Qual foi o objetivo desta revisão?
O glioblastoma é um tipo muito agressivo de câncer cerebral. Geralmente, pessoas com glioblastoma são tratadas com remoção cirúrgica do tumor seguida de radioterapia, quimioterapia ou ambos. A quimioterapia padrão nestes casos é um medicamento chamado temozolomida. Alguns tumores de glioblastoma têm uma modificação específica em seu DNA (que contém o código genético dos organismos), e saber se uma pessoa tem essa modificação é útil para prever quanto tempo ela pode viver após o diagnóstico de câncer e como ela pode responder à temozolomida. A modificação é conhecida como "metilação da região promotora da MGMT" e também pode afetar a expressão da proteína MGMT (a maneira como o MGMT é produzido e modificado). Há muitas maneiras de descobrir se um tumor tem essa modificação. Nesta revisão, tentamos descobrir qual método é o melhor.
O que nós descobrimos
Foram identificados 32 estudos que compararam diferentes maneiras de medir se a região promotora da MGMT é metilada. Os três principais métodos foram chamados de 'reação em cadeia da polimerase (PCR) específica para metilação', 'pirossequenciamento' (ambos analisam diretamente a região promotora da MGMT) e 'imuno-histoquímica' (que analisa a expressão da proteína MGMT). Descobrimos que a PCR específica para metilação e o pirossequenciamento são melhores para prever a sobrevida global do que a imuno-histoquímica. A PCR específica para metilação e o pirossequenciamento podem ser realizados visando diferentes partes do DNA do tumor. O pirossequenciamento pode ser realizado usando diferentes limiares de corte para determinar se um tumor é metilado ou não metilado. Não identificamos evidências claras sobre quais são as melhores partes do DNA a serem atingidas ou quais são os melhores limiares de corte.
Quão confiáveis são os resultados dos estudos desta revisão?
A confiança das evidências foi considerada como 'moderada' para nossas conclusões sobre PCR específica de metilação, mas como 'baixa' para pirossequenciamento. Apesar de muitos estudos terem sido incluídos, todos eles analisaram diferentes variantes dos métodos, por isso é difícil descobrir exatamente qual variante é a melhor.
Quais são as implicações desta revisão?
Nossa revisão indica que tanto a PCR específica para metilação quanto o pirossequenciamento fornecem melhores predições de sobrevida em comparação com a imuno-histoquímica. Há alguma evidência de que o pirossequenciamento pode ser melhor do que a PCR específica para metilação na previsão da sobrevida global, dependendo dos alvos de DNA e dos limiares de corte utilizados. Documentamos os alvos de DNA mais frequentes usados em PCR e pirossequenciamento específicos de metilação. Além disso, descrevemos os limiares de corte usados no pirossequenciamento, embora não esteja claro qual deles é o melhor.
O pirossequenciamento e reação em cadeia da polimerase específica de metilação demonstraram maior valor prognósticos para sobrevida global em comparação com a imuno-histoquímica. Não há evidência sólidas disponíveis para tirar conclusões com confiança sobre os melhores sítios de CpG ou limiares para métodos quantitativos. A reação em cadeia da polimerase específica de metilação foi estudado principalmente para os sítios CpG 76 a 80 e 84 a 87 e o pirossequenciamento em sítios CpG variando de 72 a 95. Um limiar de 9% para os sítios CpG 74 a 78 demonstrou melhor desempenho em comparação com limiares mais altos de 28% ou 29% em dois dos três estudos de boa qualidade que realizaram tais comparações.
O glioblastoma é uma forma agressiva de câncer cerebral. Aproximadamente cinco a cada 100 pessoas com glioblastoma sobrevivem cinco anos após o diagnóstico. Os glioblastomas que apresentam uma modificação específica em seu DNA (chamada metilação) em uma região específica (o promotor da O 6 -metilguanina–DNA metiltransferase (MGMT)) respondem melhor ao tratamento com quimioterapia usando um medicamento chamado temozolomida.
Determinar qual o método para avaliar o estado de metilação da MGMT prevê melhor a sobrevida global em pessoas diagnosticadas com glioblastoma tratadas com temozolomida.
Pesquisamos nas bases de dados eletrônicas MEDLINE, Embase, BIOSIS, Web of Science Conference Proceedings Citation Index até dezembro de 2018. Além disso, checamos as listas de referências. Para os estudos de avaliação econômica, buscas adicionais foram realizadas no NHS Economic Evaluation Database (EED) até dezembro de 2014.
Os estudos elegíveis foram estudos longitudinais (coorte) em adultos com glioblastoma diagnosticado e tratados com temozolomida com/sem radioterapia/cirurgia. Os estudos deveriam ter relacionado o status MGMT no tecido tumoral (avaliado por um ou mais métodos) com a sobrevida global e apresentado os resultados como hazard ratios ou com informações suficientes (por exemplo, curvas de Kaplan-Meier) para que pudéssemos estimar os hazard ratios. Os revisores se concentraram principalmente em estudos comparando dois ou mais métodos. Apesar disso, também foram listados breves detalhes de artigos que examinaram um único método de medição da metilação do promotor MGMT. Adicionalmente, buscamos avaliações econômicas conduzidas juntamente com ensaios, estudos de modelagem e análises de custos.
Dois revisores independentes realizaram todas as etapas do processo de identificação e extração de dados para estudos de múltiplos métodos. Para avaliar o risco de viés e a aplicabilidade foi utilizada nossa própria versão modificada e ampliada da ferramenta QUality In Prognosis Studies (QUIPS). Comparamos diferentes técnicas, regiões promotoras exatas (sítios 5'-citosina-fosfato-guanina-3' (CpG)) e limiares para interpretação dentro de estudos examinando hazard ratios. Realizamos meta-análises para comparações dos três métodos mais comumente examinados (imuno-histoquímica, reação em cadeia da polimerase específica de metilação e pirossequenciamento), com razões de hazard ratios (RHR), usando um valor imputado da correlação entre os resultados com base nos mesmos indivíduos.
Foram incluídas 32 coortes independentes envolvendo 3.474 pessoas que compararam dois ou mais métodos. Encontramos evidências de que o reação em cadeia da polimerase específica de metilação (nos sítios CpG 76 a 80 e 84 a 87) possui um valor prognóstico superior à imuno-histoquímica para a proteína MGMT em diferentes limiares (RHR 1,31; intervalo de confiança (IC) de 95% 1,01 a 1,71). Também encontramos evidência de que o pirossequenciamento possui um valor prognóstico superior à imuno-histoquímica para a proteína MGMT em diferentes limiares (RHR 1,36; IC 95% 1,01 a 1,84). Os dados sugerem que o pirossequenciamento (principalmente nos sítios CpG 74 a 78, usando diferentes limiares) possui um leve incremento de valor prognóstico em comparação à reação em cadeia da polimerase específica de metilação nos sítios 76 a 80 e 84 a 87 (RHR 1,14; IC de 95% 0,87 a 1,48). Muitas variantes do pirossequenciamento foram comparadas embora não tenhamos observados mensagens fortes e consistentes nos resultados. É provável que a seleção de múltiplos sítios de CpG possua maior valor prognóstico do que a análise de um único sítio. Além disso, identificamos e resumimos 190 artigos que descreviam um único método para medir o estado de metilação do promotor MGMT.
Tradução do Cochrane Brazil (Aléxia Gabriela da Silva Vieira e Aline Rocha). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com