Utilização de transfusões de plaquetas antes de uma punção lombar ou de anestésico epidural em pessoas com uma contagem baixa de plaquetas

Questão de revisão

Avaliámos a evidência de se as pessoas com uma contagem baixa de plaquetas (que aumenta o risco de hemorragia) requerem uma transfusão de plaquetas antes da inserção de uma agulha de punção lombar ou cateter epidural, e se assim for qual é o nível de contagem de plaquetas para o qual uma transfusão de plaquetas é necessária.

Contexto

As plaquetas são encontradas no sangue e são uma parte essencial do coágulo sanguíneo. Uma baixa contagem de plaquetas aumenta o risco de hemorragia. As pessoas com uma contagem baixa de plaquetas frequentemente requerem uma punção lombar ou anestesia epidural para a administração do tratamento ou para ajudar no diagnóstico.

Uma punção lombar é geralmente realizada inserindo uma agulha entre os ossos (vértebras) da coluna vertebral na parte inferior das costas no fluido que rodeia a medula espinhal (o conjunto de nervos que desce a coluna e liga o cérebro ao corpo). São realizadas punções lombares quer para obter uma amostra deste fluido ou para administrar o tratamento no fluido (quimioterapia ou um anestético). A agulha de punção lombar é retirada imediatamente após a remoção de amostras de fluido ou da administração de tratamento.

Uma epidural envolve inserir uma agulha com um diâmetro maior do que uma agulha de punção lombar. A agulha epidural passa pelos mesmos tecidos que a agulha de punção lombar, mas pára mesmo antes de penetrar no saco de fluido que rodeia a medula espinhal. Pelo contrário, qualquer tratamento é injetado no espaço mesmo por fora do saco de fluidos (chamado espaço epidural). Um pequeno tubo (um cateter epidural) é frequentemente passado através da agulha epidural e deixado em posição para que medicamentos anestésicos locais adicionais possam ser administrados.

A prática atual em muitos países é aumentar a contagem de plaquetas acima de um nível pré-especificado com transfusões de plaquetas (plaquetas dadas por injeção numa veia) para evitar hemorragias graves devido à punção lombar ou à anestesia epidural. Embora o risco de hemorragia pareça ser baixo, caso a hemorragia aconteça, pode ser muito grave. Devido à falta de evidência, o nível de contagem de plaquetas recomendado antes da punção lombar ou de anestesia epidural varia significativamente de país para país. Isto significa que os médicos não têm a certeza sobre o nível correto de contagem de plaquetas, ou se é necessária uma transfusão de plaquetas. Consequentemente, as pessoas podem ser expostas aos riscos de uma transfusão de plaquetas (por exemplo, reação alérgica, infeção) sem qualquer benefício clínico óbvio.

Características do estudo

Procurámos bases de dados científicas para estudos clínicos de pessoas de qualquer idade com baixas contagens de plaquetas que requeressem uma punção lombar ou anestesia epidural. A evidência é atual até 13 de Fevereiro de 2018. Nesta revisão, encontrámos apenas três estudos de coorte. Apenas dois destes estudos reportaram resultados relevantes para esta revisão. Ambos os estudos incluíam pessoas com baixas contagens de plaquetas e neoplasia hematológica; um incluía 21 adultos e o outro incluía 129 crianças. Ambos os estudos compararam pessoas que tinham e que não tinham recebido transfusões de plaquetas antes da inserção de uma agulha de punção lombar. Nenhum estudo avaliou a utilização de transfusões de plaquetas antes da inserção de um cateter epidural ou de diferentes limiares de contagem de plaquetas para a administração da transfusão de plaquetas antes de um procedimento.

Resultados principais

Não houve nenhuma complicação major de hemorragia relacionada com o procedimento em nenhum dos estudos. Não ocorreram acontecimentos adversos graves no único estudo (21 participantes) que reportou este resultado.

Houve pequena ou nenhuma diferença no número de complicações minor hemorrágicas em adultos ou crianças que receberam ou não receberam transfusões de plaquetas.

Nenhum dos estudos reportou sobre morte, número de transfusões de plaquetas administradas após o procedimento, a duração do internamento hospitalar ou a qualidade de vida.

Qualidade da evidência:

A qualidade da evidência apresentada nos estudos incluídos foi muito fraca.

Não encontrámos provas de ensaios controlados aleatorizados para responder à nossa pergunta de revisão.

Teria de ser desenhado um estudo com pelo menos 47.030 participantes para conseguir detetar um aumento no número de pessoas que tivessem sangrado após punção lombar ou anestesia epidural de 1 em 1000 para 2 em 1000. Um estudo que use registos médicos eletrónicos recolhidos rotineiramente (big data) é provavelmente o único projeto de estudo que poderia responder à nossa pergunta de revisão.

Notas de tradução: 

Traduzido por Beatriz Leal, Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal.

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