A questão
O tratamento das neoplasias do colo do útero superiores a 4 cm confinadas ao colo (classificadas como estádio IB2) é controverso. Alguns clínicos consideram que a combinação de radioterapia (raios de alta energia) e quimioterapia (terapia anti-cancro), que são conhecidas juntas como quimioradioterapia ou quimioradiação, é melhor quando os tumores são superiores a 4 cm. O fundamento para esta convicção reside no argumento de que a probabilidade de recorrência neoplásica após a cirurgia é alta, portanto a maioria das mulheres necessitará de quimioradioterapia, ainda que tenham realizado cirurgia inicialmente. A outra escola de pensamento argumenta que estes tumores são tão grandes que não respondem adequadamente à quimioradioterapia, e estas mulheres beneficiariam de cirurgia apesar de terem alto risco de necessitarem de quimioradioterapia posteriormente. No entanto, existem preocupações relativas à toxicidade e outras complicações relacionadas com a associação da cirurgia e a quimioradioterapia, já que receber ambos os tratamentos pode aumentar a morbilidade. Assim, muitos centros têm atuado de forma a realizar apenas quimioradioterapia. Uma vez que se mantêm várias dúvidas sobre que tratamento (cirurgia ou quimioterapia) é melhor para mulheres no estádio IB2 de neoplasia cervical, realizámos uma revisão sistemática para tentar responder a esta questão.
Como foi conduzida a revisão
Pesquisámos evidência que tenha comparado a quimioradioterapia à cirurgia (histerectomia radical tipo II e tipo III com linfadenectomia pélvica bilateral) desde 1946 até Abril de 2018. Nós procurámos tanto estudos aleatorizados e controlados (onde as pessoas recrutadas são alocadas aleatoriamente em grupos) e não aleatorizados (nos quais um grupo definido de pessoas (cohort) é seguido ao longo de um período de tempo)
O que encontrámos
Apenas identificámos um estudo não aleatorizado que comparava a cirurgia com a quimioradioterapia, mas este estudo combinava dados de diferentes estádios do IB2 ao IIA. Apesar de cumprir os critérios de inclusão, não foi possível analisar os dados específicos do estádio IB2, e assim considerámos os resultados deste estudos inconclusivos no que diz respeito à pergunta da nossa revisão.
Conclusões
Atualmente, não há evidência de boa qualidade que nos informe sobre qual das opções terapêuticas atuais (quimioradioterapia ou cirurgia radical) é melhor no estádios IB2 da neoplasia cervical. Mulheres no estádio IB2 de neoplasia cervical devem ser aconselhadas considerando a incerteza científica e efeitos colaterais potenciais, e devem ter em conta a disponibilidade dos tratamentos no local de saúde e a preferência da doente.
Idealmente, um grande estudo multicêntrico é necessário para determinar qual dos dois tratamentos é melhor para tratar mulheres com neoplasia do colo do útero no estádio IB2. No entanto, uma vez que o estadiamento IB2 é relativamente raro, e as complicações que podem potencialmente resultar da combinação da cirurgia com a quimioradioterapia, os médicos continuarão a tratar a maioria das mulheres com quimioradioterapia, e os estudos nesta área podem não ser exequíveis.
Traduzido por: Catarina Reis de Carvalho, Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal.