Os medicamentos antipsicóticos são seguros e eficazes no tratamento de pessoas com distúrbios do espectro da esquizofrenia com sintomas catatônicos?

Mensagens-chave

- Não conseguimos responder se os medicamentos antipsicóticos são seguros e eficazes para distúrbios do espectro da esquizofrenia com sintomas catatônicos porque encontramos apenas um estudo, incluindo um pequeno número de pessoas e uma breve duração do tratamento, o que nos deixa com muito pouca confiança nos resultados. 

- Descobrimos que no único estudo incluído tanto um medicamento antipsicótico (risperidona) quanto a eletroconvulsoterapia podem melhorar os sintomas catatônicos e positivos de psicose, mas que a eletroconvulsoterapia pode ser melhor durante as primeiras três semanas em pessoas que não responderam primeiro ao medicamento lorazepam. Não encontramos nenhum efeito colateral incomum ou perigoso com qualquer um dos tratamentos. 

- Estudos maiores e bem desenhados são necessários para dar melhores estimativas dos benefícios e danos potenciais dos antipsicóticos em comparação com outros tratamentos em pessoas com sintomas de catatonia nos distúrbios do espectro da esquizofrenia.

O que são distúrbios do espectro da esquizofrenia e sintomas catatônicos?

Esquizofrenia e distúrbios de espectro relacionados são distúrbios mentais graves que apresentam uma ampla gama de sintomas psicóticos, tais como ideias falsas,ouvir vozes e problemas para pensar. Algumas pessoas também têm sintomas catatônicos, como a incapacidade de se mover ou falar ou movimentos repetitivos sobre os quais têm pouco controle. As pessoas com sintomas catatônicos podem ser incapazes de interagir ou se comunicar com outras pessoas. 

Como são tratados os distúrbios do espectro da esquizofrenia e os sintomas catatônicos?

Os medicamentos antipsicóticos são o tratamento padrão que melhoram muitos dos sintomas psicóticos dos distúrbios do espectro da esquizofrenia (como idéias falsas ou ouvir vozes), mas são menos eficazes para outros sintomas (como o distanciamento social ou problemas de atenção). Algumas evidências sugerem que os medicamentos antipsicóticos podem não ser tão eficazes em pessoas com distúrbios do espectro esquizofrênico que também têm sintomas catatônicos. Os sintomas catatônicos também podem colocar essas pessoas em risco de efeitos colaterais de medicamentos antipsicóticos. Os sintomas catatônicos são geralmente tratados com medicamentos sedativos ou eletroconvulsoterapia (um tratamento no qual breves convulsões são causadas pela aplicação de um estímulo elétrico através de eletrodos na cabeça). 

O que queríamos saber?

Queríamos descobrir se algum único medicamento antipsicótico funciona melhor que outros antipsicóticos, outros agentes farmacológicos, eletroconvulsoterapia, outras terapias de estimulação cerebral, ou placebo (um tratamento inativo ou neutro) para tratar sintomas psicóticos e catatônicos em pessoas que têm distúrbios do espectro da esquizofrenia com sintomas catatônicos.

O que nós fizemos?

Procuramos estudos que analisassem qualquer medicamento antipsicótico em comparação com outros antipsicóticos, outros agentes farmacológicos, eletroconvulsoterapia, outras terapias de estimulação cerebral, ou placebo em pessoas com distúrbios do espectro da esquizofrenia com sintomas catatônicos. Comparamos e resumimos os resultados dos estudos e classificamos nossa confiança nas evidências com base em fatores como métodos e tamanhos de estudo.

O que nós encontramos?

Encontramos um estudo que envolveu 14 pessoas com distúrbios do espectro da esquizofrenia com sintomas catatônicos que duraram três semanas e comparou um medicamento antipsicótico (risperidona) com a eletroconvulsoterapia. O estudo foi realizado na Índia e recebeu apoio do National Institute of Mental Health and Neurosciences em Bangalore. Os autores do estudo descobriram que tanto a risperidona quanto a eletroconvulsoterapia melhoraram os sintomas de psicose e catatonia, mas que a eletroconvulsoterapia foi melhor durante as três primeiras semanas de tratamento. Nenhum efeito colateral incomum ou perigoso ocorreu com qualquer um dos tratamentos. Embora esses dois tratamentos possam reduzir os sintomas psicóticos e catatônicos, estamos muito incertos dos resultados devido ao pequeno número de participantes do estudo e à curta duração do estudo. Como resultado, não podemos concluir que qualquer antipsicótico é mais ou menos seguro e eficaz em comparação com outros tratamentos. São necessários melhores estudos para estudar os benefícios e a segurança dos antipsicóticos para melhorar o tratamento dos distúrbios do espectro da esquizofrenia com sintomas catatônicos. 

Quais são as limitações das evidências?

Não estamos confiantes nas evidências porque não há estudos suficientes para ter certeza dos resultados. O estudo incluído foi muito pequeno e breve, e as evidências não cobriram todos os desfechos que nos interessavam.

Até que ponto estas evidências estão atualizadas?

Estas evidências estão atualizadas até Setembro de 2021.

Conclusão dos autores: 

Encontramos apenas um pequeno estudo de curta duração sugerindo que a risperidona pode melhorar a escala de pontuação dos sintomas catatônicos e positivos entre pessoas com distúrbios do espectro da esquizofrenia e sintomas catatônicos, mas que a ECT pode resultar em uma melhora maior nas três primeiras semanas de tratamento. Devido ao pequeno tamanho da amostra, às deficiências metodológicas e à breve duração do estudo, bem como ao risco de viés, as evidências desta revisão são de qualidade muito baixa. Temos dúvidas se estes são efeitos verdadeiros, limitando quaisquer conclusões que possam ser tiradas das evidências. Não foram relatados casos de síndrome neuroléptica maligna, mas não podemos descartar o risco deste ou de outros eventos adversos raros em amostras maiores da população. 

Continuam sendo necessários estudos de alta qualidade para diferenciar tratamentos para pessoas com sintomas de catatonia em distúrbios de espectro da esquizofrenia. A falta de consenso sobre a psicopatologia da catatonia continua sendo uma barreira para definir tratamentos para pessoas com esquizofrenia. Uma melhor compreensão da eficácia e segurança dos antipsicóticos pode esclarecer o tratamento para este subtipo único de esquizofrenia. 

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Embora os antipsicóticos sejam a base do tratamento dos distúrbios do espectro da esquizofrenia, houve inúmeras tentativas de identificar biomarcadores que possam prever a resposta ao tratamento. Um marcador potencial pode ser anormalidades psicomotoras, incluindo sintomas catatônicos. Estudos iniciais sugeriram que os sintomas catatônicos predizem uma resposta pobre ao tratamento, enquanto relatos anedóticos de eventos adversos raros têm sido levantados contra os antipsicóticos. A eficácia e segurança dos antipsicóticos no tratamento deste subtipo de esquizofrenia raramente tem sido estudada em ensaios clínicos randomizados (ECRs).

Objetivos: 

Comparar os efeitos de qualquer medicamento antipsicótico único com outro antipsicótico ou com outros agentes farmacológicos, eletroconvulsoterapia (ECT), outras terapias de neuromodulação não farmacológicas (por exemplo, estimulação magnética transcraniana), ou placebo para tratar sintomas positivos, negativos e catatônicos em pessoas que têm distúrbios do espectro da esquizofrenia com sintomas catatônicos.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Cochrane Schizophrenia Group's Study‐Based Register of Trials, que é baseado na CENTRAL, MEDLINE, Embase, CINAHL, PsycINFO, PubMed, ClinicalTrials.gov, o registro ISRCTN, e WHO ICTRP, em 19 de Setembro de 2021. Não houve limitações de idioma, data, tipo de documento ou status de publicação para a inclusão no registro. Também fizemos buscas manuais nas listas de referências dos estudos incluídos e contatamos os autores dos estudos, quando pertinente.

Critério de seleção: 

Todos os ECRs comparando qualquer medicamento antipsicótico único com outro antipsicótico ou com outros agentes farmacológicos, ECT, outras terapias não farmacológicas de neuromodulação, ou placebo para pessoas que têm distúrbios do espectro da esquizofrenia com sintomas catatônicos. 

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores de revisão inspecionaram independentemente citações, estudos selecionados, dados extraídos e avaliaram a qualidade do estudo. Para os desfechos binários, planejamos calcular os risco relativo (RR) e seus intervalos de confiança (IC) de 95% com base na intenção de tratar. Para desfechos contínuos, planejamos calcular diferenças médias entre os grupos e seus IC 95%. Avaliamos o risco de viés para os estudos incluídos e criamos um resumo da tabela de resultados; entretanto, não avaliamos a certeza da evidência usando a abordagem GRADE porque não havia evidência quantitativa no estudo incluído. 

Principais resultados: 

Dos 53 estudos identificados, um ECR incluindo 14 adultos hospitalizados com esquizofrenia e sintomas catatônicos preenchia os critérios de inclusão da revisão. O estudo, que foi realizado na Índia e durou apenas três semanas, comparou risperidona com ECT em pessoas que não responderam a um estudo inicial de lorazepam.  

Não foram relatados dados úteis sobre os desfechos da eficácia primária de mudanças clinicamente importantes nos sintomas positivos, negativos ou catatônicos. Enquanto ambos os grupos de estudo melhoraram nos escores de catatonia na Escala de Catatonia Bush-Francis (ECBF), o grupo ECT mostrou uma melhoria significativamente maior no final da semana 3 (média +/- desvio padrão estimado; 0,68 +/- 4,58; N = 8) do que o grupo risperidona (6,04 +/- 4,58; N = 6; P = 0,035 de uma análise de variância bidirecional (ANOVA) para medidas repetidas originalmente conduzidas no estudo). De forma semelhante, ambos os grupos melhoraram na Escala das Síndromes Positiva e Negativa (PANSS) na semana 3, mas a ECT mostrou uma melhora significativamente maior na pontuação dos sintomas positivos em comparação com a risperidona (P = 0,04). Entretanto, os dados sobre as pontuações ECBF no grupo ECT pareciam estar enviesados, e as pontuações PANSS médias não foram relatadas, impedindo assim análises adicionais dos dados ECBF e PANSS de acordo com o protocolo. 

Embora nenhum caso de síndrome neuroléptica maligna tenha sido relatado, sintomas extrapiramidais como desfecho primário de segurança foram relatados em três casos no grupo risperidona. Por outro lado, foram relatadas dores de cabeça (N = 6), perda de memória (N = 4) e convulsões prolongadas em pessoas recebendo ECT. Esses efeitos adversos, que foram avaliados como específicos para os antipsicóticos e ECT, respectivamente, foram os únicos efeitos adversos relatados no estudo. No entanto, o número exato de participantes com eventos adversos não foi claramente relatado em ambos os grupos, impossibilitando uma análise mais aprofundada.  

Nossos resultados foram baseados apenas em um único estudo com um tamanho de amostra muito pequeno, curta duração do tratamento, pouco claro ou com alto risco de viés devido a métodos de randomização pouco claros, possível desequilíbrio nas características da linha de base, dados enviesados e relatos seletivos. Dados sobre os desfechos do funcionamento geral, estado global, qualidade de vida e uso do serviço, bem como dados sobre fenomenologia específica e duração dos sintomas catatônicos, não foram relatados.  

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Rômulo Kunrath Pinto Silva e Mayara Rodrigues). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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