Introdução
A insuficiência venosa crônica (IVC) é uma doença causada pelo transporte anormal de sangue nas veias das pernas. Isso significa que as veias das pernas não conseguem bombear sangue suficiente de volta para o coração. As pessoas com IVC têm vários sinais e sintomas. Os mais comuns são a presença de veias nodosas e dilatadas; os mais graves são as úlceras venosas nas pernas. Existe muitas maneiras de tratar a IVC, desde cirurgia e remédios até compressão (aplicação de força) local e fisioterapia. A balneoterapia é um dos possíveis tratamentos físicos para a IVC. A balneoterapia é uma técnica médica tradicional que envolve água e é geralmente feita em termas (balneários) ou spas. Consiste na imersão em água mineral ou lama que contem minerais. Pode ou não incluir exercícios. Comparada com os cuidados habituais, a balneoterapia isolada ou combinada com cuidados habituais pode proporcionar uma melhoria significativa na qualidade de vida das pessoas com IVC.
Características do estudo
Nossa busca realizada em agosto de 2018 identificou sete ensaios clínicos randomizados controlados (ECRs) relevantes. Os ECRs são estudos nos quais os participantes são sorteados ao acaso para ficar em um entre vários possíveis grupos de tratamento. Seis ECRs compararam balneoterapia versus nenhum tratamento, e um estudo comparou balneoterapia versus um medicamento chamado melilotus officinalis. Os estudos utilizaram diferentes tipos de balneoterapia e diferentes tempos de tratamento.
Principais resultados e qualidade (certeza) da evidência
É provável que a balneoterapia, comparada com nenhum tratamento não melhora a pontuação de gravidade da doença (evidência de qualidade moderada). A balneoterapia provavelmente melhora a qualidade de vida relacionada à saúde e a dor (evidência de qualidade moderada). É provável que a balneoterapia não promova nenhuma melhora nas úlceras das pernas (evidência de qualidade moderada). Não existe um efeito claro entre balneoterapia versus nenhum tratamento sobre o edema (inchaço) das pernas (evidência de qualidade muito baixa). A balneoterapia provavelmente diminui as alterações de pigmentação da pele (evidência de baixa qualidade). Nenhum dos estudos relatou qualquer evento adverso grave. Houve menos efeitos secundários (infecção e coágulos nas pernas) nas pessoas que fizeram balneoterapia em comparação com as que não receberam nenhum tratamento.
Apenas um pequeno estudo comparou balneoterapia versus melilotus officinalis. Portanto, não há dados suficientes para detectar diferenças claras entre os dois tratamentos sobre a dor e edema nas pernas. Não há dados disponíveis para os outros resultados de interesse como gravidade da doença, escores de sinais e sintomas, qualidade de vida, úlceras nas pernas e pigmentação cutânea.
A qualidade da evidência foi rebaixada devido ao pequeno número de estudos com poucos participantes e pela impossibilidade de cegar os participantes e médicos que conduziram o tratamento com balneoterapia, o que pode ter levado a vieses.
Existe evidência de qualidade moderada a baixa que a balneoterapia, comparada com nenhum tratamento pode produzir uma melhora moderada na dor, na qualidade de vida e nas mudanças na pigmentação da pele e não tem um efeito claro no escore de sinais e sintomas de gravidade da doença, efeitos adversos, úlceras e edema nas pernas. Os estudos futuros precisam padronizar as formas de medir os desfechos como os escores de gravidade da doença, qualidade de vida, dor e edema. Eles também precisam padronizar os momentos de avaliar os desfechos. Somente assim será possível fazer comparações adequadas entre os estudos.
A insuficiência venosa crônica (IVC) é uma doença progressiva e comum que afeta o sistema venoso superficial e profundo dos membros inferiores. A IVC é caracterizada por incompetência valvar, refluxo, obstrução venosa ou uma combinação destas com consequente hipertensão venosa distal. As manifestações clínicas da IVC incluem edema, dor, alterações cutâneas, ulcerações e veias dilatadas na pele nos membros inferiores. A IVC é uma doença que pode ter um impacto financeiro considerável sobre os sistemas de saúde. Existem muitas opções terapêuticas para a IVC, que vão desde a cirurgia e medicação até compressão e fisioterapia. A balneoterapia (tratamentos envolvendo água) é uma opção relativamente barata e uma forma potencialmente eficiente de realizar fisioterapia para pessoas com IVC.
Avaliar a eficácia e segurança da balneoterapia para o tratamento de pessoas com insuficiência venosa crônica (IVC).
O especialista em informações do grupo Cochrane Vascular fez buscas nas seguintes bases de dados em agosto de 2018: Cochrane Vascular Specialised Register, CENTRAL, MEDLINE, Embase, AMED, CINAHL, World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform e Clinical Trials.gov. Fizemos buscas nas bases de dados LILACS e IBECS. Também verificamos as listas de referências, pesquisamos citações e contatamos os autores dos estudos para identificar estudos adicionais.
Incluímos ensaios clínicos controlados randomizados (ECRs) e quasi-randomizados que compararam balneoterapia versus nenhum tratamento ou outros tipos de tratamento em pacientes com IVC. Também incluímos estudos que utilizaram uma combinação de tratamentos.
Dois autores, trabalhando de forma independente, revisaram os estudos identificados pelas estratégias de busca. Os dois autores avaliaram independentemente os estudos selecionados para leitura na íntegra. Os conflitos foram resolvidos por discussão. Procuramos contatar os autores dos estudos para obter informações adicionais. Para os desfechos binários (incidência de úlceras e de eventos adversos), apresentamos os resultados usando o odds ratio (OR) e seus intervalos de confiança (IC) de 95%. Para os desfechos contínuos (gravidade da doença, qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL), dor, edema, pigmentação cutânea), apresentamos os resultados como diferença média (MD) com o IC 95%.
Incluímos sete ECRs envolvendo 891 participantes (pacientes ambulatoriais em cuidados secundários). Não identificamos nenhum ensaio clínico quasi-randomizado. Seis ECRs (836 participantes) avaliaram balneoterapia versus nenhum tratamento. Um estudo (55 participantes) avaliou balneoterapia versus uma droga flebotônica (melilotus officinalis). A qualidade (certeza) da evidência foi rebaixada devido à falta de cegamento dos participantes e investigadores, imprecisão e inconsistência.
A balneoterapia, comparada a nenhum tratamento, provavelmente não melhora a gravidade da doença ou os sinais e sintomas da doença avaliados pela escala Venous Clinical Severity Score (VCSS): MD -1,66, IC 95% -4,14 a 0,83, 2 estudos, 484 participantes, evidência de qualidade moderada. A balneoterapia provavelmente leva a uma melhora moderada na qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL) avaliada pelo Chronic Venous Insufficiency Questionnaire 2 (CVIQ2) aos três meses (MD -9,38, IC 95% -18,18 a -0,57, 2 estudos, 149 participantes, evidência de qualidade moderada), aos nove meses (MD -10.46, IC 95% -11,81 a -9,11, 1 estudo, 55 participantes, evidência de qualidade moderada), e aos 12 meses (MD -4,99, IC 95% -9,19 a -0,78, 2 estudos, 455 participantes, evidência de qualidade moderada). Não houve diferença clara na qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL) entre balneoterapia e nenhum tratamento aos seis meses (MD -1,64, IC 95% -9,18 a 5,89; 2 estudos, 445 participantes; evidência de qualidade moderada). A balneoterapia, comparada a nenhum tratamento, provavelmente melhora um pouco a dor (MD -1,23, IC 95% -1,33 a -1,13, 1 estudo, 390 participantes, evidência de qualidade moderada). Não houve um efeito claro entre os dois grupos para edema avaliado com 24 dias (MD 43,28 ml, IC 95% -102,74 a 189,30, 2 estudos, 153 participantes, evidência de qualidade muito baixa). A balneoterapia provavelmente não melhora a incidência de úlceras nas pernas (OR 1,69, IC 95% 0,82 a 3,48, 2 estudos, 449 participantes, evidência de qualidade moderada). A balneoterapia provavelmente reduza a incidência de alterações na pigmentação da pele aos 12 meses (índice de pigmentação: MD -3,59, IC 95% -4,02 a -3,16, 1 estudo, 59 participantes, evidência de baixa qualidade). As principais complicações relatadas incluíram erisipela (OR 2,58, IC 95% 0,65 a 10,22; 2 estudos, 519 participantes; evidência de qualidade moderada), eventos tromboembólicos (OR 0,35, IC 95% 0,09 a 1.42; 3 estudos, 584 participantes; evidência de moderada qualidade) e palpitações (OR 0,33, IC 95% 0,01 a 8,52; 1 estudo; 59 participantes; evidência de baixa qualidade), sem evidência clara de aumento dos efeitos adversos no grupo de balneoterapia. Não foram relatados eventos adversos graves em nenhum dos estudos.
Existe evidência de qualidade muito baixa, proveniente de um único estudo, que a balneoterapia, comparada com a droga flebotônica (melilotus officinalis), não produz uma diferença clara nos sintomas de dor (OR 0,29, IC 95% 0,03 a 2,87; 1 estudo; 35 participantes) ou no edema (OR 0,21, IC 95% 0,02 a 2,27; 1 estudo; 35 participantes). Este ECR não avaliou nenhum dos outros desfechos de interesse.
Tradução do Cochrane Brazil (Maria Regina Torloni). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br