O que foi estudado nesta revisão?
As cicatrizes hipertróficas e queloides são condições que se formam na pele quando uma ferida não cura corretamente. Elas são são cicatrizes elevadas e irregulares que podem ser descoloridas ou avermelhadas e podem causar dor e coceira. Vários tratamentos estão disponível, como géis de silicone e esteroides.
A terapia com laser pode ser um tratamento alternativo para estes tipos de cicatrizes. Durante a terapia com laser, determinadas áreas da pele são alvo de um poderoso feixe de luz. Este feixe de luz pode quebrar o tecido danificado. Diferentes tipos de terapia com laser estão disponíveis, dependendo do tipo de pele do paciente e da natureza da cicatriz. A terapia com laser é cara e tem efeitos colaterais potencialmente prejudiciais. Por isso, é importante avaliar se este tratamento é seguro e efetivo.
Qual foi o objetivo desta revisão?
O objetivo desta revisão foi avaliar se a terapia com laser é um tratamento efetivo para pessoas com cicatrizes hipertróficas e queloides. Para responder a esta pergunta, pesquisadores da Cochrane coletaram e analisaram todos os estudos relevantes sobre o assunto e encontraram 15 ensaios clínicos randomizados.
Quais foram os principais resultados da revisão?
Incluímos 15 estudos publicados entre 1999 a 2019, envolvendo um total de 604 participantes (crianças e adultos de ambos os sexos). Os tamanhos dos estudos foram pequenos (10 a 120 participantes). O acompanhamento dos participantes durou entre 12 semanas e 12 meses. Os estudos analisaram a mudança na gravidade das cicatrizes avaliadas pelos profissionais de saúde ou pelos participantes.
Nos estudos, diferentes tipos de dispositivos a laser foram comparados com nenhum tratamento e com outros métodos de tratamento. A terapia com laser combinada com outro tratamento também foi comparada com o uso do laser isoladamente.
Temos dúvidas se a terapia com laser isoladamente ou combinada com outros tratamentos melhora a gravidade das cicatrizes hipertróficas ou queloides em comparação com nenhum tratamento ou com outros tratamentos, pois a certeza (confiança/qualidade) em todas as evidências disponíveis é baixa ou muito baixa. Isto se deve ao pequeno número de estudos, diferentes comparações, resultados conflitantes, pequeno número de participantes e à falta de dados disponíveis.
Alguns efeitos colaterais do tratamento com laser, como danos à pele ou vasos sanguíneos subjacentes, vermelhidão e dormência, foram relatados. No entanto, a certeza (qualidade/confiança) nesta evidência é muito baixa para sabermos se estes efeitos colaterais são comuns.
Mensagens-chave
Em conjunto, os resultados destes estudos não nos permitem ter certeza se o uso de qualquer tipo de terapia com laser é mais ou menos efetivo do que outros tratamentos disponíveis para cicatrizes hipertróficas e queloides. Como os estudos forneceram apenas evidências de certeza (qualidade/confiança) muito baixa sobre os possíveis efeitos colaterais do laser, não estamos muito confiantes nos resultados dos estudos atualmente disponíveis e não sabemos se qualquer tipo de terapia com laser leva a mais danos do que benefícios em comparação com nenhum tratamento ou outros tratamentos.
Até que ponto esta revisão está atualizada?
Buscamos por estudos publicados até 23 de março de 2021.
Não há evidências suficientes para apoiar ou refutar a efetividade da laserterapia no tratamento de cicatrizes hipertróficas e queloides. As informações disponíveis também são insuficientes para realizar uma análise mais precisa sobre os efeitos adversos da laserterapia. Devido à heterogeneidade dos estudos, resultados conflitantes, problemas no delineamento dos estudos e pequenos tamanhos de amostra, mais estudos de alta qualidade, com escalas validadas e com um conjunto de desfechos relevantes devem ser desenvolvidos. Estes estudos devem levar em consideração a opinião e os valores dos consumidores, a necessidade de acompanhamento em longo prazo e a necessidade de relatar a taxa de recorrência de cicatrizes para determinar se os lasers podem alcançar resultados superiores a outras terapias para o tratamento de cicatrizes hipertróficas e queloides.
As cicatrizes hipertróficas e queloides são condições comuns da pele que resultam da cicatrização anormal de feridas. Eles podem causar coceira, dor e ter um impacto físico e psicológico negativo na vida dos pacientes. Diferentes abordagens são utilizadas com o objetivo de melhorar estas cicatrizes. Estas abordagens incluem o uso de corticoide intralesional, cirurgia e, mais recentemente, laserterapia. Como a laserterapia é cara e pode ter efeitos adversos, é fundamental avaliar os potenciais benefícios e malefícios desta terapia no tratamento de cicatrizes hipertróficas e queloides.
Avaliar os efeitos da laserterapia no tratamento de cicatrizes hipertróficas e queloides.
Em março de 2021, fizemos buscas no Cochrane Wounds Specialised Register, CENTRAL, MEDLINE, Embase, CINAHL EBSCO Plus e LILACS. Para identificar estudos adicionais, também fizemos buscas em bases de registros de ensaios clínicos para encontrar estudos em andamento e não publicados. Também fizemos buscas em listas de referências digitalizadas de estudos incluídos relevantes e de revisões, metanálises e relatos de avaliações de tecnologias em saúde. Não houve restrições quanto ao idioma, data de publicação ou local do estudo.
Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs) que compararam a laserterapia versus placebo, nenhuma intervenção ou outra intervenção para o tratamento de cicatrizes hipertróficas ou queloides (ou ambos).
Dois revisores, trabalhando de forma independente, selecionaram os estudos, extraíram os dados, avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos e realizaram as avaliações da certeza (qualidade/confiança) nas evidências, conforme a abordagem GRADE. Um terceiro autor da revisão arbitrava se houvesse discordâncias.
Incluímos 15 ECRs, envolvendo um total de 604 participantes (crianças e adultos). Os ECRs tinham tamanhos de amostra que variavam entre 10 e 120 participantes (média 40,27). Quando os estudos randomizaram diferentes partes da mesma cicatriz, utilizamos cada segmento de cicatriz como unidade de análise (906 segmentos de cicatrizes). O tempo de acompanhamento dos participantes variou entre 12 semanas e 12 meses. Todos os estudos incluídos apresentaram alto risco de viés para pelo menos um domínio: todos os estudos foram considerados de alto risco de viés devido à falta de cegamento dos participantes e da equipe de pesquisa. Como os tipos de intervenção, grupos controles, períodos de acompanhamento e limitações com os dados variaram entre os estudos, agrupamos dados para apenas uma comparação (e para apenas dois desfechos dentro desta comparação). Vários desfechos secundários da revisão não foram relatados em nenhum dos estudos incluídos, como: cosmese, tolerância, preferência por diferentes modos de tratamento, adesão e mudança na qualidade de vida.
Laser versus nenhum tratamento:
Pode haver melhora das cicatrizes hipertróficas e queloides (ou seja, as cicatrizes ficam menos graves) com o uso do laser de corante pulsado (PDL) de 585 nm em comparação com nenhum tratamento (risco relativo (RR) 1,96; intervalo de confiança (IC) de 95%: 1,11 a 3,45; dois estudos, 60 segmentos de cicatriz; baixa certeza (qualidade/confiança) na evidência).
Não está claro se o laser fracionado não ablativo (NAFL) impacta na gravidade das cicatrizes hipertróficas em comparação com nenhum tratamento (muito baixa certeza na evidência).
Também não está claro se o laser de dióxido de carbono (CO2fracionado) impacta na gravidade das cicatrizes hipertróficas e queloides em comparação com nenhum tratamento (muito baixa certeza na evidência).
Oito estudos relataram efeitos adversos relacionados ao tratamento, mas não forneceram dados suficientes para análises adicionais.
Laser versus outros tratamentos:
Temos dúvidas se o tratamento com o PDL de 585 nm impacta na gravidade das cicatrizes hipertróficas e queloides em comparação com o corticosteroide intralesional triancinolona acetonida (TAC), 5-fluorouracil intralesional (5-FU) ou o uso combinado de TAC mais 5-FU (muito baixa certeza na evidência). Também temos dúvidas se o laser de érbio impacta na gravidade das cicatrizes hipertróficas em comparação com o TAC (muito baixa certeza na evidência).
Outras comparações incluíram PDL de 585 nm versus cobertura de gel de silicone, laser de CO2 fracionado versus TAC e laser de CO2 fracionado versus verapamil. No entanto, os autores não relataram dados suficientes para compararmos os efeitos das intervenções na gravidade das cicatrizes.
Como apenas evidências de muito baixa confiança (certeza/qualidade) estão disponíveis sobre os efeitos adversos relacionados com o tratamento, não podemos tirar conclusões a respeito da comparação entre estes tratamentos. Os efeitos adversos incluem dor, carbonização (queimação da pele de modo que a superfície fica enegrecida), telangiectasia (uma condição na qual pequenos vasos sanguíneos causam linhas vermelhas semelhantes a fios na pele), atrofia da pele (afinamento da pele), descolorações purpúricas, hipopigmentação (a cor da pele fica mais clara) e erosão (perda de parte da camada superior da pele, deixando uma superfície descoberta) secundária à formação de bolhas.
Laser mais outro tratamento versus outro tratamento:
Não está claro se o PDL de 585 nm mais TAC mais 5-FU leva à melhora da gravidade de cicatrizes hipertróficas e queloides (levando-se em conta a porcentagem de cicatrizes que tiveram melhora considerada como boa a excelente) em comparação com TAC mais 5-FU, pois a certeza na evidência foi avaliada como muito baixa.
Como a evidência é de muito baixa certeza (qualidade/confiança), também não está claro se o laser de CO2 mais TAC impacta na gravidade das queloides em comparação com a criocirurgia mais TAC.
A evidência também é muito incerta sobre os efeitos do laser de granada de ítrio e alumínio dopado com neodímio (Nd:YAG) mais corticosteroide intralesional diprospan mais 5-FU na gravidade das cicatrizes em comparação com diprospan mais 5-FU. A evidência também é muito incerta sobre os efeitos do laser de hélio-neonio (He -Ne) mais creme de decametiltetrassiloxano, polidimetilsiloxano e ciclopentasiloxano na gravidade das cicatrizes em comparação com creme decametiltetrassiloxano, polidimetilsiloxano e ciclopentasiloxano isoladamente.
Apenas evidências de certeza (qualidade/confiança) muito baixa estão disponíveis sobre os efeitos adversos relacionados ao tratamento. Estes efeitos incluem dor, atrofia, eritema, telangiectasia, hipopigmentação, rebrota (recrescimento), hiperpigmentação (a cor da pele fica mais escura) e despigmentação (perda de cor da pele). Portanto, não podemos tirar conclusões a respeito da comparação entre estes tratamentos.
Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina Pereira Nunes Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com