Intervenções para a prevenção de distúrbios olfativos persistentes (disfunção para sentir cheiro) após a infecção por COVID-19

Por que isso é importante

A COVID-19 foi considerada como causadora de problemas com o sentido do olfato. Às vezes, esta disfunção trata-se de uma redução na capacidade de cheirar as coisas e, outras vezes, trata-se de uma perda completa do olfato. Muitas pessoas se recuperam em pouco tempo. Porém, em outras pessoas a disfunção pode durar semanas ou meses. Esta revisão avalia se existem tratamentos que as pessoas podem usar assim que perderam o olfato (dentro de quatro semanas após o início dos sintomas), para tentar impedir que isto se torne um problema de longo prazo.

Como identificamos e avaliamos as evidências

Fizemos buscas por todos os estudos relevantes na literatura médica para resumir os resultados. Também analisamos o grau de certeza da evidência, considerando aspectos como o tamanho dos estudos e como eles foram conduzidos. Com base nisso, classificamos as evidências como sendo de: certeza muito baixa, baixa, moderada ou alta.

O que encontramos

Encontramos cinco estudos que tinham sido concluídos.

Corticosteroides intranasais em comparação com nenhum tratamento

Três estudos analisaram este tratamento.

O spray nasal de corticosteroides pode resultar em pouca ou nenhuma diferença no sentido do olfato quando medido com testes específicos (ao invés de perguntar às pessoas sobre seu olfato).

O restante das evidências foram de certeza muito baixa. Portanto, não sabemos se um spray nasal de corticosteroide é melhor ou pior do que nenhum tratamento para:

- ajudar o olfato a voltar ao normal (ou se as pessoas sentem que seu olfato voltou ao normal, ou têm um olfato normal com base em testes específicos);

- fazer as pessoas sentirem que o olfato melhorou;

- causar qualquer efeito colateral indesejado.

Corticosteroides intranasais em gotas em comparação com nenhuma intervenção/placebo (tratamento de mentira)

Apenas um estudo avaliou esse tratamento.

Os corticosteroides intranasais em gotas podem não fazer diferença no número de pessoas que sentem que seu olfato se recuperou após 30 dias.

Encontramos outros estudos que estão sendo realizados. Porém, os resultados destes estudos ainda não estão disponíveis para serem incluídos nesta revisão.

O que isto significa

Não sabemos se o uso de um spray nasal de corticosteroide ou de corticosteroides nasais em gotas têm algum benefício para evitar a perda em longo prazo do olfato relacionado à COVID-19. Também não sabemos se o uso destes corticosteroides pode causar qualquer efeito prejudicial. Esta revisão é uma "revisão sistemática viva". Isto significa que continuaremos verificando se há novos estudos que possam ser relevantes, e que a revisão será continuamente atualizada quando quaisquer resultados extras estiverem disponíveis.

Até que ponto esta revisão está atualizada?

As evidências nesta Revisão Cochrane estão atualizadas até outubro de 2021.

Conclusão dos autores: 

As evidências disponíveis sobre a eficácia e os danos dos tratamentos para prevenir disfunções olfativas persistentes após a infecção pela COVID-19 são muito limitadas. No entanto, identificamos vários estudos em andamento nesta área. Como esta é uma revisão sistemática viva, atualizaremos os dados regularmente, à medida que novos resultados estiverem disponíveis.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A perda da função olfativa ficou reconhecida como um sintoma da infecção pela COVID-19, e a pandemia resultou em um grande número de pessoas com anormalidades em seu olfato. Para muitos, a condição é temporária e se resolve em duas a quatro semanas. No entanto, em uma minoria significativa, os sintomas persistem. Atualmente, não se sabe se a intervenção precoce com algum tipo de tratamento (como medicação ou treinamento olfativo) pode promover a recuperação e prevenir distúrbios olfativos persistentes. Esta é uma atualização da revisão de 2021, com a adição de quatro estudos.

Objetivos: 

1) Avaliar os benefícios e danos de qualquer intervenção versus nenhum tratamento para pessoas com disfunção olfativa aguda devido à infecção por COVID-19.

2) Manter as evidências atualizadas, utilizando uma abordagem de revisão sistemática viva.

Métodos de busca: 

O Especialista em Informação do Cochrane Ear, Nose and Throat Group, fez buscas no Registro do grupo; na Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL); Ovid MEDLINE; Ovid Embase; Web of Science; ClinicalTrials.gov; ICTRP e em fontes adicionais para encontrar estudos publicados e não publicados. A data da última busca foi 20 de outubro de 2021.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados (ECRs) em pessoas com distúrbios olfativos relacionados à COVID-19, que estavam presentes há menos de quatro semanas. Incluímos estudos que avaliaram qualquer intervenção em comparação com nenhum tratamento ou placebo.

Coleta dos dados e análises: 

Utilizamos os métodos padrão da Cochrane. Nossos principais desfechos foram a presença de função olfativa normal, efeitos adversos graves e alteração do olfato. Os desfechos secundários foram a prevalência de parosmia, alteração no paladar, qualidade de vida relacionada à doença e outros efeitos adversos (incluindo hemorragias nasais/secreção sanguinolenta). Usamos o GRADE para avaliar a certeza da evidência para cada desfecho.

Principais resultados: 

Incluímos cinco estudos com 691 participantes. Os estudos avaliaram as seguintes intervenções: sprays intranasais de corticosteroides, corticosteroides intranasais em gotas, instilação de solução salina hipertônica nasal e sulfato de zinco.

Spray de corticosteroide intranasal em comparação com nenhuma intervenção/placebo

Incluímos três estudos com 288 participantes que tiveram disfunções olfativas por menos de quatro semanas após a COVID-19.

Presença de função olfativa normal

A evidência é muito incerta sobre o efeito do spray intranasal de corticosteroides tanto na intervalo de confiança de IC 95% 0,85 a 1,68; 1 estudo, 100 participantes; testes psicofísicos(auto-avaliação risco relativo (RR) testes psicofísicos: RR 2,3, IC 95% 1,16 a 4,63; 1 estudo, 77 participantes; muito baixa certeza da evidência.

Mudança no sentido do olfato

Também é muito incerta a evidência sobre o efeito do spray intranasal de corticosteroides na alteraçãoauto-avaliada do sentido do olfato(em menos de 4 semanas: diferença média (DM) 0,5 pontos abaixo, IC 95% 1,38 abaixo a 0,38 acima; 1 estudo, 77 participantes; após mais de 4 semanas a 3 meses: DM 2,4 pontos mais alto, IC 95% 1,32 mais alto a 3,48 mais alto; 1 estudo, 100 participantes; muito baixa certeza da evidência, classificada em uma escala de 1 a 10, pontuação mais alta significa melhor função olfativa). Os corticosteroides intranasais podem fazer pouca ou nenhuma diferença na alteração do olfato quando avaliados com testes psicofísicos (DM 0,2 pontos, IC 95% 2,06 pontos abaixo a 2,06 pontos acima; 1 estudo, 77 participantes; baixa certeza da evidência, escala de 0 a 24 pontos, pontuações mais altas significam melhor função olfativa).

Efeitos adversos graves

Os autores de um estudo relataram que não ocorreram efeitos adversos, mas não especificaram previamente se tinham a intenção de coletar esses dados. Portanto, não temos certeza se eles foram sistematicamente procurados e identificados. Os dois estudos restantes não relataram efeitos adversos.

Corticosteroides intranasais em gotas em comparação com nenhuma intervenção/placebo

Incluímos um estudo com 248 participantes que tiveram disfunção olfativa por 15 dias ou menos após a COVID-19.

Presença de função olfativa normal

Os corticosteroides intranasais em gotas podem fazer pouca ou nenhuma diferença para a recuperação auto-avaliada entre mais de 4 semanas a 3 meses (RR 1,00, IC 95% 0,89 a 1,11; 1 estudo, 248 participantes; baixa certeza da evidência). Nenhum outro desfecho foi avaliado por este estudo.

Os dados sobre o uso de instilação de solução salina hipertônica nasal e o uso de sulfato de zinco para prevenir disfunções olfativas persistentes estão incluídos no texto completo da revisão.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Mayara Rodrigues Batista e Ana Carolina Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

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