Quais são os benefícios e riscos de uma única administração intra-venosa de ibuprofeno (um medicamento anti-inflamatório) para alívio da dor a curto prazo após a cirurgia em adultos?

Mensagens-chave

- Não há provas suficientes para determinar se o ibuprofeno intravenoso (injeção numa veia) é um tratamento eficaz para adultos com dor pós-operatório ou se pode causar malefícios.

- Seria benéfico se futuros estudos sobre este tópico fossem bem concebidos com um grande número de pacientes para determinar se o ibuprofeno é um tratamento eficaz para a gestão da dor após a cirurgia.

- É necessária mais evidência para estabelecer se o ibuprofeno causa efeitos adversos graves.

Tratamento da dor aguda pós-operatória

É frequente a dor a curto prazo (dentro de 6 horas) após a cirurgia (dor pós-operatória).

Os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs, medicamentos semelhantes à aspirina) são frequentemente administrados juntamente com opióides (como a morfina) para tratar este tipo de dor. No entanto, os AINEs podem ter efeitos secundários. Os AINEs (como o ibuprofeno) podem causar hemorragia (por exemplo, no local de uma incisão ou ferida) ou lesão renal ou gastrointestinal.

Os doentes precisam de mais e melhores opções de tratamento para ajudar a gerir a dor agud após-operatória. Existe uma grande preocupação quanto à utilização de opióides para tratar a dor aguda devido ao risco de os doentes desenvolverem efeitos secundários desagradáveis ou distúrbios de utilização excessiva de opiáceos. Por conseguinte, é importante pesar os benefícios e riscos dos AINEs quando se considera a sua utilização para reduzir a dor aguda após a cirurgia.

O que pretendíamos descobrir?

O ibuprofeno é um AINE que pode ser administrado por via intravenosa. Queríamos saber se o ibuprofeno intravenoso (administrado por injeção ou infusão) é uma opção de tratamento útil para gerir a dor moderada a grave quando os doentes não podem tomar medicamentos por via oral.

O que fizemos?

Para tornar a comparação justa, todos os pacientes nestes estudos tiveram obrigatoriamente a mesma probabilidade (como uma moeda ao ar) de receber ibuprofeno ou outro tratamento.

Pesquisámos a literatura médica (estudos clínicos) até Junho de 2021, em que o ibuprofeno intravenoso foi utilizado para tratar a dor pós-operatória em adultos (com mais de 18 anos) e comparado com:

- um placebo (um tratamento de controlo, tal como um saco de soro fisiológico administrado numa veia); ou

- outro medicamento.

O que é que encontrámos?

Encontrámos apenas um estudo que era adequado para incluir na nossa revisão. O estudo incidiu sobre a gestão da dor após a bunionectomia. A bunionectomia é uma cirurgia para remover um joanete na base do 1º dedo do pé. Este estudo avaliou 201 pessoas, na sua maioria mulheres. O estudo comparou o ibuprofeno intravenoso com:

- um placebo; ou

- outro medicamento, paracetamol.

Estávamos sobretudo interessados em saber quantas pessoas viram a sua dor reduzida em 50% (metade) ou mais dentro de 4 ou 6 horas após a cirurgia.

Redução da dor

O estudo mostrou que:

- mais pessoas que receberam ibuprofeno viram a sua dor reduzida em 50% (metade) ou mais dentro de 4 ou 6 horas após a cirurgia, em comparação com as que receberam placebo; e

- houve pouca ou nenhuma diferença quando o ibuprofeno foi comparado com outro medicamento, o paracetamol, isto é no número de pessoas com dor reduzido em 50% (metade) ou mais dentro de 4 ou 6 horas após a cirurgia

Necessidade de medicamentos extra para a dor (medicação de resgate)

O medicamento de resgate é um medicamento extra para a dor se o medicamento em estudo não estiver a tratar suficientemente bem a dor do doente. O tempo (em minutos) para necessitar de medicação de resgate foi mais longo (atrasado) com o uso de ibuprofeno ou paracetamol do que para aqueles que receberam placebo.

Eventos adversos

Não houve informação suficiente neste estudo para avaliar os efeitos secundários, mas o ritmo a que estes ocorreram pareceu ser semelhante entre todos os tratamentos. Muito poucos pacientes saíram do estudo por causa de efeitos secundários. Isto geralmente acontece em estudos em que os doentes estão incluídos apenas por um curto período de tempo.

Quais são as limitações da evidência?

Tivemos apenas resultados de um estudo relativamente pequeno. Isto limitou a nossa confiança na evidência.

Quão atualizada está esta evidência?

A evidência está atualizada até junho de 2021.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Beatriz Leal, Serviço de Anestesiologia, Instituto Português de Oncologia de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Cochrane Portugal.

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