Porque é que é importante melhorar o rastreio da tuberculose pulmonar nas crianças?
A tuberculose é uma das principais causas de morte a nível mundial. A maioria das crianças que morrem de tuberculose nunca é diagnosticada ou tratada. O rastreio pode ser útil para identificar as crianças com possível tuberculose e encaminhá-las para exames complementares. Além disso, o rastreio pode ser utilizado para identificar crianças sem tuberculose, que devem ser consideradas para tratamento preventivo. Um resultado falso-positivo significa que as crianças podem ser submetidas a testes e tratamentos desnecessários e podem não receber tratamento preventivo atempadamente. Um resultado falso-negativo significa que a criança tem tuberculose, mas pode faltar um exame complementar para confirmar o diagnóstico.
Qual o objetivo desta revisão?
Determinar a precisão dos testes de rastreio da tuberculose pulmonar ativa em crianças de grupos de alto risco, tais como crianças com VIH e contactos próximos de pessoas com tuberculose.
O que foi estudado nesta revisão?
Os testes de rastreio foram: um sintoma de tuberculose; um ou mais de uma combinação de sintomas de tuberculose; o rastreio de quatro sintomas da Organização Mundial de Saúde (OMS) (um ou mais de tosse, febre, fraco aumento de peso ou contacto com tuberculose) em crianças com VIH, recomendado em cada consulta de cuidados de saúde; radiografia torácica (RX); e Xpert MTB/RIF.
Quais foram os principais resultados desta revisão?
Dezanove estudos avaliaram os seguintes testes de rastreio: um sintoma (15 estudos, 10.097 participantes); mais do que um sintoma (12 estudos, 29.889 participantes); RX (10 estudos, 7.146 participantes); e Xpert MTB/RIF (dois estudos, 787 participantes).
Rastreio de sintomas
Por cada 1.000 crianças rastreadas, se 50 tivessem tuberculose de acordo com a norma de referência:
Um ou mais dos seguintes sintomas: tosse, febre ou fraco aumento de peso nos contactos com tuberculose (padrão de referência composto [PRC]) (4 estudos)
- 339 seriam positivos, dos quais 294 (87%) não teriam tuberculose (falsos positivos).
-661 seriam positivos, dos quais 5 (1%) não teriam tuberculose (falsos negativos).
Um ou mais dos seguintes sintomas: tosse, febre ou diminuição da atividade lúdica em crianças com menos de cinco anos, em regime de internamento ou ambulatório (PRC) (3 estudos)
-Entre 251 e 636 seriam positivos, dos quais entre 219 e 598 (87% a 94%) não teriam tuberculose (falsos positivos).
-Entre 364 e 749 seriam negativos, dos quais 12 a 18 (2% a 3%) teriam tuberculose (falsos negativos).
Um ou mais dos seguintes sintomas: tosse, febre, fraco aumento de peso ou contacto próximo com tuberculose (rastreio de quatro sintomas da OMS) em crianças com VIH, em ambulatório (PRC) (2 estudos)
-88 seriam positivos, dos quais 57 (65%) não teriam tuberculose (falsos positivos).
-912 seriam negativos, dos quais 19 (2%) teriam tuberculose (falsos negativos).
RX anormal em contactos com tuberculose (PRC) (8 estudos)
-63 seriam positivos, dos quais 19 (30%) não teriam tuberculose (falsos positivos).
-937 seriam negativos, dos quais 6 (1%) teriam tuberculose (falsos negativos).
Xpert MTB/RIF em crianças, padrão de referência microbiológico (PRM) em regime de internamento ou ambulatório (2 estudos)
-Entre 31 e 69 seriam positivos, dos quais entre 9 e 19 (28% a 29%) não teriam tuberculose (falsos positivos).
-Entre 931 e 969 seriam negativos, dos quais 0 a 28 (0% a 3%) teriam tuberculose (falsos negativos).
Quão confiáveis são os resultados dos estudos nesta revisão?
O diagnóstico da tuberculose em crianças é difícil. Isto pode fazer com que os testes de rastreio pareçam mais ou menos exatos do que são na realidade. Relativamente ao Xpert MTB/RIF, existem poucos estudos e crianças testadas para se poder ter confiança nos resultados.
A quem se aplicam os resultados desta revisão?
Crianças com risco de tuberculose pulmonar. É provável que os resultados não se apliquem às crianças da população geral. Os estudos foram efetuados principalmente em países com uma elevada carga de tuberculose.
Quais são as implicações desta revisão?
Nas crianças que são contactos de tuberculose ou que vivem com o VIH, podem ser úteis testes de rastreio utilizando os sintomas ou a radiografia do tórax. No entanto, os sintomas e a radiografia do tórax faziam parte do padrão de referência, o que pode elevar falsamente a exatidão dos resultados. Precisamos urgentemente de melhores testes de despistagem da tuberculose nas crianças para identificar melhor as crianças que devem ser consideradas para tratamento preventivo da tuberculose e para aumentar a oportunidade de tratamento das crianças com tuberculose.
Quão atualizada se encontra esta revisão?
Até 14 de fevereiro de 2020.
Traduzido por: Traduzido por: Juan José Rachadell, Instituto de Saúde Baseada na Evidência (ISBE). Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.