente terapia de luz com outros tratamentos, como uso de medicamentos, terapias psicológicas ou mudanças no estilo de vida, com o objetivo de determinar o melhor tratamento para prevenir a depressão no inverno.
A evidência sobre a fototerapia como tratamento preventivo para pacientes com histórico de TSA é limitada. Limitações metodológicas e o pequeno tamanho amostral do único estudo disponível impedem conclusões definitivas sobre o efeito da fototerapia para TSA. Dado que as evidências de comparação de fototerapia versus outras opções preventivas são limitadas, a decisão de iniciar ou não tratamento preventivo para o TSA e a seleção da modalidade de tratamento devem ser baseadas fortemente na preferência do paciente.
O transtorno sazonal afetivo (TSA) é caracterizado por episódios recorrentes de depressão maior com padrão sazonal, ocorrendo mais comumente no outono ou inverno e com recorrência na primavera. A prevalência do TSA varia entre 1,5% a 9%, dependendo da latitude. O aspecto sazonal previsível do TSA fornece uma oportunidade promissora para a prevenção. Esta revisão — uma das quatro revisões sobre eficácia e segurança de intervenções para a prevenção do TSA — foca na fototerapia como uma intervenção preventiva. A fototerapia é um tratamento não farmacológico no qual as pessoas são expostas a uma luz artificial. Os modos de fornecimento da luz (por exemplo: visores e caixas de luz) e o tipo de luz (por exemplo: luz branca brilhante) variam.
Avaliar a eficácia e segurança da fototerapia (comparada a nenhum tratamento, outros tipos de fototerapia, antidepressivos de segunda geração, melatonina, agomelatina, psicoterapia, intervenções de estilo de vida e geradores de íons negativos) na prevenção do TSA e na melhora de desfechos relatados por pacientes adultos com histórico de TSA.
Foi realizada busca na base de registro do grupo de revisão da Cochrane sobre Depressão, Ansiedade e Neurose (Specialised Register of the Cochrane Depression, Anxiety and Neuorosis Review Group - CCDANCTR), incluindo todo o período compreendido até 11 de agosto de 2015. A CCDANCTR contém publicações de ensaios clínicos randomizados relevantes na área indexados no EMBASE (de 1974 até o presente), no MEDLINE (de 1950 até o presente), no PsycInfo (de 1967 até o presente), e na Cochrane Central Register of Controlled Trails (CENTRAL). Foram ainda realizadas buscas no Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Web of Knowledge, The Cochrane Library e Allied and Complementary Medicine Database (AMED) (até 26 de maio de 2014). Também foi conduzida uma busca na literatura cinzenta e buscas manuais nas listas de referências de todos os estudos incluídos e nos artigos de revisão pertinentes.
Para a avaliação de eficácia, foram incluídos ensaios clínicos randomizados focando em adultos com um histórico de TSA com ocorrência no inverno, livres dos sintomas no início do estudo. Para a avaliação de eventos adversos, planejamos incluir ensaios clínicos não randomizados. Nós planejamos incluir estudos que tenham comparado quaisquer tipos de fototerapia (por exemplo: luz branca brilhante, administrada por visores ou caixas de luz, luz infravermelha, simuladores de amanhecer), comparados a nenhum tratamento/placebo, antidepressivos de segunda geração, psicoterapia, melatonina, agomelatina, mudanças de hábitos de vida, geradores de íons negativos, ou outro tipo de fototerapia mencionada previamente. Também planejamos incluir estudos que tenham avaliado fototerapia em combinação com outra intervenção, comparada com esta mesma intervenção aplicada de forma isolada.
Dois autores triaram resumos e publicações na íntegra de acordo com os critérios de inclusão. Dois autores extraíram dados de maneira independente e avaliaram os riscos de viés dos estudos incluídos.
Foram identificadas 2.986 citações após a retirada de duplicatas dos resultados das buscas. Foram excluídos 2.895 registros durante a triagem baseada em títulos e resumos. Avaliamos 91 artigos na íntegra para a inclusão nesta revisão, mas apenas um estudo, com dados de 46 participantes, atendeu aos critérios de elegibilidade. O ensaio clínico randomizado (ECR) incluído apresentou limitações metodológicas. Nós o avaliamos como apresentando alto risco de viés de desempenho e de detecção, em virtude da ausência de cegamento, e como apresentando alto risco de perda, já que os autores do estudo não relataram motivos para a perda de seguimento dos participantes e não integraram os dados faltantes na análise.
O ECR incluído comparou o uso preventivo de luz branca brilhante (2.500 lux através de visores), com luz infravermelha (0,18 lux através de visores) e nenhum tratamento de luz. De forma geral, ambas as formas de fototerapia reduziram a incidência de TSA de maneira numericamente semelhante ao grupo sem fototerapia. Dentre todos, 43% (6/14) dos participantes no grupo de luz brilhante desenvolveram TSA, assim como 33% (5/15) dos participantes do grupo de luz intravermelha e 67% (6/9) no grupo sem fototerapia. A terapia com luz brilhante reduziu o risco de TSA em 36%; no entanto, o intervalo de confiança de 95% (IC) foi muito amplo e incluía dois tamanhos de efeito possíveis a favor da terapia da luz brilhante e a favor daqueles com nenhuma terapia de luz (risco relativo, RR, 0,64, 95% IC 0,30 a 1,38). A luz infravermelha reduziu o risco de TSA em 50% em comparação com nenhuma terapia de luz, mas neste caso o IC também foi grande para permitir estimativas precisas do tamanho do efeito (RR 0,50, 95% CI 0,21 a 1,17). A comparação de uma forma de terapia de luz preventiva versus a outra rendeu taxas semelhantes de incidência de episódios depressivos em ambos os grupos (RR 1,29, 95% IC 0,50 a 3,28). A qualidade das evidências para todos os desfechos foi muito baixa. Os motivos para a diminuição da qualidade das evidências incluía alto risco de viés do estudo, imprecisão e outras limitações, tais como a autoavaliação dos resultados, a falta de verificação de conformidade em toda a duração do estudo e informação insuficiente das características do participantes.
Os pesquisadores não forneceram informações a respeito de eventos adversos. Não foram encontrados estudos comparando fototerapia com outras intervenções de interesse, como antidepressivos de segunda geração, psicoterapia, melatonina ou agomelatina.
Tradução do Cochrane Brazil (Daniela Vianna Pachito). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br