O que acontece se o tratamento com haloperidol for descontinuado em pessoas com esquizofrenia

Pergunta da revisão

Quais são os efeitos da suspensão do antipsicótico haloperidol em pessoas com esquizofrenia que estão estáveis sob tratamento com haloperidol.

Contextualização

A esquizofrenia envolve a ruptura nas relações entre pensamento, emoção e comportamento, levando à perturbação do pensamento, perceção errónea, ações e sentimentos inapropriados, e isolamento social. O haloperidol é um dos primeiros medicamentos usados no tratamento da esquizofrenia. O haloperidol é conhecido por ser eficaz no tratamento dos sintomas psicóticos (tais como delírios e alucinações) da esquizofrenia; no entanto, pode ter efeitos secundários indesejados. Os efeitos de parar ou suspender o tratamento com haloperidol não se encontram bem investigados.

Pesquisa de evidência

Fizemos pesquisas eletrónicas no registo de ensaios da Cochrane Schizophrenia, mais recentemente a 24 de janeiro de 2019, para estudos que aleatorizaram pessoas com esquizofrenia estáveis sob tratamento com haloperidol para interromper a toma de haloperidol ou para continuar a toma de haloperidol. Os autores da revisão encontraram e verificaram 54 registos.

Evidência encontrada

Cinco ensaios cumpriram os requisitos de revisão e forneceram dados utilizáveis.

A evidência atualmente disponível de ensaios controlados aleatorizados é de qualidade muito baixa e sugere que a descontinuação do haloperidol está associada a piores desfechos para pessoas com esquizofrenia em termos da melhoria global dos sintomas (estado global). Mostra ainda que as pessoas que interrompem o tratamento com haloperidol estão mais suscetíveis a sofrerem recaídas (reincidência de sintomas) durante o primeiro ano após o tratamento. Não houve ensaios sobre o que acontece após o primeiro ano. O número de participantes que abandonaram o estudo mais cedo (o que pode ser indicador de satisfação com o tratamento) foi semelhante entre os dois tratamentos.

A qualidade muito baixa da evidência atualmente disponível deve-se a insuficiências metodológicas dos ensaios incluídos. Isto diminui a nossa confiança na fiabilidade dos resultados, e dificulta a sua generalizabilidade a situações reais.

Conclusões

É dececionante que apenas um pequeno número de estudos tenha sido identificado, e a dimensão e qualidade destes estudos tenha sido limitada. A evidência disponível não nos permite responder completamente a questões importantes relativas aos efeitos da interrupção do tratamento com haloperidol. Em particular, não existe evidência disponível relativa aos efeitos secundários do haloperidol. Novos estudos de melhor qualidade são necessários.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Joana Botelho Vieira, Maria João Lobarinhas e Ricardo Manuel Delgado, Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental da Infância e da Adolescência, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal.

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