Revimos a literatura internacional de ensaios terapêuticos de intervenções psicossociais, farmacológicas (medicamentos) e de produtos naturais (suplementação dietética). Um total de 17 ensaios que satisfaziam os nossos critérios de inclusão foi identificado. Existe escassa evidência de efeito benéfico da psicoterapia individual baseada em terapia cognitivo-comportamental (CBT), terapia baseada na mentalização para adolescentes (MBT-A), psicoterapia de grupo, abordagens de avaliação melhoradas, abordagens de melhoria da compliance, intervenções familiares, ou intervenções de contacto à distância. Existe alguma evidência de eficácia da terapia comportamental dialética (DBT-A) para adolescentes. No entanto, poucos ensaios foram realizados e os que foram são geralmente pequenos, o que significa que possíveis efeitos benéficos de algumas destas terapias não podem ser excluídos.
Porque é esta revisão importante?
Os comportamentos auto-lesivos (CAL), que incluem a sobre-medicação/intoxicação intencional e a auto-lesão, são um importante problema em muitos países e estão fortemente relacionados com o suicídio. É, por isso, importante que sejam desenvolvidos tratamentos eficazes para pacientes com CAL. Tem havido um aumento na utilização de intervenções para CAL em crianças e adolescentes. É, assim, importante avaliar a sua eficácia.
Quem estará interessado nesta revisão?
Administradores hospitalares (por exemplo, prestadores de serviços), responsáveis pelas políticas de saúde e seguradoras de saúde, clínicos que trabalham com pacientes que fazem CAL, os próprios pacientes, e os seus familiares.
A que questões é que esta revisão pretende responder?
Esta revisão é uma atualização de uma Revisão Cochrane prévia de 2015 que encontrou reduzida evidência dos efeitos benéficos de intervenções para CAL em crianças e adolescentes. Esta revisão atualizada visa avaliar melhor a eficácia das intervenções para crianças e adolescentes com CAL com uma variedade de resultados mais ampla.
Que estudos foram incluídos nesta revisão?
Para serem incluídos na revisão, os estudos tiveram de ser ensaios controlados aleatorizados de tratamentos psicossociais ou farmacológicos para crianças e adolescentes até aos 18 anos de idade que se tinham recentemente envolvido em CAL.
O que é que a evidência desta revisão nos diz?
Tem havido surpreendentemente pouca investigação de tratamentos para CAL em crianças e adolescentes, apesar da dimensão deste problema em muitos países. Encontrámos efeitos positivos da DBT-A na repetição de CAL. Atualmente não existe evidência clara da eficácia de psicoterapia individual baseada em CBT, MBT-A, psicoterapia de grupo, abordagens de avaliação melhoradas, abordagens de melhoria da compliance, intervenções familiares, ou intervenções por contacto remoto na prevenção da repetição de CAL.
O que deveria acontecer a seguir?
Recomendamos mais estudos de DBT-A. Dada a evidência do seu benefício em adultos que se envolvem em CAL, a psicoterapia individual baseada em CBT também deve ser mais desenvolvida e avaliada em crianças e adolescentes. Dada a dimensão dos CAL em crianças e adolescentes, deve ser dada maior atenção ao desenvolvimento e avaliação de terapias específicas para esta população.
Traduzido por: Joana Botelho Vieira, Maria João Lobarinhas, Ricardo Manuel Delgado, Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental da Infância e da Adolescência, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal.