Introdução
Muitas pessoas infectadas pela COVID-19 têm poucos ou nenhum sintoma. Entretanto, a COVID-19 pode tornar o sangue "viscoso", entupindo tanto os vasos sanguíneos pequenos quanto os grandes. Com o entupimento dos vasos, podem ocorrer ataques cardíacos, derrames ou coágulos nas pernas ou nos pulmões. Estes eventos podem ser fatais. Se as pessoas com diabetes, pressão alta ou problemas cardíacos pré-existentes pegarem COVID-19, elas correm um maior risco de desenvolver estas complicações.
Nossa pergunta de pesquisa
Queríamos descobrir, nos casos suspeitos ou confirmados de COVID-19:
- quais são os problemas pré-existentes mais comuns do coração e vasos sanguíneos (cardiovasculares) (por exemplo, diabetes, hipertensão arterial e obesidade)
- quais são as complicações mais comuns que afetam o coração e os vasos sanguíneos (por exemplo, batimentos cardíacos irregulares, coágulos sanguíneos, insuficiência cardíaca e derrame) em diferentes ambientes (na comunidade, em residências ou no hospital).
O que fizemos
Buscamos estudos publicados que relatassem problemas cardíacos e de vasos sanguíneos em pessoas com suspeita ou confirmação de COVID-19. Os estudos poderiam ser conduzidos usando qualquer metodologia e poderiam ser realizados em qualquer lugar. No entanto, eles tinham que ter sido avaliados por outros pesquisadores (ser revisados por pares), ser escritos em inglês e incluir pelo menos 100 participantes.
As evidências estão atualizadas até julho de 2020.
O que descobrimos
Encontramos 220 estudos que relataram informações relevantes. Entretanto, a qualidade das informações era, muitas vezes, baixa. Os estudos foram realizados principalmente na China e nos EUA. A maioria dos estudos só tinha informações sobre uma pequena minoria de casos que foram admitidos no hospital com COVID-19, muitas vezes na unidade de terapia intensiva.
Descobrimos que a pressão alta, o diabetes e as doenças cardíacas são muito comuns em pessoas hospitalizadas com COVID-19 e que estas condições estão associadas a um aumento do risco de morte. Mais de um terço dos pacientes com COVID-19 tinha um histórico de pressão alta; 23,5% tinha um problema pré-existente do coração ou vaso sanguíneo, 22,1% tinha diabetes e 21,6% tinha obesidade (muitas pessoas tinham mais de uma dessas condições).
A complicação cardiovascular mais comum em pessoas com COVID-19 foi o batimento cardíaco irregular (fibrilação atrial; 8,5%). Coágulos de sangue nas pernas (6,1%) ou pulmões (4,3%) e insuficiência cardíaca (6,8%) também foram comuns. Entretanto, as taxas relatadas podem estar subestimadas, visto que os estudos nem sempre realizaram investigações apropriadas. Os ataques cardíacos (1,7%) e derrames (1,2%) foram relatados com menos freqüência. Os exames de sangue frequentemente também sugeriram danos ao coração ou estresse.
Próximos passos
Os estudos se concentraram em pessoas hospitalizadas e com COVID-19 grave. Portanto, os resultados podem não se aplicar a pessoas que não sejam hospitalizadas e que têm COVID-19 mais leve. Os estudos eram muito diferentes uns dos outros e nem sempre relatavam os resultados da mesma forma ou utilizavam os métodos mais confiáveis. Assim, nossa confiança na precisão das estimativas de prevalência de doenças pré-existentes e de complicações cardiovasculares não é alta.
Planejamos atualizar esta revisão. Entretanto, no futuro, nos concentraremos apenas em evidências de maior qualidade para aumentar a força de nossos achados.
As comorbidades cardiometabólicas e as complicações cardiovasculares são frequentes em pessoas hospitalizadas com COVID-19. Planejamos atualizar esta revisão e realizar uma metanálise formal dos resultados com base em uma subamostra selecionada, mais homogênea, de estudos de alta certeza (qualidade).
Uma pequena minoria das pessoas que tem a doença coronavírus 2019 (COVID-19) desenvolve a forma grave da doença. A COVID-19 grave é caracterizada por inflamação, danos microvasculares e coagulopatia, o que pode levar a lesão miocárdica, tromboembolismo venoso (TEV) e eventos oclusivos arteriais. Pessoas com cardiopatias ou com fatores de risco para doenças cardiovasculares podem estar em maior risco de desenvolver COVID-19 grave quando infectadas.
Avaliar a prevalência de comorbidades cardiovasculares pré-existentes em pessoas com suspeita ou confirmação de COVID-19 em uma variedade de ambientes, como a comunidade, instituições de longa permanência e hospitais. Também avaliamos a natureza e a taxa de complicações cardiovasculares e eventos clínicos subseqüentes em pessoas com suspeita ou confirmação de COVID-19.
Realizamos buscas eletrônicas por estudos publicados entre dezembro de 2019 e 24 de julho de 2020 nas seguintes bases de dados: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), MEDLINE, Embase, covid-19.cochrane.org, ClinicalTrials.gov e EU Clinical Trial Register.
Incluímos estudos de coortes prospectivos e retrospectivos, estudos controlados antes e depois, estudos de caso-controle e transversais e ensaios clínicos randomizados (ECR). Analisamos os ensaios controlados como coortes, desconsiderando a alocação de tratamento. Incluímos apenas estudos revisados por pares com 100 ou mais participantes. Excluímos artigos não escritos em inglês ou publicados apenas como pré-prints.
Dois autores da revisão, trabalhando de forma independente, selecionaram os estudos e extraíram os dados. Como os estudos tinham diferenças nos delineamentos, nos resultados relatados e nas unidades de medida dos desfechos, realizamos uma síntese narrativa dos dados, sem realizar uma metanálise. Avaliamos criticamente todos os estudos incluídos usando os checklists do Joanna Briggs Institute (JBI) para estudos de prevalência e para séries de casos.
Incluímos 220 estudos. A maioria dos estudos foi conduzida na China (47,7%) e nos EUA (20,9%). Alguns foram realizados na Itália (9,5%). Muitos estudos eram retrospectivos (89,5%), mas três (1,4%) eram ECRs. Vinte estudos (9,1%) eram prospectivos.
Usando a ferramenta de avaliação crítica de estudos de prevalência da JBI, 75 estudos atingiram uma pontuação completa de 9, 57 estudos uma pontuação de 8, 31 estudos uma pontuação de 7, 5 estudos uma pontuação de 6, três estudos uma pontuação de 5 e um estudo uma pontuação de 3. Usando a ferramenta de avaliação crítica de séries de casos da JBI, 30 estudos receberam uma pontuação completa de 10, seis estudos uma pontuação de 9, 11 estudos uma pontuação de 8 e um estudo uma pontuação de 5.
Constatamos que a hipertensão (189 estudos, n = 174.414), a diabetes (197 estudos, n = 569.188) e a doença isquêmica do coração (94 estudos, n = 100.765) são altamente frequentes em pessoas hospitalizadas com COVID-19. As prevalências médias ponderadas foram de 36,1%, 22,1% e 10,5%, respectivamente. Além disso, estas condições estão associadas a um aumento do risco de morte. Em pacientes internados, os biomarcadores de estresse ou lesão cardíaca são frequentemente anormais. Além disso, encontramos uma importante incidência de uma ampla gama de complicações cardiovasculares, particularmente de arritmias (22 estudos, n = 13.115), insuficiência cardíaca (20 estudos, n = 29.317) e complicações trombóticas (tromboembolismo venoso) (16 estudos, n = 7.700). As incidências médias ponderadas foram de 9,3%, 6,8% e 7,4%, respectivamente .
Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com