Introdução
Sabe-se que a reabilitação pulmonar melhora o funcionamento físico e o bem-estar geral, além de reduzir os sintomas, particularmente a falta de ar, em pessoas com condições pulmonares crônicas. A reabilitação pulmonar é um programa de treinamento com exercícios e educação que é tradicionalmente realizado presencialmente. Este programa geralmente é oferecido em uma instituição de saúde como um hospital, em que as pessoas vão até as consultas do programa, mas não são internadas. Para facilitar o acesso de mais pessoas à reabilitação pulmonar, foram investigadas novas formas de oferecer estes programas, com o auxílio de novas tecnologias. A reabilitação pulmonar oferecida com o uso de tecnologias é conhecida como telerreabilitação. Os modelos de telerreabilitação podem incluir conversar com um profissional de saúde e/ou outros pacientes ao telefone, usando um website ou aplicativo móvel, ou via videoconferência. Também podem haver outros modelos de telerreabilitação. Em algumas circunstâncias, a realização da telerreabilitação pode exigir que os pacientes tenham acesso a seu próprio dispositivo (por exemplo, telefone, smartphone, tablet ou computador).
Características dos estudos
Esta revisão incluiu 15 estudos, com um total de 1.904 pessoas com doença pulmonar crônica. A maioria dos participantes (99%) tinha doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Os estudos descreveram uma variedade de maneiras diferentes de usar a tecnologia para oferecer reabilitação pulmonar, como o telefone, aplicativos, videoconferências em um grupo virtual e através do uso de websites. Os estudos de telerreabilitação foram comparados coletivamente com a reabilitação pulmonar tradicional presencial, ou com nenhuma reabilitação. Houve uma variedade de tecnologias utilizadas e diferentes níveis de apoio dos profissionais de saúde nos diferentes estudos. Assim, é difícil determinar se existe um melhor tipo de tecnologia, quantidade de assistência ou local para realizar um programa de telerreabilitação.
Resultados principais
Avaliando os múltiplos estudos que utilizam diferentes tipos de tecnologia para oferecer reabilitação pulmonar, a telerreabilitação provavelmente produz resultados similares aos programas de reabilitação pulmonar tradicionais presenciais. A telerreabilitação pode ajudar as pessoas a caminharem mais quando comparada à nenhuma reabilitação. Entretanto, temos pouca certeza nestes resultados. As pessoas estavam mais propensas a concluir um programa completo de telerreabilitação (93% de conclusão) em comparação com a reabilitação pulmonar tradicional (70% de conclusão). Poucos estudos acompanharam as pessoas depois que a intervenção foi concluída. Portanto é difícil dizer qual é o efeito a longo prazo da telerreabilitação.
Certeza da evidência
O número de estudos, pacientes e condições pulmonares em que a telerreabilitação foi estudada é pequeno. Por isso, a certeza nas evidências (nossa confiança de que as estimativas do efeito estatístico estão corretas) foi geralmente baixa. Isto significa que estes resultados podem não se aplicar a todas as pessoas com doenças pulmonares crônicas ou a todos os tipos de tecnologias utilizadas para oferecer reabilitação pulmonar.
Esta revisão sugere que a reabilitação pulmonar primária, ou a reabilitação de manutenção, realizadas via telerreabilitação em pessoas com doenças respiratórias crônicas, alcança resultados semelhantes aos da reabilitação pulmonar tradicional presencial. Não foram identificados problemas com a segurança da telerreabilitação. Entretanto, devido ao pequeno número de estudos, com o uso de diferentes tipos de telerreabilitação e com relativamente poucos participantes, a certeza nas evidências encontradas nesta revisão é limitada. Pesquisas futuras devem considerar o efeito clínico da telerreabilitação em indivíduos com doenças respiratórias crônicas que não sejam a DPOC. Além disso, estas pesquisas devem relatar por quanto tempo o benefício da telerreabilitação permanece após o período da intervenção e os custos relacionados à telerreabilitação.
A reabilitação pulmonar é uma intervenção que mostrou-se efetiva para pessoas com doenças respiratórias crônicas, incluindo a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a doença pulmonar intersticial (DPI) e a bronquiectasia. Entretanto, poucas pessoas participam ou concluem sua participação em um programa de reabilitação completo. Os motivos para a falta de aderência incluem a falta de programas, problemas associados ao percurso e transporte e outras questões de saúde. Tradicionalmente, a reabilitação pulmonar é realizada presencialmente, em um ambulatório de um hospital ou em outra instituição de saúde (referidas como centros de reabilitação pulmonar). Modos mais recentes e alternativos de reabilitação pulmonar incluem os modelos domiciliares e o uso da telessaúde.
A telerreabilitação é a prestação de serviços de reabilitação à distância, utilizando a tecnologia de informação e comunicação. Até o momento, não houve uma avaliação ampla da eficácia clínica ou segurança da telerreabilitação, ou de sua capacidade de melhorar a captação e o acesso de pessoas com doenças respiratórias crônicas a serviços de reabilitação.
Avaliar a eficácia e a segurança do uso da telerreabilitação em pessoas com doenças respiratórias crônicas.
Fizemos buscas no Cochrane Airways Trials Register, and the Cochrane Central Register of Controlled Trials e no Cochrane Central Register of Controlled Trials; em seis bases de dados incluindo MEDLINE e Embase; e em três bases de registros de ensaios clínicos para encontrar estudos em andamento e/ou publicados até 30 de novembro de 2020. Checamos as listas de referências de todos os estudos incluídos para obter referências adicionais. Também fizemos buscas manuais em revistas relevantes da área respiratória e em resumos de congressos.
Todos os ensaios clínicos controlados randomizados (ECRs) e ensaios clínicos controlados não randomizados sobre reabilitação pulmonar foram elegíveis para inclusão Para ser incluído, o estudo deveria avaliar a intervenção de reabilitação com a inclusão de exercícios e com pelo menos 50% da intervenção de reabilitação sendo realizada via telerreabilitação.
Seguimos as recomendações metodológicas da Cochrane. Avaliamos o risco de viés de todos os estudos incluídos. Usamos a ferramenta ROBINS-I para avaliar o risco de viés em ensaios clínicos controlados não randomizados. Usamos o GRADE para avaliar a certeza (qualidade) das evidências. As comparações foram a telerreabilitação versus reabilitação pulmonar tradicional presencial e a telerreabilitação versus nenhuma reabilitação. Analisamos os estudos de telerreabilitação de manutenção separadamente dos estudos de telerreabilitação para reabilitação pulmonar primária inicial.
Incluímos um total de 15 estudos (32 relatos), com um total de 1.904 participantes, que usaram cinco modelos diferentes de telerreabilitação. Quase todos os participantes (99%) tinham doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Três dos 15 estudos eram ensaios controlados não randomizados. Com relação à reabilitação pulmonar primária, provavelmente há pouca ou nenhuma diferença entre a telerreabilitação e a reabilitação presencial na melhora da capacidade para o exercício medida com o teste de caminhada de 6 minutos (TC6) (diferença média (DM) 0,06 metros (m), intervalo de confiança (IC) de 95% 10,82 m a 10,94 m; 556 participantes; quatro estudos; moderada certeza da evidência). Além disso, pode haver pouca ou nenhuma diferença na qualidade de vida medida com a pontuação total do St George's Respiratory Questionnaire (SGRQ) (DM -1,26, IC 95% -3,97 a 1,45; 274 participantes; dois estudos; baixa certeza da evidência), ou na falta de ar medida com a pontuação de domínio dispneia do Chronic Respiratory Questionnaire (CRQ) (DM 0,13, IC 95% -0,13 a 0,40; 426 participantes; três estudos; baixa certeza da evidência). Os participantes estavam mais propensos a concluir um programa de telerreabilitação, com uma taxa de conclusão de 93% (IC 95% 90% a 96%), do que concluir um programa de reabilitação presencial, que teve uma taxa de conclusão de 70%. Quando comparada à nenhuma reabilitação, a telerreabilitação primária pode aumentar a capacidade para o exercício avaliada com o TC6 (DM 22,17 m, IC 95% -38,89 m a 83,23 m; 94 participantes; dois estudos; baixa certeza da evidência). Além disso, a telerreabilitação de manutenção também pode aumentar a capacidade para o exercício avaliada com o TC6 (DM 78,1 m, IC 95% 49,6 m a 106,6 m; 209 participantes; dois estudos; baixa certeza da evidência) quando comparada à nenhuma reabilitação. Na telerreabilitação, não foram notados efeitos adversos diferentes dos já relatados com o uso da reabilitação presencial ou com o uso de nenhuma reabilitação.
Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com